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Filme Música Para Morrer de Amor monta trilha sonora de relações afetivas
Entre festivais e lançamentos nos serviços de streamings, muitos longas brasileiros precisaram se reconfigurar em um novo calendário de estreias. Um deles foi Música para morrer de amor, dirigido pelo paulista Rafael Gomes com distribuição da Vitrine Filmes, que entrou no circuito de drive-in de algumas cidades e está disponível em plataformas de vídeo sob demanda. Uma adaptação da peça Música para cortar os pulsos, escrita e também dirigida por Rafael, que ficou em cartaz e rodou o país por dez anos, o filme conta a história de Ricardo (Victor Mendes), Felipe (Caio Horowicz) e Isabela (Mayara Constantino), entre encontros e desencontros, tendo como coadjuvante a trilha sonora desses términos e recomeços de suas vidas. O elenco tem ainda nomes como Ícaro Silva e Denise Fraga.
O filme tem roteiro de Daniel Ribeiro, produtor de Hoje eu quero voltar sozinho (2014). Adentrando o universo do drama jovem-adulto, com um recorte bem delimitado de personagens LGBTs e jovens de classe média alta de São Paulo, Música para morrer de amor passou por festivais como o de Brasília, o Mix Brasil de Cultura da Diversidade e New Fest - Festival de Cinema LGBTQ%2b de Nova York. Usando a música sempre como personagem e mecanismo de narração, o longa conta com aparição de Milton Nascimento, Clarice Falcão, Fafá de Belém e outros. Já na trilha sonora, com 35 faixas, estão canções como Volta (O Terno), Partilhar (Rubel), Meu amor é teu (Marcelo Camelo) e Não me ame tanto (Karina Buhr).
2 perguntas - Rafael Gomes // roteirista e diretor
Como foi o desenvolvimento de um filme a partir de um trabalho já tão conhecido por você?
A peça surgiu de uma latência muito grande dos sentimentos que hoje estão no filme. Essa adolescência dos sentimentos, essa coisa das relações afetivas e as pessoas entenderem seu universo afetivo. Eu tinha 26 anos quando escrevi e tudo surgiu de uma vida emocional que eu estava vivendo naquela fase. Na transposição para o cinema, tem uma questão de linguagem muito importante. A peça tinha três monólogos intercalados, de histórias no passado, que se transformaram em situações em tempo presente no longa. No filme, eu expandi o universo, adicionei personagens, mudei contextos e canções. Inclusive, dos três protagonistas, dois já estavam desde a peça, Mayara e Victor. A entrada de Caio, que tinha uma relação com a peça em si como espectador, é propícia, assim como o personagem dele no filme. O elenco é muito grande, faz parte da teia de afetos.
A música atua quase como um personagem no filme. É um mecanismo para aprofundar contextos e interfere diretamente na narrativa. Inclusive, é materializada algumas vezes na presença de um músico. Como foi formulada a trilha e essa relação dos personagens com a canção?
Eu acho que a questão da música está na origem do projeto. A narrativa procura se mover como uma trilha sonora da vida dos personagens. Não são as mesmas da peça, porque essa fixação das obras no filme tem sentidos muito distintos de tocar o som no teatro. E a escolha foi natural, existindo a premissa do ecletismo pra esse guarda-chuva, de ópera a Leandro e Leonardo. Justamente tratando a música como onipresença na nossa vida emocional. Dessa vida na cidade, que está muito mediada pela tecnologia, dos encontros e desencontros do Instagram. Existe um recorte sociocultural muito dado ali. A presença de músicos vem de uma vontade de que a música fosse só sonora. A música está presente e em visualidade assim como a nossa vida. A gente queria que a música estivesse em outros lugares, personificada pelos músicos como existe na vida: em um karaokê, numa loja de instrumentos e em um festival.