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'É um filme atemporal', diz Cláudio Assis sobre Piedade, filme disponível online

O filme está disponível até a meia noite da sexta-feira (19).


Mais do que qualquer outro trabalho de Cláudio, Piedade é um filme com muitas falas, o que deixa espaço para os atores respirarem e inventarem em cima do texto. “Estava procurando uma atriz espanhola para o papel de Carminha, porque minha mãe tem essa origem espanhola. Mas Matheus conseguiu me pôr em contato com Fernanda Montenegro e, para a minha surpresa, ela falou: ‘Cláudio? Na hora!’", revela o diretor, aos risos. "Quando eu estava conversando com ela em uma livraria no Rio de Janeiro, por um acaso Cauã Reymond apareceu, e eu acabei chamando ele na mesma hora.  Foi maravilhoso! Matheus e Irandhir, não preciso falar nada. Quando faço alguma coisa, eles têm que estar juntos.”  
 
Em Piedade, num deslocamento de uma paisagem urbana, como em Amarelo manga (2002) e Febre do rato (2012),  somos apresentados a um vilarejo, um cinema e uma rede de relações que são trincheiras para esses personagens. A cidade é uma espécie de berço e o fim da utopia, certamente com seus contornos saudosistas. O longa evidencia também um ponto de culminação para esse cineasta que ajudou a fundar uma cena. É uma cristalização ou consolidação do cinema pernambucano como um arranjo de temáticas e estéticas. O que, ao passo que firma sua proliferação, pode ser perigoso por repetir convenções criadas pela própria cena, que, mais do que nunca, apresenta uma produção bastante diversa.

Ao fim do filme, é difícil não lembrar também do último roteiro de Hilton Lacerda, Fim de festa (2020), que de algum modo fala dessa fratura “ressacada”, saudosista e pessimista das utopias de seus personagens. “São coisas que são vividas por muitas pessoas e não são contadas. São coisas invisíveis para os olhos das pessoas”, comenta Assis. Mas é na desestabilização dessas utopias que mora os gestos de Cláudio ao fazer o filme e da realidade do próprio cinema nacional. “É uma loucura, porque quando eu comecei, a gente não tinha um concurso de curta-metragem do governo do estado, e a gente lutou muito pra fazer Baile perfumado. Foi uma loucura a gente fazer aquele filme. As coisas melhoraram, cresceram, e a gente evoluiu. Quando eu vejo agora desmoronando, tudo é uma loucura. A gente luta, luta, luta... e as coisas simplesmente vão embora. Mas não dá pra parar de lutar. A luta é constante enquanto houver vida.”
 
Destaques Festival de Pré-Estreias Online do Espaço Itaú de Cinema
SEGUNDA (22)
A febre, de Maya Da-Rin

QUARTA (24)
Querência, de Helvecio Marins Jr

QUINTA (25)
Pacarrete, de Allan Deberton
Liberté, de Albert Serra

SÁBADO (27)
Viver para cantar, de Johnny Mo

DOMINGO (28)
Mangueira em dois tempos, de Ana Maria Magalhães 

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