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Ceceu Valença

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O universo da música sempre fez parte da vida de Ceceu Valença, filho mais velho do cantor e compositor Alceu Valença. Depois de tocar bateria com o pai por 15 anos, se dedicar ao teatro e atuar em seriados da Globo e no filme A luneta do tempo (2014), Ceceu envereda para a carreira musical. Ele estreia com o disco Em noite de São João e assume os vocais do projeto paralelo Ceceu e Banda Maracajá, que faz releituras de compositores nordestinos com pitadas de rock. O mês de junho não foi escolhido por acaso. O repertório é voltado para clássiscos e faz tributos à Luiz Gonzaga e Dominguinhos. O álbum ainda traz participações de Alceu Valença e Geraldo Azevedo. "Estou focado em cantar. Encontrei o que estava faltando para completar a garrafa da minha alma", afirma Ceceu em entrevista ao Viver. 

Confira o roteiro de shows no Divirta-se

O artista radicado no Rio de Janeiro há quase 20 anos se dedicou às aulas de canto e agora sente segurança em cantar. "Descobri o Jorge Cardoso, o Dodi, e ele é um super professor, terapeuta comportamental, sabe como tirar leite de pedras. Se sou uma pedra ou não, não sei", comenta o artista. Para o projeto, Ceceu contou com o aval e incentivo do pai. 

Um show de estreia de Ceceu Valença e Banda Maracajá está marcado para o dia 7 de junho, na capital carioca. O grupo interpreta hits de Alceu Valença, Pepeu Gomes, Gilberto Gil, Dominguinhos e Zé Ramalho com arranjos mais pesados. 

Em noite de São João é composto por dez faixas e teve direção musical do maestro Fabio Valois. Entre os clássicos, Moça bonita (Geraldo Azevedo), Olha pro céu e Qui Nem Jiló (Luiza Gonzaga), Esperando na Janela (Targino Gondim), Só Quero um xodó (Dominguinhos), Petrolina – Juazeiro (Jorge de Altinho), gravada em dueto com Geraldo Azevedo e Xote das meninas em parceria com Alceu.

ENTREVISTA // CECEU VALENÇA

Como foi o processo de escolha do repertório de Em noites de São João?
Escolhi um repertório em que eu acreditasse. Esse projeto é para fazer shows no Brasil. Hoje em dia as pessoas têm uma tendência a ficarem mais satisfeitas em ouvir coisas que elas já conhecem. Você chega numa festa com 5 mil pessoas no interior e quer tocar um repertório autoral, elas vão embora. Vão virar as costas e ir embora. Tentei fazer um repertório focado para agradar o público, sem fugir da minha essência. São músicas que fizeram parte da minha história e passam por hits da cultura nordestina, que traz o DNA de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Dominguinhos. O forró de hoje está muito distorcido. Tem banda fuleira que se apropriou desse título que tem certo charme e moral, mas na verdade não é forró. A música tem uma linguagem e um fio condutor que precisa ser respeitado. Sou a favor de fazer fusões e mesclas, mas que o esqueleto principal seja mantido. A música pode passar por transformações, porque se não a gente ainda estaria batendo bombo como os primitivos.

Qual a expectativa de estrear um novo projeto, agora nos vocais?
Entrei na música por conta do meu pai. Vivi uma infância onde ele já estava despontando para o sucesso. Quando ele fez o primeiro disco, com Geraldo Azevedo, eu tinha 2 anos. Já vivo a música desde pequeno. Estou pensando muito em fazer a coisa para meu deleite pessoal. Não tenho expectativas. O que vier de bom vai ser lucro. Estou tratando muito naturalmente. Estou focado em fazer o que acredito e com verdade. Como estudei teatro, a principal ferramenta do ator é a verdade. A frase do método Stanislavski diz tudo: "como se fosse verdade". E faço analogia com a música. Um ator para ele passar verdade tem que acreditar naquilo. Vou fazer com a minha verdade, e a partir daí colher os frutos que eu mereça. Com meu pai também é assim. Ele é um artista muito verdadeiro. Fez seu nome da MPB e é um cara de admiro muito porque ele é artista 24h por dia e só faz o que acredita. Já passou por diversas situações que podiam ser oportunistas. Se ele achar que cantar com Paul Mccartney não vai ser verdadeiro, ele não vai. E assim conseguiu atravessar gerações mantendo a verdade nele. Isso é muito louvável. Hoje em dia, no mercado tem que fazer concessões e esquemazinhos. Ele optou por esse caminho e vou seguir o mesmo.

Seu pai incentivou sua carreira musical? Como ele ajudou?
Ele sempre me achou afinado. Ele era avesso à aula de canto. Achava que não devia fazer. Só praticando chegaria lá. Descobri o Jorge Cardoso, o Dodi, e ele é um super professor, terapeuta comportamental, sabe como tirar leite de pedras. Se sou uma pedra ou não, não sei (risos). Meu pai é muito visionário, mas nessa, ele errou. Talvez se não tivesse aulas estivesse muito embrionário. Ele conseguiu me melhorar em pouco tempo. E ao longo da carreira vou me aprimorando. Ele está curujão e diz que ouve o disco direto. Foi para o estúdio comigo, me deu macetes de interpretação, cantou. Ele tem um senso estético muito apurado e é muito critico. Com a crítica positiva dele já estou feliz, imunizado e seguro.

Como pretende xxxxxxxxxxxx?
Quero começar a compor, pois não sou compositor. A princípio quero investir em cantar. Vou tentar mergulhar nisso de fazer letra. O artista ganha pontos comigo quando a obra é dele. Não estou desmerecendo os interpretes, como Elba Ramalho e Elis Regina. Mas tenho que compensar essa deficiência. Quero atingir as pessoas com minha voz, presentear o ouvinte com a arte. Quero que as pessoas se emocionem com minha voz e interpretação. 

O sobrenome abre portas e facilita o processo?
Facilita sim. Mas a cobrança é grande. É uma faca de dois gumes. Se eu não render, não terá quem me deixe. Para criticar basta um segundo, para fazer elogio demora. Para pegar na ferida todo mundo. 

Como surgiu a ideia da banda?
Comecei como baterista da Maracajá, projeto que surgiu com a ajuda do meu irmão Juliano Valença em 2015. Escolhemos fazer releituras de compositores nordestinos, com um som novo e a pegada do rock. Sempre fui fã de Iron Maiden e AC/DC, e fiquei encantado com o som mais pesado, quis seguir nesse caminho. Já tivemos vários vocalistas, como Márcio Bragança e Fábio Lago. Resolvi estudar canto e tive mais segurança para assumir os vocais. Fizemos o primeiro ensaio e foi maravilhoso. Agora eu canto e faço a direção musical.

Como foi a experiência como ator? Pretende parar de atuar?
Estou focado em cantar. Encontrei a maior expressão artística pra mim. Encontrei o que estava faltando para completar a garrafa da minha alma. Ainda faço trabalhos de ator. Antes tinha que fazer tudo o que me submetessem. Mas não vou fazer nada que eu não queira. O Rio de Janeiro é muito voltado para os grandes veículos de comunicação. A Globo e a Record estão lá. A única coisa que sobra, se não estiver nessas empresas, é fazer teatro. E conseguir patrocínio e mobilizar público é complicado. A indústria da TV domina. Tive que me submeter a coisas que não queria só para defender um cachê. E se você não for, tem um milhão de pessoas querendo o lugar. Hoje só faço o que estou a fim. Na bateria só farei trabalhos que me interessam. E vou atuar onde acreditar e achar que devo. Como na música. Também vou cantar onde encontrar minha verdade. Não vou fazer nada para comercializar. Está muito forte essa coisa do dinheiro. A sociedade só fala nisso. É um assunto que me incomoda. Antigamente era mais humana essa coisa do ganhar dinheiro. As pessoas pensam que quem tem destaque na mídia deve estar cheio do dinheiro.

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