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Comédia espírita cearense aborda doação de órgãos e transfobia

Sandro (André Bankoff) e Isadora (Aramis Trindade)

O filme começa acompanhando a trajetória de dois personagens bastante distintos. Isadora, interpretada pelo pernambucano Aramis Trindade, é uma travesti dona de um salão de beleza famoso na cidade, que é atropelada por um caminhão. Sandro (André Bankoff) é um rapaz rico, galante e cheio de preconceitos, que sofre um ataque de coração em plena noite de Réveillon. Para escapar da morte, precisa de um transplante de coração com urgência. E a ajuda acaba vindo de onde ele menos espera. A doação cria um elo espiritual entre Sandro e Isadora, que ainda se sente presa ao mundo físico e passa a acompanhar a rotina do empresário de perto.

Foto: Jarrod Bryant/Divulgação

Como o Brasil assistiu a ascensão de várias comédias de sucesso nos últimos anos, às vezes pode parecer que o longa quer repetir o sucesso de fórmulas de produções da Globo Filmes. Mas a regionalidade é o tom que diferencia Bate coração. O humor cearense, como já é do conhecimento geral, é muito singular e ajuda o desenvolvimento dessa produção. A mensagem final é de respeito, igualdade e, principalmente, de estímulo à doação de órgãos.

Foto: Jarrod Bryant/Divulgação

A comédia foi um gênero em alta nesta década. Existiu alguma influência dessas produções em Bate coração?
Existe uma estética de comédia no Brasil que não vem apenas do Rio ou São Paulo. Tem o cinema nordestino, com Cine Holliúdy, por exemplo. Habita ali um certo realismo fantástico. Eu me inspirei muito no Pedro Almodóvar no uso das cores, com situações do cotidiano que podem ser absurdas. Também me inspirei num filme do Roman Polanski, O deus da carnificina, que coloca vida, cotidiano, conflitos, diferenças e opiniões na tela. Trouxe tudo isso com um discurso mais simples.

O filme é leve e aparentemente pode ser consumido pela “família toda”. É por isso que ele não se aprofunda em questões de identidade de gênero, por exemplo?
Queríamos trabalhar com textos de camadas fáceis, que não parassem tanto em algumas questões. Mas existe uma vontade de explorar as diversas formas de família. A travesti é casada com uma mulher e teve um filho fora do casamento. Quando o filho da Isadora entra em cena, ele forma uma nova família com a viúva. Eu não sei bem se ele retrata as coisas de uma forma “leve”, mas sim de uma forma simples. E existem coisas que quem complica são as pessoas. Temos uma visão depurada sobre o universo. A questão da transfobia, por exemplo, também é simbólica e cultural antes de ser diretamente violenta. Está posto ali.

Você teve algum receio em lançar esse filme diante de uma onda conservadora?
Não. As críticas vão vir, pois tocamos em um universo muito sensível. Acredito no seguinte: toda crítica tem lugar de fala, experiência e legitimidade, desde que não tenha violência. Não concordo quando a crítica quer destruir o outro. O lugar do cinema e da arte é justamente provocar essas reações. Mas também acredito que Bate coração possa desarmar esses “locais” mais bélicos. Estamos passando por um momento que as pessoas estão doentes de egoísmo, querendo ter razão em tudo. E o filme vai desarmando isso ao mostrar que é preciso olhar para o outro com humanidade.

Assista ao trailer:

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