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Livro elenca praças de Burle Marx, paisagista que embelezou o Recife

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Praça de Casa Forte, o primeiro projeto paisagístico de Burle Marx no Recife. Foto: Sérgio Lôbo/Divulgação
"No final dos anos 1960, Ronnie Von gravou uma música que falava assim: 'A mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, os mesmos jardins'… Toda vez que eu vinha aqui e essa música tocava no rádio, eu tomava todas". O relato do operador de máquinas Genilson Fabiano versa sobre a sua relação com a Praça de Casa Forte, um dos primeiros jardins projetados pelo paisagista Roberto Burle Marx, em 1935.

O depoimento está presente no livro Burle Marx e o Recife: Um passeio pelos jardins da cidade, editado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). A publicação celebra os 110 anos de nascimento do jardineiro da América, como ficou conhecido, e será lançada hoje, às 19h, no restaurante O Pátio Café & Cozinha (Av. Rui Barbosa, 141, Graças). Às 20h, a Orquestra Vitória-Régia se apresenta sob a regência do maestro Parrô Mello.

Ao chegar na Praça de Casa Forte, o paisagista propôs a criação de um espaço amplo com águas, uma sugestão inusitada inspirada num Jardim Botânico inglês. Do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cidade onde passou sua infância, Burle Marx trouxe a vitória-régia, que se tornou marca do espaço em Casa Forte. As informações foram sistematizadas no livro pelo servidor público e músico Maurício Cavalcanti, em seu estudo sobre praças e parques recifenses, e conta com textos de Ana Rita Sá Carneiro, Joelmir Marques da Silva, Lúcia Maria de S. C. Veras e Onilda Gomes Bezerra e fotos de Sérgio Lôbo.

A obra reúne datas dos 15 projetos paisagísticos de Burle Marx no Recife que ganharam o título de Jardins Histórios, além dos endereços, histórias, curiosidades e depoimentos de frequentadores. "Burle Marx já é bastante estudado nas universidades por arquitetos e urbanistas, mas eu sentia falta de algo que tocasse a população. Queria mostrar como esses espaços têm importância para a construção de um sentimento coletivo de local, convivência, lazer e descanso. Então optei por reunir muitas imagens e pouco texto, organizando as informações por importância histórica, relevância para a comunidade e estado de conservação", explica Maurício.


Estão presentes na publicação, organizadas em capítulos, as praças de Casa Forte, Euclides da Cunha, Derby, Várzea, Arsenal, Chora Menino, Largo da Paz, Maciel Pinheiro, República, Jardim do P a l á c i o d a s Princesas, Entroncamento, Largo das Cinco Pontas, Dezessete e Jardim da Capela da Jaqueira e Ministro Salgado Filho. "Queria estimular as pessoas a se apropriar e cuidar do local público. Muitos recifenses viajam para o exterior e voltam admirados pela beleza paisagística, e aqui a gente nem percebe o que está ao nosso redor. Dificilmente a gente tem essa relação com nossas praças e parques ”, completa.

Com mãe recifense e pai alemão, Burle Marx teve a capital pernambucana como escola e se dividiu entre a cidade, o Rio de Janeiro e a Alemanha, sempre buscando uma harmonia entre os bancos serpenteados, as fontes, a vegetação e a flora de cada local. A importância do Recife foi revelada em discurso proferido pelo paisagista no Seminário de Tropicologia, realizado pela Fundação Joaquim Nabuco, em 1985:

"Minha experiência no Recife foi fundamental para o rumo que, posteriormente, tomou minha atividade profissional. Hoje, depois de 50 anos, sinto que essas experiências foram válidas e determinaram minha maneira de construir jardins. Sobretudo elas ensinaram-me o valor de observar, de ver. Não tenho dúvidas que em Pernambuco começou tudo".