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Flor de Cactus, primeira banda de Lenine e Zeh Rocha, lança álbum inédito após 38 anos

Banda Flor de Cactus, década de 70. Em destaque, Lenine no violão de camiseta branca

Em 1973, três amigos se reuniram para montar uma banda com o objetivo de participar do antigo Festival de Música do Colégio de Aplicação do Recife. Assim os pernambucanos Zeh Rocha, André Lôbo e Plínio Santos iniciavam as atividades da Flor de Cactus, grupo contemporâneo ao Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda e Concerto Viola. Essas bandas tinham suas características singulares, mas um traço em comum: davam vida ao surgimento de cancioneiro nordestino moderno, levantando as bandeiras de ritmos como maracatu, ciranda, baião, forró, caboclinho e frevo, mas sem se desligar do global.

O músico Lenine, então anônimo, conheceu a Flor de Cactus durante uma apresentação na Escola de Engenharia da UFPE, em 1976. Ele foi até o camarim e compôs ali mesmo, ao lado de Rocha, a canção Prova de fogo - que futuramente estaria em seu álbum de estreia junto com Lula Queiroga. O estudante entrou para a banda e, no final de 1979, foi o vocalista do primeiro e único registro do grupo: um compacto com as canções Festejos (Zé Rocha e André Lobo) e Giração (Lenine).

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“Era impossível gravar um disco naquela época sem ter alguém por trás com dinheiro. Só conseguimos gravar esse compacto simples por conta de um estúdio que o Zé da Flauta montou no improviso”, relembra Caca Barretto (baixo), que entrou para a banda junto com Mário Lôbo (piano) e Sérgio Campello (bateria, 1955 - 2016). A banda se dissolveu em 1980, desestimulada pela falta de oportunidades no Recife, cada um trilhando seu caminho. Lenine, por exemplo, foi tentar carreira no Rio de Janeiro.

Assim, a Flor de Cactus nunca chegou a lançar singles ou álbuns, sendo reconhecida pelos apreciadores da história musical pernambucana de forma quase que enciclopédica, como uma espécie de “célula embrionária” que daria início à trajetória de nomes exitosos. É por isso que o disco lançado em abril deste ano foi um acontecimento inédito, rompendo o hiato de 38 anos com canções que passaram esse todo tempo engavetadas.

Leo Araújo, Rafael Aragão, George Aragão, Bruno Simpson e Caca Barreto são alguns integrantes da atual formação da Flor de Cactus

O evento de lançamento de Brincando com o tempo (Top Disc) será nesta quarta-feira (8), a partir das 20h, na loja Passa Disco, localizada no Espinheiro. Haverá um show da atual formação, composta por André Lobo (violão), Caca Barretto (baixo), Bruno Simpson (voz), Fred Andrade (guitarra e viola), George Aragão (teclados) e Ricardo Fraga (bateria). A apresentação contará com participações de Lula Queiroga (voz), Tostão Queiroga (bateria) e Sérgio Andrade (da Banda de Pau e Corda, no vocal). A loja ainda vai comportar uma exposição de cartazes antigos, releases da época e fotos inéditas de uma sessão de fotos para o compacto de 1979.

PROPOSTA
“Decidimos gravar esse disco em 2004, um tempo depois que o movimento manguebeat trouxe os olhos do mundo para Pernambuco”, conta Cacá. “Assim como aquelas novas bandas, já tínhamos essa proposta de mistura de ritmos regionais como o maracatu com rock progressivo, então aproveitamos a oportunidade para lançar nosso trabalho. Os arranjos são totalmente originais da época”. As composições são todas de André lôbo, Zeh Rocha e Lenine, exceto as mais novas Maracatu bonito (Fred Andrade) e Diário de Nassau (Bruno Simpson).

As gravações no estúdio MuzaK e Carranca terminaram em 2008, mas o lançamento só foi possível 11 anos depois devido ao patrocínio da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Brincando com o tempo, título apropriado para um álbum que esperou tanto para sair, ainda conta com participações de Lenine (voz), Cesar Michiles (flauta), Cláudio Rabeca, Zeh Rocha (violão) e Gennaro (acordeon).

Capa do álbum

As letras setentistas exaltam do Recife, sua história, pessoas e ruas. Passam também pelo folclore. A segunda faixa, Boi da boa hora, traz a narrativa do Bumba Meu Boi de Afogados. Diário de Nassau é uma canção épica que conta a trajetória do conde holandês ao Recife e o sentimento que desenvolveu pela terra. Regresso e Festejo levam o ouvinte para as bandas do interior, enquanto Feirante descreve os elementos característicos das feiras de rua.

O encarte do disco conta com uma linha do tempo da banda, ilustrado por fotos de diferentes épocas e xilogravuras. Também tem uma dedicatória à memória do percussionista Sérgio Campello, que faleceu há três anos. “Por sua inconfundível personalidade musical e inventividade, que marcaram significativamente a identidade sonora do Flor de Cactus”. É um trecho que explicita o alicerce que tornou possível um retorno após tantos anos: a amizade.

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