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Show de banda russa Pussy Riot no Recife será réplica ao conservadorismo

Popularidade do grupo veio pela essa coragem de usar a arte para lutar por direitos de mulheres e de LGBTs na Rússia. Foto: Rick Kern/WireImage

O ato trouxe o quarteto de volta às manchetes mundiais pelo mesmo motivo pelo qual elas se tornaram famosas, com intervenções artísticas sem hora ou lugar marcados para acontecer. Em 2012, fizeram um concerto improvisado e não autorizado em frente à Catedral de Moscou, incluindo uma “oração punk” contra Putin. Foram condenadas por “vandalismo e intolerância religiosa”, conquistando admiração de setores do Ocidente e recebendo apoio de nomes como a cantora Madonna. Elas cumpriram penas de dois anos de prisão e, após saírem, relataram tratamentos abusivos na cadeia.

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A sonoridade do grupo não difere muito das bandas feministas de punk rock do movimento "riot grrrl", iniciado na década de 1990. Sendo assim, a popularidade veio mesmo por essa coragem de usar a arte para lutar por direitos de mulheres e LGBTs na ex-União Soviética, que ainda resiste ao liberalismo moral das potências ocidentais. Justamente por isso, é irônico que Pussy Riot venha pela primeira vez ao Brasil três meses depois da guinada conservadora liderada por Jair Bolsonaro. Serão apenas dois shows: no Recife, dentro da programação do Abril Pro Rock desta sexta-feira (19), e em São Paulo, no sábado. Como elas não costumam se apresentar com formação completa, quem virá ao país é Nadya Tolokonnikova, ao lado de outros membros do coletivo.

O produtor cultural pernambucano Paulo André Moraes, responsável pelo APR há 27 anos, conseguiu fechar o show com o grupo em outubro do ano passado. “É a banda feminina engajada mais popular na atualidade. Uma atração perfeita para o histórico de um festival independente. Estamos fazendo uma leitura do momento social, que é o papel do curador de arte. Casou perfeitamente com a discussão que queríamos levantar neste ano.”

A vinda da banda russa acabou servindo de gancho para uma noite totalmente composta por atrações femininas locais e nacionais, que inclusive fogem do rótulo do rock mais “pesado” que o festival vinha abraçando nos últimos anos. São elas, em ordem de apresentação: Coco de Umbigada (PE), Demonia (RN), 808 Crew (PE), Arrete (PE), Sinta A Liga Crew (PB), Pussy Riot (Rússia) e Letrux (RJ), um dos maiores nomes da atual música pop brasileira nacional.

A carioca Letrux, um dos novos fenômenos da música popular nacional. Foto: Bruno Machado/Divulgação

A iniciativa de promover o “empoderamento feminino” causou certa polêmica nas redes sociais. “Foi-se o tempo que esse festival era coisa de rock” e “Não vou para o APR, porque ele deixou de ser um festival para ser palanque político” são alguns dos comentários. Paulo André rebate: “O público do rock pesado, que terá enfoque no sábado, ainda é responsável por trazer o Nordeste inteiro ao festival. É o nosso público fiel. Mas, de fato, o mundo não é mais o mesmo. Não dava para ficar com aquela mesma proposta da geração manguebeat para sempre. Isso que as pessoas precisam entender.”

Debate em tempos de crise

Capa do livro Um Guia Pussy Riot Para o Ativismo. Foto: Mocup/Divulgação

Tradutora do livro e pesquisadora Jamille Pinheiro Dia. Foto: Tereza Maciel/Divulgação

“É muito oportuno que Um guia Pussy Riot para o ativismo esteja sendo publicado e que a Nadya e o Pussy Riot estejam vindo ao Brasil nesse momento. Precisamos qualificar, nacional e internacionalmente, nossas perspectivas sobre o perigo dos discursos autoritários. Além disso, a explosão feminista que tem ecoado com cada vez mais força em nosso país, mesmo com a ascensão do reacionarismo, só tem a ganhar com a presença delas”, diz Jamille.

“Algo que a Nadya traz de bastante peculiar e potente para esse debate é a ideia de que é preciso desconfiar e mesmo ‘tirar onda’ da voz patriarcal, mostrando que o humor é uma das melhores formas de solapá-la. Um exemplo de suas ações políticas relatadas no livro foi a invasão que ela e seus colegas fizeram à Casa Branca de Moscou, ocasião em que projetaram um gigante Jolly Roger, aquela caveira das bandeiras piratas, na fachada do prédio. Essa vocação que combina performance artística e protesto com humor transparece na escrita do livro”, continua.

Serviço do show
Festival Abril pro Rock 2019
Quando: sexta-feira (19) e sábado (20), a partir das 20h
Onde: Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado)
Quanto: R$ 120, R$ 60 (meia) e R$ 70 (social %2b 1 kg de alimento não-perecível), à venda no site sympla e na loja Disco de Ouro.

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