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Série pernambucana revela atual extermínio dos jumentos no Sertão nordestino
Na Contramão, exibida na TV Pernambuco, percorreu mais de seis mil quilômetros ouvindo especialistas, produtores, artistas, ativistas e agricultores sertanejos
A atração é dividida em três episódios de 26 minutos, indo ao ar em sequência até a sexta-feira, sempre às 20h15. A produção é uma parceria entre a Rima Cultural com a REC Produtores e surgiu através da chamada pública Arranjos Regionais, realizada pela Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), por meio Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Com direção de Marcelo Pinheiro e fotografia de Ivanildo Machado, as filmagens foram realizadas em cinco estados nordestinos: Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Bahia. Foram percorridos mais de seis mil quilômetros para responder um único questionamento: qual o lugar do jegue no Sertão contemporâneo?
Antes de começar a esmiuçar o atual cenário, a série traça uma breve trajetória histórica do animal, originário de regiões da África e do Oriente Médio. O jumento chegou no Nordeste brasileiro através de embarcações portuguesas e foi levado ao semiárido através de um decreto da Coroa Portuguesa, que proibia a criação de gado em faixas de terras de 80 quilômetros, da costa litorânea até o interior. A partir daí, o asno se tornou um personagem vital para a construção do Sertão, como Gonzaga explicitou em sua poesia.
“A vontade de realizar um documentário com essa temática partiu de observações pessoais”, explica Rafael Marroquim, que assina o roteiro ao lado de Ricardo Mello. “Víamos carcaças desses animais nas estradas muito frequentemente, ao mesmo tempo em que percebemos um crescimento na rota das motocicletas no Sertão e uma mecanização da agricultura do semiárido. Queríamos desvendar o que essa mudança trouxe, tendo como foco a situação do jumento nordestino."
Ao ouvir especialistas, produtores, ativistas, artistas (incluindo Maciel Melo e Santanna) e agricultores que ainda fazem uso do jegue no campo, a apuração jornalística da equipe proporcionou um produto audiovisual que desvenda um universo bastante particular e de múltiplas nuances. A cada cidade visitada e fonte ouvida, o que seria uma série sobre uma temática um tanto "inusitada" vai se transformando em um road movie quase que investigativo sobre os atuais desafios do jumento. A narração de Cláudio Ferrario dá um tom poético à obra, assim como os diversos takes que mostram carcaças em decomposição e jegues esqueléticos que vagam pelo perímetro urbano.
“Fizemos uma pesquisa de seis meses antes das filmagens. Já sabíamos que estávamos falando de um Sertão arcaico para o Sertão urbano e pensávamos que o grande vilão seria a motocicleta. Na prática, no entanto, todo dia descobrimos um elemento novo do que está ocorrendo com o jegue”, conta o diretor Marcelo Pinheiro, que apelidou a série de Réquiem para o jumento - um comparativo com o longa-metragem Réquiem para um sonho (2000), do diretor norte-americano Darren Aronofsky.
O que já foi símbolo, hoje muitos tratam como praga
Além dessa realidade das estradas, já abordada pela mídia, a série traz algumas outras questões menos visíveis e mais intrigantes e também soluções. O Ministério Público do Rio Grande do Norte, por exemplo, tentou incentivar o consumo da carne do bicho, despertando um choque cultural e causando revolta. “Também existe o abate clandestino e o tráfico internacional de peles, sobretudo por conta da fabricação de um medicamento chinês que é muito usado pela população oriental”, diz Marcelo Pinheiro.
“Uma das conclusões que tiramos é que, em 10 anos, o jumento não será um animal tão abundante no Sertão. As soluções que estão tentando promover não parecem ser rápidas o suficiente para reverter essa situação”, reflete o diretor, justificando a necessidade de uma série que dê visibilidade para essa temática. Como também disse Luiz Gonzaga, ainda na canção antológica em homenagem ao bicho, “o jumento é bom, o homem é mal”.
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