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[Crítica] Novo Papillon revisita, de maneira competente, o clássico da década de 1970
Remake tem como protagonistas Charlie Hunnam e Rami Malek

Em cartaz a partir desta quinta-feira, o filme Papillon, releitura da produção homônima de 1973, poderia ser facilmente encarado como uma obra dispensável, considerando o competente predecessor. Mas a nova versão vai além de reencenar, literalmente, o longa-metragem estrelado por Steve McQueen como personagem-título e dirigido por Franklin J. Schaffner.
O Papillon que chega agora aos cinemas tem como protagonistas Charlie Hunnam (Rei Arthur: A lenda da espada) e Rami Malek (da série Mr. Robot), esse último no papel vivido originalmente por Dustin Hoffman. A direção é de Michael Noer, cuja cinegrafia é predominada por documentários, enquanto o roteiro é de Aaron Guzikowski, do ótimo Os suspeitos (2013).
Como a história é inspirada em acontecimentos reais, o cerne é o mesmo nesta mais recente adaptação: Papillon (Hunnam) é um trambiqueiro francês acusado injustamente de assassinato e que acaba condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, colônia penal na Guiana Francesa. Ainda na viagem de barco a caminho do local, ele conhece Louis Dega (Malek), rico falsificador de arte, e oferece proteção a ele em troca de dinheiro. O plano é juntar recursos que viabilizem a fuga do presídio.
Henri Charrière, apelidado Papillon (borboleta, em francês) em razão de uma tatuagem, tornou-se famoso ao publicar, em 1969, um livro de memórias sobre a estadia e fuga da Ilha do Diabo, complexo prisional que a França mantinha na Guiana. Poucos anos após a publicação, a obra ganhou adaptação cinematográfica.
A grande mudança em relação ao longa original é a existência de um prólogo que mostra um pouco da vida de Papillon antes de ser preso. Vemos sua relação como a namorada Nenette (Eve Hewson) e os planos do casal para que ele pare de praticar roubos e golpes e, junto com ela, inicie uma nova vida. Essa pequena sequência ajuda a estabelecer empatia com o protagonista e também ajuda na construção do personagem.
As comparações entre os dois filmes são inevitáveis, mas também pouco proveitosas. Ainda que a nova dupla de protagonistas seja formada por dois atores menos arrojados do que McQueen e Hoffman, Hunnam está numa das melhores atuações da carreira e Malek também se sai muito bem, não deixando a desejar em nenhum aspecto. Com ótima química, os dois entregam uma amizade convincente. No mais, o remake tem a favor uma produção mais moderna e competente.
Em suma, este novo Papillon, tal como o antigo, é um bom entretenimento, com personagens carismáticos e trama empolgante. Se pode parecer dispensável, é válido como forma de apresentar a história para audiências que não assistiram ao original. O remake, no entanto, perde a oportunidade de entregar uma produção falada em francês, como deveria ser uma narrativa protagonizada por franceses. E, também, poderia ser a chance de revisitar a história à luz de novos fatos, como a descoberta de que o livro que deu origem o filme de 1973 é, na verdade, uma fraude.
René Belbenoît, intelectual que também esteve preso na Ilha do Diabo e liderou uma fuga do local, em 1935, na companhia de outros detentos, entre eles Charrière. Depois de publicar a história no livro A Ilha do Diabo, obra ganhadora do Prêmio Pullitzer de 1938, Belbenoît adaptou sua jornada para um roteiro cinematográfico e deixou o manuscrito sob os cuidados de Belbenoît, que se apossou do material, fez pequenas modificações e publicou no livro que viria a ser levado para a tela grande.
Mais interessante do que perpetuar uma história provavelmente não tão acurada e vinda de um narrador questionável, seria talvez dar voz ao verdadeiro Papillon e creditar, ainda que tardiamente, o autor por trás dos feitos impressionantes na Ilha do Diabo. Mas, de todo jeito, precisos ou não, os acontecimentos mostrados ao longo da projeção despertam inevitável comoção, em uma jornada permeada por sofrimento e, também, uma boa dose de esperança.