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No aniversário do Recife, artistas propõem como a cidade poderia ser retratada pela arte em vários formatos
Capital pernambucana completa 481 anos neste 12 de março
Provocados pela reportagem, artistas de várias linguagens imaginaram um Recife particular para ser retratado pela ficção. O escritor Raimundo Carrero frisou o viés boêmio do município, hoje “um tanto enfraquecido” (será?). O artista plástico Romero de Andrade Lima ressaltou a beleza da cidade, relembrando o afeto com o qual a “cidade-musa” tem sido retratada por pintores desde o tempo do holandês Frans Post (1612-1680). Já o cantor Silvério Pessoa resgatou uma composição própria para descrever o “ruge-ruge” recifense, que ganharia um ar pós-apocalíptico no filme imaginado pela cineasta Adelina Pontual.
Nas letras
O RECIFE de Raimundo Carrero, escritor
O Recife reclama uma noite mais ampla e mais aberta porque anda muito fechada a grupos e tribos, sem abertura para a diversidade boêmia, fechando-se em círculos e situações. Bares noturnos reclamam vida solta, com personagens e movimentos. Com o desaparecimento do Bairro do Recife, e dos pontos de encontros na Boa Vista, Santo Antônio e São José, o Recife perdeu o som da madrugada, seus encantos e seus mistérios. Entre as décadas de 1960 e 1980, a vida noturna encolheu. Por este tempo era possível entrar na noite com um chope no Savoy, alguns uísques no Canavial, com direito a uma noite com música e cantores nacionais na Boite Rosa Amarela, que funcionava na cobertura do Jornal do Commercio, esticando o amanhecer para namoros com pouca roupa nas praias do Pina, Boa Viagem ou, em caminho inverso nas ladeiras de Olinda, com direito a maracatu e caboclinho, seguidos de feijoadas e sopas de cebola.
Nas cores
O RECIFE de Romero Andrade Lima, artista plástico
O Recife ainda se parece com uma tela de Frans Post. E, se aprumarmos a vista dividindo a paisagem como ele dividia, dando dois terços do espaço para o céu e o terço restante para a terra e o mar, aí é que parece. A cidade vista de longe ainda flutua plana e horizontal sobre o oceano como imensa embarcação ou gigantesco animal marinho. O pintor invasor tratou com tanto afeto a musa cidade que os da terra que lhe sucederam seguiram o olhar e o traço e a paleta nos séculos subseqüentes. O pouco que ficou das edificações desses tempos esteticamente mais rigorosos ainda é capaz de conferir ao todo ilusão de encanto e beleza. Assim, Recife é do alto de seus quatro séculos, quase cinco, de idade, ainda bela. Bela como as grandes damas da história da arte que possuem eternamente o dom de atrair, a ponto de estarem cercadas de poetas que lhe cantam a eterna beleza em poemas e pintores que a eternizam em retratos.
Na música
O RECIFE de Silvério Pessoa, cantor e compositor
Para representar o Recife, elegeria uma canção composta por mim, chamada Nas terras da gente (2002, do CD Cabeça elétrica, coração acústico), que começa quando atravessei a Ponte da Boa Vista, que liga um bairro a outro. Sou migrante, vim de Carpina para a capital pernambucana na década de 1970. Foi um impacto ver a cidade, a proporção em relação a Carpina, os prédios, rios, pontes, o fluxo de pessoas, tudo era diferente da vida pacata que eu via no interior. Além de emblemática, essa música retrata bem o sentimento que tive quando vim para cá. A canção retrata o “cheiro doce da maré seca”, algo bem forte. Um amigo meu sentiu cheiro do mangue e comentou: “Que catinga da poxa”! Esse é o cheiro doce da maré. E também fala dessa coisa do deslocamento. Recife concentra muitos migrantes do interior que vêm para tentar a vida na capital, uma coisa que acontece em outras metrópoles do país. Essa canção está sempre presente nos meus shows. Ela não tem uma pegada única, não chega a ser forró. Pode ser considerada uma música pop nordestina: entre um trecho e outro tem uma ciranda, e ao mesmo tempo tem arranjo de cordas, um naipe de orquestra de câmara com violino e viola, sem deixar de lado a percussão.
Na telona
O RECIFE de Adelina Pontual, cineasta
Um filme que refletisse sobre o crescimento desordenado da cidade: verticalidade desmedida, excesso de automóveis nas ruas, descaso com o bem público e com cidadãos. Ganância e riqueza de poucos, miséria de muitos. Talvez, ficção científica: ruas entulhadas de ferro-velho dos automóveis que já não conseguem circular. Os abastados circulam com veículos aéreos e vivem no alto de torres de concreto. A população sobrevive de catar lixo e trocar na feira de escambo do Marco Zero. E da arriscada pesca de tubarões capimar, peixes mutantes do mar e rio. A sombra das torres toma conta da urbe e a população asfixiada pelo calor da falta de circulação da brisa marinha organiza uma revolta contra quem vive no alto das torres e retoma o controle da cidade (porque sempre há de haver esperança). Título: Apocalipse Recife.
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