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Mais recatada, Miley Cyrus lança disco com influências country

Coeso e bem produzido, Younger Now conta com uma colaboração de Dolly Parton, tia da cantora

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No visual, a artista explora uma estética que passeia entre o country e o início do rock 'n roll. Foto: YouTube/Reprodução

Depois de ‘enterrar’ a personagem Hannah Montana com nudez, uso de drogas e um comportamento mais ‘vulgar do que sexy’ em Bangerz (2013) e Dead petz (2015), Miley Cyrus volta recatada para o mundo da música. A cantora lançou, nesta sexta-feira (29), Younger now (Mais jovem agora, em tradução livre), seu sexto álbum de estúdio. O disco marca a carreira da norte-americana por apostar no country, gênero que desde sempre correu em suas veias; nascida em Nashville, a artista é filha de Billy Ray Cyrus e sobrinha de Dolly Parton, uma lenda do country - no álbum, as duas cantam juntas em Rainbowland, uma das 11 faixas do novo trabalho.

Cyrus sinalizou a notável mudança de estilo e comportamento com o primeiro single do álbum, a relaxante e praiana Malibu. A canção foi lançada junto com uma polêmica entrevista à Billboard norte-americana, em que a cantora revelou ter “parado de fumar maconha” e estar em uma “nova fase” de sua vida, mais calma e saudável. Acostumados com uma Miley rebelde, alguns fãs da música pop consideraram as premissas ‘caretas’, apontando os perigos desse tipo de declaração em um momento sociopolítico banhado pelo conservadorismo - encabeçado por Donald Trump nos Estados Unidos.

Enganou-se, no entanto, quem pensou que o trabalho de Cyrus estaria mais próximo do estilo de Carrie Underwood ou Taylor Swift no início da carreira. Younger now nos apresenta uma espécie de ‘country pop’, dialogando com o repertório anterior da cantora e tornando o ritmo do Sul estadunidense mais acessível para seu público, composto majoritariamente por pessoas jovens - algo similar ao que Lady Gaga fez em algumas faixas do Joanne (2016). Em geral, o novo disco é coeso e bem produzido. Na arte visual, a artista explora uma estética colorida que passeia entre o country e o início do rock ‘n roll durante os anos 1950.

Destaques
O segundo single, Younger now, é uma das faixas mais ‘chicletes’, combinando o country e o pop com maestria. Na letra, a cantora fala abertamente sobre sua mudança: “Ninguém permanece o mesmo / Você sabe o que vai, volta / A mudança é uma coisa com que você pode contar / Eu me sinto muito mais jovem agora”. Esta metamorfose é, também, um reflexo do estado de calmaria sentida pela cantora após ter reatado seu namoro com o ator Liam Hemsworth, um dos assuntos recorrentes do álbum. Isso fica evidente na apaixonada I would die for you: “Quando você se foi, o tempo passou tão devagar / Você é tudo para mim / E eu, eu morreria por você”. Um lado mais rock - ritmo que emergiu de variações do country e do blues - é explorado em Thinkin', outro destaque do disco.

O ‘country raiz’ aparece em Rainbowland, a parceria com Dolly Parton, resgatando a atmosfera rural de canções como Jolene, 9 to 5 e Coat of many colors. Em Inspired, parecemos estar diante da Miley da trilha sonora do Hannah Montana: The movie, responsável pelo sucesso The climb. Ela relembra a infância, pensando nos dias que chegava casa com “os pés sujos” e brincava com seu pai “o dia inteiro no riacho”. Uma das premissas mais interessantes do trabalho encontra-se no fim desta canção: “Como podemos escapar de todo o medo, todo o ódio?”. Bad mood e She's not him são outras faixas que fazem o álbum valer a pena.

Questões raciais
Em 2013, internautas acusaram Miley Cyrus de se apropriar da cultura negra durante a divulgação do álbum Bangerz, quando a cantora popularizou o twerk, uma dança da cultura negra urbana norte-americana. Além disso, o disco contou com colaborações dos rappers French Montana, Big Sean, Future e produção do Mike Will Made-It, um especialista em hip hop. É curioso que, quatro anos depois, ela apareça performatizando sua branquitude ao explorar o country, gênero que possui um mercado dominado e consumido pelos brancos estadunidenses. Ainda é mais insólito que ela tenha optado por esse ritmo durante a ascensão de Donald Trump e movimentos racistas no país.

Assista aos videoclipes de Malibu e Younger now: