Disponível na Netflix, comédia francesa surpreende ao narrar relação entre adolescente e balzaquiana
Distante das fórmulas gastas de Hollywood, '20 Anos mais Jovem' lança olhar fresco sobre um tabu antigo
Quer receber notícias sobre cultura via WhatsApp? Mande uma mensagem com seu nome para (81) 99113-8273 e se cadastre
A protagonista, Alice (Virginie Efira), está disposta a tudo para crescer na carreira de editora de revista de moda. Em uma sociedade acostumada a louvar o viço da juventude e a fechar os olhos para as falhas comuns aos indivíduos de pouca idade, ter 38 anos parece ser algo a se envergonhar. Uma alternativa é agir dispensando a maturidade adquirida e buscar para si um pouco desse olhar condescendente para com os jovens.
É quando Alice inventa um affair com um garoto de 18 anos somente para melhorar sua imagem. Com Balthazar (Pierre Ninay) a tiracolo, ela se sente mais segura para competir com mulheres mais jovens, com quem disputa na profissão. Engatando uma mentira à outra, Alice se deixa levar pela empolgação do garoto e passa a, de fato, sentir-se atraída por ele, justamente devido a alguns dos atributos valorizados pelo inconsciente coletivo, como a espontaneidade e a ousadia. Divorciada, ela transa com o adolescente e se vê diante de uma situação com a qual não sabe lidar: logo quando havia decidido por dispensá-lo, Balthazar passa a ser solicitado cada vez mais pelos pares de Alice, agora não somente como um acompanhante mas enquanto protagonista de sua própria juventude.
É interessante como o filme, embora de propósito leve e a princípio sem grandes ambições, presta-se a fazer uma crítica social bem amarrada em vários personagens. A visão hedonista da sociedade é representada pelos chefes de Alice, ao endossarem o elemento da juventude como algo primordial. Aliado a isso, um outro núcleo de personagens reforça o elemento machista presente nessa ideologia - o pai de Balthazar namora uma ex dele. Sem enxergar o ridículo da própria situação, com sua crise de meia-idade e carros velozes, o homem encontra um semelhante no próprio ex-marido de Alice. Ele também se relaciona com uma garota bem mais jovem, considera a situação normal e, ao mesmo tempo, condena o affair dela com Balthazar.
Embora previsível, o desfecho do longa não desagrada. Se enxergadas além do final feliz, as cenas finais podem servir como alerta: cuidado com as demandas sociais enfiadas goela abaixo. Elas podem se realizar.
Acompanhe o Viver no Facebook: