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Tem invasores no forró: o esperneio de Elba

Ritmo padece de falta de apoio e perde espaço para sertanejos, sobretudo nos maiores polos juninos

Seria natural que diante da ocupação cada vez mais visível de espaços sagrados para o forró artistas se juntassem decididos a defender o ritmo. Arte: Jarbas/DP


Seria natural que diante da ocupação cada vez mais visível de espaços sagrados para o forró artistas se juntassem decididos a defender o ritmo. Mas o que se ouvem são vozes isoladas como as de Elba, de Chambinho do Acordeon – que criou a campanha Devolvam nosso São João – de de Alcymar Monteiro e de Léo Macedo, vocalista da banda baiana Estakezero, um som que nem chega a ser pé de serra, mas usa instrumentos do forró tradicional. Num universo que congrega dezenas dos mais fiéis representantes do legado de Luiz Gonzaga, convenhamos, é muito pouco. E desanimador, também, pois nem mesmo a população, aliada essencial em qualquer luta, revela-se ao menos de longe tocada pela necessidade de defender suas raízes. Protestos se mostram raros e, mesmo assim, os esperneios só são vistos no mundo virtual, sem clamar por organização e mobilização. Nisso, perdemos muito feio para os sul-rio-grandenses, por exemplo, que em 1948, quando viram suas tradições rurais, as mais genuínas, ameaçadas de morrer sob o peso dos novos tempos, formaram uma espécie de exército nacional de salvação e criaram o 35CTG, o primeiro dos Centros de Tradição Gaúcha. Hoje somam 2.583 em todo o país e 12 no exterior. Mais uma vez, a população se reuniu num esforço extraordinário quando o 35 CTG enfrentou as primeiras dificuldades rigorosas e esteva à beira de fechar as portas. Sobreviveu e virou atração turística. Nestes lugares, onde a dança, a música, a gastronomia e os costumes são reverenciados, a cultura gaúcha segue a salvo.

Infelizmente, o forró e todos os elementos que identificam a cultura do Nordeste, não. Carecem de vozes e de atitudes que repensem o lugar de tão ricas tradições no futuro, sob pena de os nordestinos olharem para trás e não se reconhecerem como povo. Mas, dissabores à parte entre a cantora e a Paraíba, a questão é que Elba foi diretamente ao ponto quando disse que não tem nada contra os cantores “sertanejos”, mas que deveriam ficar em seus territórios musicais como é a Festa do Peão de Barretos, por exemplo, onde ela e Dominguinhos jamais estiveram porque aqueles artistas deixam sempre muito claro que se trata de um terreno deles. Por que haveriam de se sentir tão à vontade aqui? Naturalmente porque poder público, contratados e produtores não veem incômodo algum em trocar cultura por números. Dão mostras de que respeito a ela, nem se Januário, o pai de Luiz, que era o maior “de Itaboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó”, viesse pedir. E de joelhos.

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