Leia também: Cartazes de "Fora Temer" e "Golpe nunca mais" vazam em Sense8, da Netflix
Após uma primeira leva de episódios e um especial de Natal guiados por dúvidas impostas pela recém-descoberta condição dos sensates, reflexões introspectivas e as famigeradas cenas de sexo, os dez novos capítulos são alicerçados em muitas cenas de ação e construções sociais, políticas e econômicas. Diante das intempéries causadas pelos embates pessoais e para se proteger da guerra deflarada pela Biologic Preservation Organization, a BPO, algumas passagens remetem a cenas de produções sobre super-heróis, tamanhas as habilidades dos oito integrantes do cluster quando somadas.
A indagação sobre si próprios e os questionamentos sobre a conjuntura na qual estão inseridos são provocadas nos primeiros episódios - assim como nos trailers lançados. "Quem sou eu? Você quer dizer de onde sou? Ou quem me tornei? O que fiz? O que sonho? O que você vê? Ou o que vejo? Do que temo? O que faço? Quem eu amo? O que perdi?", respondem todos, de forma intercalada, às perguntas feitas por duas repórteres ao ator Lito (Miguel Angel Silvestre), sobre a homossexualidade dele, e ao motorista Capheus, contra a decisão de batizar de Van Damm, inspirado em um personagem branco, o ônibus com o qual ganha a vida e tenta barrar os sintomas da Aids na mãe.
As repostas sobre a origem milenar do homo sensorium, a relação da espécie com o homo sapiens e a criação (e degeneração) da poderosa multinacional BPO são dispostas em pequenas doses. As revelações são feitas ao motorista Capheus, à farmacêutica Kala (Tina Desai), ao ator Lito, à hacker Nomi (Jamie Clayton), à DJ Riley (Tuppence Middleton), à executiva e lutadora Sun (Donna Bae), ao ex-policial Will (Brian J. Smith) e ao ladrão Wolfgang (Max Riemelt) por desconhecidos, nos quais os personagens e o espectador não têm certeza se devem acreditar. Ao descobrirem bloqueadores contra as visitas sensoriais e outros segredos dos sensates, eles se tornam quase infalíveis.
As desconfianças, acrescidas ao cruzamento com a história da sociedade - como o 11 de Setembro - e a manipulação pelos grupos dominantes são um forte trunfo da segunda temporada para conquistar novos fãs e remetem à condução dada pelas irmãs Lana e Lilly Wachowski ao aclamado filme Matrix, de 1999. O olhar às mazelas da sociedade se reflete em inserções rápidas, mas contundentes, da luta pela água na África, do selvagem mercado de venda de medicamentos, de críticas ao privilégio travestido de empreendedorismo e outros pontos tão importantes quando frequentes.
"Sua vida é definida pelo sistema ou pela forma como você desafia o sistema", provoca Nomi, ao impulsionar o cluster a asssumir riscos, enfrentar o Sussurros e a BPO, desvendar os mistérios de Angélica, Jonas e outros personagens ainda não mencionados e interromper uma sequência de fugas. Os antagonismos entre medo e bravura, reclusão e liberdade são reforçados pelos claustros de tons sóbrios e marrons em contraposição à busca por fitar o céu, andar pelas ruas e respirar fundo após escapar. Em meio ao enredo mais pendente para a ficção científica na segunda fase, Sense8 é, em essência, um seriado sobre a aceitação de si, mesmo em confronto com expectativas opostas, e a luta dos diferentes pela sobrevivência.
Assista ao trailer da segunda temporada de Sense8:
[VIDEO2]