Frevos e marchinhas 'politicamente incorretas' causam polêmica no carnaval
Um dos frevos diz: "Se tu não quebra mulata / Na tua venta que é chata / dou tanto rela / que estira como embuá"

Durante décadas, as músicas que fizeram a alegria do Carnaval passaram longe do que se convencionou chamar de politicamente correto. Foliões de todo o Brasil já cantaram com todas as forças músicas com letras que se tornaram desconfortáveis à luz dos direitos conquistados por mulheres, negros e do segmento LGBT. No Rio de Janeiro, no período pré-carnavalesco deste ano, blocos já se tornaram foco de bate-boca por cantarem músicas como Maria Sapatão, Teu cabelo não nega ou Cabeleira do Zezé. Mesmo no frevo, há canções caracterizadas por apresentarem um conteúdo que parece incompatível com a militância social observada nos dias de hoje. Mas boicotar esse tipo de música é a solução ou é inútil, dada a longevidade dessas canções?
%2b O Viver também selecionou algumas canções com letras consideradas, atualmente, como politicamente incorretas. Veja:
ELA SABE
Gildo Branco/Reinaldo de Oliveira/Irmãs Aimoré
(Em resposta a Cala a boca menino)
O homem tem que dar todo
dia na mulher
pra ela ficar do jeitinho que ele quer
Ele pode nem saber porque está dando
mas ela sabe porque está apanhando
Sou obrigada a lhe censurar
pois a mulher foi feita pra se amar
fale quem quiser
eu não faço alarde
mas o homem que bate na mulher
é um covarde
QUEBRA CANELA (1931)
Música de Nelson Ferreira e letra de Samuel Campelo
Se tu não quebra mulata
Na tua venta que é chata
dou tanto rela
que estira como embuá
Dou-te um tapa, mulata
Na venta chata
Que mais se achata
E até se encaixa
Como bolacha
Dentro da lata
Mulata quebra a canela
Se não eu te dou mais nela
Se não me dás esse enlevo
Na tua venta me atrevo
Dou tanto nela
Que espicha como socó
Faço-te um alto relevo
Na venta chôcha
Mulata frouxa
E te escrevo
Com tinta roxa
Mesmo no frevo
Mulata quebra a canela
Se não eu te dou mais nela
NEGA MALUCA
(Linda Batista)
Tava jogando sinuca
Uma nêga maluca me apareceu
Vinha com um filho no colo
E dizia pro povo que o filho era meu
Não, senhor!
Toma que o filho é seu
Não, senhor!
Guarde que Deus lhe deu
Não, senhor!
Toma que o filho é seu
Não, senhor!
Guarde que Deus lhe deu
Há tanta gente no mundo
Mas meu azar é profundo
Veja você, meu irmão
A bomba estourou na minha mão
Tudo acontece comigo
Eu que nem sou do amor
Até parece castigo
Ou então influência da cor
DÁ NELA
(Ary Barroso)
Esta mulher
Há muito tempo me provoca
Dá nela! Dá nela!
É perigosa
Fala mais que pata choca
Dá nela! Dá nela!
Fala, língua de trapo
Pois da tua boca
Eu não escapo
Agora deu para falar abertamente
Dá nela! Dá nela!
É intrigante
Tem veneno e mata a gente
Dá nela! Dá nela!
O TEU CABELO NÃO NEGA
(Irmãos Valença/Lamartine Babo)
O teu cabelo não nega mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega mulata
Mulata eu quero o teu amor
Tens um sabor bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata mulatinha meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor
Quem te inventou meu pancadão
Teve uma consagração
A lua te invejando faz careta
Porque mulata tu não és deste planeta
Quando meu bem vieste à terra
Portugal declarou guerra
A concorrência então foi colossal
Vasco da Gama contra o batalhão naval
- A reportagem foi publicada originalmente na Superedição do Diario de Pernambuco dos dias 11 e 12