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Nova temporada do Brasil Adentro retrata o cenário musical de Pernambuco

'Confesso que me senti fazendo doutorado em cultura brasileira durante as gravações', diz Charles Gavin, apresentador do programa

Luiz Gonzaga, manguebeat, frevo, maracatu. Há muito do que se falar sobre a a música de Pernambuco. O mosaico sonoro faz parte da segunda temporada do Brasil adentro, que estreia nesta segunda-feira, às 19h (horário local), no Canal Brasil. Depois do primeiro ano, voltado para a musicalidade paraense, o programa comandado pelo ex-Titãs Charles Gavin (O som do vinil) - que divide a direção com Geraldinho Magalhães, Paola Vieira e Lula Queiroga - entrevistou artistas do estado de diferentes gerações e gêneros. Uma imersão cultural, o primeiro dos cinco episódios destacará a importância do frevo.

A estreia reúne depoimentos de Spok, Maestro Forró, Zé da Flauta e Claudionor Germano. Ainda no episódio, o cantor e compositor Edu Lobo explica a nomenclatura do gênero musical a partir da origem. Em outros episódios, o programa ressalta a obra de Luiz Gonzaga, Jacinto Silva e Dominguinhos, além de Alceu Valença, Robertinho de Recife e Gerado Azevedo e do movimento manguebeat. Silvério Pessoa, Siba e DJ Dolores estão na lista extensa de entrevistados.

O apresentador acompanha a produção musical de Pernambuco desde cedo, quando ainda era estudante. Agora com uma bagagem mais profunda, ele exalta as fases principais no cenário nacional. "Luiz Gonzaga: a música popular brasileira não seria o que é sem ele. Alceu Valença e Edu Lobo: a MPB não seria o que é sem eles. Chico Science & Nação Zumbi: a música pop brasileira não seria o que é sem eles", crava Gavin, em entrevista ao Viver.

Ele destaca o relato de Geraldo Azevedo sobre a tortura sofrida no período militar e a visão de Maestro Forró sobre o ensino e estudo de música. "Temos que ter um método nosso e não reproduzir aquele que foi inventada na Europa", comenta. 

Entrevista // Charles Gavin - diretor

Você defende a descentralização de produções na televisão aberta e por assinatura. Brasil adentro tem influência disso?

Conheço bem o Brasil. Foram 25 anos na estrada com os Titãs, viajando e fazendo shows em todos os lugares possíveis. A extraordinária diversidade cultural de nosso país nos marcou e nos influenciou o álbum Õ blésq blom, de 1989, com a participação dos cantadores da praia de Boa Viagem, Mauro e Quitéria. Uma consequência disso. A minissérie Brasil adentro defende essa mentalidade: a de que precisamos conhecer e se relacionar com a exuberante produção cultural que acontece fora do eixo Rio-São Paulo. Nossa autossustentabilidade cultural passa por essa questão. Os núcleos que trabalham nas grades da programação de nossa televisão, aberta e por assinatura, precisam criar espaços para que esse Brasil seja mostrado e conhecido. É uma questão premente, não podemos mais protelar.

Com as mudanças trazidas pela Lei da TV Paga (12.485/2011), você enxerga algum tipo de efeito nesta questão?

 A Lei da TV Paga destacou questões importantíssimas. É preciso defender nosso mercado, criar condições para que a produção nacional se desenvolva, se torne mais competitiva, mas com uma cara própria, original. É o que outros países fizeram há muito tempo. E acho que os efeitos mais profundos dessa lei de 2011, no que diz respeito à produção fora do eixo Rio-São Paulo, ainda estão por vir.

Diante do cenário musical prolífico de Pernambuco, foi difícil catalogar os nomes de entrevistados de Brasil adentro?

Prolífico é um adjetivo que define bem o cenário musical pernambucano. Não é fácil acompanhar a produção que existe aí nos dias de hoje. Mas eu tento... São muitas bandas, cantores e compositores novos que se lançam todo mês, não são? Bem, fato é que eu venho ouvindo a música de Pernambuco desde meus tempos de colégio, nos anos 1970, já no primeiro LP de Alceu Valença, e seguindo depois, na faculdade, com os fantásticos discos do Quinteto Armorial. Nos anos que se seguiram, esse universo não parou de se expandir. Vieram ainda Ave Sangria, Quinteto Violado e Geraldo Azevedo, entre tantos outros. Nosso objetivo inicial era elaborar um painel básico da música de Pernambuco da década de 1950 até os dias de hoje.

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