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Menos caricato, Invasão Zumbi é um dos melhores thrillers do ano

Longa foge dos clichês de caracterização de zumbis

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Foto: THR/Reprodução


Mesmo que os zumbis continuem presentes na cultura pop, ao menos nos quadrinhos e na televisão, em obras como The walking dead, o mesmo não se pode dizer sobre o cinema, lar tradicional dos desmortos desde 1968, com a estreia de A noite dos mortos-vivos, de George Romero. Passado o revival visto nos anos 2000, são poucas as incursões no gênero nos últimos anos e mais raras ainda são as produções relevantes. Invasão zumbi, que estreia hoje nos cinemas, se enquadra nesta categoria e é uma grata surpresa.

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O filme já chama a atenção pelo fato de ser uma produção sul-coreana chegando às salas comerciais e disputando espaço com blockbusters como Rogue One: Uma história de Star wars, Minha mãe é uma peça 2 e Sing, para citar algumas das maiores estreias do final de ano. Mas a atípica entrada de um título asiático no grande circuito não é por acaso: o longa tem recebido críticas favoráveis desde a première, em maio, no Festival de Cannes, onde recebeu uma menção especial.

Na sua terra natal, Invasão zumbi levou mais de 11 milhões de pessoas aos cinemas, o equivalente a um quinto da população do país, acumulando cerca de US$ 80 milhões em bilheteria. No mercado global, registrou até agora mais US$ 20 milhões, um valor expressivo, ainda mais se considerada a baixa receptividade que longas não falados em
inglês costumam ter no mercado internacional. Outro sinal claro do sucesso é que os direitos já foram vendidos para uma versão hollywoodiana, a exemplo do que ocorreu com outro bem-sucedido terror asiático: O chamado.

A despeito do título genérico e nada sutil da versão nacional, Busanhaeng (Trem para Busan, em tradução literal) se destaca pela personalidade e apuro na condução da história. Essas qualidades, cada vez mais escassas em produções norte-americanas do gênero, aproximam Invasão zumbi do britânico Extermínio (2002), de Danny Boyle. Curioso notar que outras das duas mais interessantes leituras do gênero nos últimos são comédias de fora do mercado dos EUA, como o também inglês Todo mundo quase morto (2004), de Edgar Wright, e o canadense Fido: O mascote (2006), de Andrew Currie. Trata-se de algo sintomático, considerando que até o precursor George Romero, responsável por estabelecer os conceitos tradicionais dos zumbis, tem errado a mão nos últimos filmes, como os fracos Diário dos mortos (2007) e Ilha dos mortos (2009).

O longa-metragem sul-coreano, escrito e dirigido por Sang-ho, já experiente no campo das animações, não chega a subverter o que tradicionalmente é feito em narrativas com mortos-vivos nas mais diversas mídias e o argumento não tem nada de excepcional. Mas é justamente por saber evitar sustos fáceis e dosar bem o drama que a produção se destaca. A premissa do filme é simples: um grupo de pessoas embarca em um trem partindo de Seul para Busan quando um surto zumbi coloca o país em estado de alerta. Enquanto o governo da Coreia do Sul anuncia pela TV que os tumultos vistos pela nação são atitudes de rebeldes e não uma epidemia, os passageiros seguem viagem sem levantar grandes suspeitas pelos acontecimentos estranhos vistos pela janela do expresso.

Até o momento que mortos-vivos começam a invadir também os vagões. Como nos bons exemplares do gêneros, a ênfase é nas (conflituosas) relações humanas e angústias dos que tentam sobreviver. Um pai divorciado e viciado em trabalho viajando com a filha pequena para visitar a mãe, um casal com a esposa grávida e jogadores de um time escolar de beisebol estão entre os personagens centrais. As transformações mais importantes não são a dos vivos que se tornam zumbis. Essencialmente falhos, os protagonistas passam por grandes mudanças a partir do acontecimento, às vezes revelando o melhor, e, em outros casos, o pior da humanidade.

Fora o eficiente desenvolvimento dos personagens, o filme se destaca pela caracterização adotada para os mortos-vivos, diferente da usual. Menos caricatos e putrefatos, os zumbis são ágeis. Nada do andar lerdo e cambaleante: o movimento é acelerado, mas descompassado, causando grande estranheza. E embora os ataques sejam inevitáveis, a direção foge dos habituais closes nas vísceras ou sanguinolência. Tudo acontece sem excessos, pois o verdadeiro drama dos personagens não é desafiar a morte, mas trazer significado para as próprias vidas.

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