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Exposição com mestres da arte figurativa inaugura galeria no Shopping RioMar

Obras apresentadas no novo espaço fazem parte da coleção do arquiteto Carlos Augusto Lira

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Karina Morais/Especial para o Diario de Pernambuco
Criaturas fantásticas estão entre as obras apresentadas, como esta escultura do artista Severino
 
Animais, monstros, músicos, santos, assombrações, torcedores e soldados estão entre os mais de 300 personagens que passam a habitar uma galeria no Shopping RioMar a partir desta terça, quando será aberta ao público a exposição Liramartes, formada por peças da coleção de arte do arquiteto Carlos Augusto Lira. As obras estão em um novo espaço que passa a funcionar diariamente no segundo andar (piso L2) do centro comercial do Pina.

Lira tem um acervo com mais de 4,5 mil itens. As três centenas de obras selecionadas para a nova exposição não são as mesmas que foram mostradas no Museu do Estado em 2014. Desta vez, ele escolheu principalmente esculturas que retratam seres humanos, animais e criaturas fantásticas, confeccionadas por mestres de diversas regiões do Brasil, principalmente de cidades do interior e do litoral. "Os artistas populares têm essa tradição figurativa", identifica o colecionador.

O resultado é um ambiente que transpira vitalidade e mexem com a imaginação. No texto de apresentação, o arquiteto cria uma situação hipotética em que as figuras ganham vida e começam a caminhar pelo shopping, como acontece nos filmes Uma noite no museu e Toy Story. A madeira é o material mais representado, com cerca de 50 peças (sem contar as dezenas de ex-votos). De barro, há em torno de 40 esculturas. Mais de 150 artistas estão representados.

Além dos mestres autodidatas mais espontâneos (classificados como "artistas populares"), há nomes consagrados do circuito de arte moderna e contemporânea, como João Câmara, Brennand, Gilvan Samico, entre outros, e Jota Zeroff como representante de uma nova geração de pintores. Também são mostradas reproduções de pinturas clássicas da arte universal, de estrangeiros como Miró e Salvador Dali, para criar um contraponto e indicar coincidências. "Não vejo a arte popular como regionalismo. Picasso não seria nada sem a influência da África. Um artista que nunca foi a uma grande capital pode ter tudo dentro dele mesmo", acredita Lira, que tem peças raras dos geniais Vitalino, J. Borges, Nuca e Galdino.

Apesar de estar dentro de um shopping, a Galeria RioMar não comercializará obras de arte. É um espaço dedicado apenas às exposições, sem vendas, com entrada gratuita. Ela funciona no local que abrigava a loja Daslu, no piso conhecido como Corredor das Marcas Internacionais. Os únicos produtos à venda são doces, salgados e bebidas (especialmente vinhos e cafés), oferecidos pela chef Anna Corina, e o livro A lírica de Carlos Augusto Lira, que reúne fotos da coleção do arquiteto.

Por enquanto, a galeria ainda tem um aspecto de loja, com vitrine, prateleiras, espelhos e balcões. Carlos Augusto Lira foi bastante criativo na forma como cada espaço foi ocupado (inclusive os provadores, preenchidos com esculturas religiosas e eróticas, de temática mais íntima), mas espera-se que a estrutura esteja mais propriamente adequada para a arte nas próximas exposições.



Lições morais
Um conjunto de placas com textos ilustrados por pinturas apresenta lições moralistas de alguma época do passado, extremamente preconceituosas, ultrapassadas e conservadoras, mas interessantes como curiosidade. Uma delas diz que mulheres não devem aprender a nadar com estranhos na praia para não se destruir. Outra fala em "delinquência sexual".



Bonecos
Mamulengos e bonecos articulados, utilizados em espetáculos teatrais, estão bastante presentes na exposição e devem encantar as crianças. Entre eles, estão um conjunto de fantoches produzidos pelos alunos do mestre José Lopes, de Glória de Goitá, com personagens do cotidiano e seres mitológicos, como o Diabo e a Medusa.



Provadores
Nas cabines onde ficavam os provadores da loja que funcionava no local da galeria, Carlos Augusto Lira colocou esculturas que representam o lado íntimo dos seres humanos nas práticas espirituais e carnais (o sagrado e o profano). De um lado, estão figuras religiosas. Do outro, peças eróticas e até pornográficas.



Anônimos
Carlos Augusto Lira não sabe quem são os autores de todas as peças da coleção. Algumas das obras mais importantes da exposição são de anônimos, como um jacaré, em tamanho natural (cerca de dois metros de extensão), feito a partir de um tronco.