Viver

Expoente das artes visuais de Pernambuco, Montez Magno lança coletânea de poemas

O livro Soma reúne versos escritos desde a década de 1960, organizados por Itamar Morgado

Montez Magno considera a poesia sua arte maior. Foto: Ricardo Fernandes/DP

“Livre como o coração do intelecto / o poema se move como uma serpente / que deixasse a sua casca reprimente.” Os versos, datados dos anos 1980, desvelam a libertação associada pelo autor ao exercício literário. Por trás deles, Montez Magno, vulto do abstracionismo geométrico pernambucano, se sublinha como poeta e abolicionista artístico de si mesmo, somando eu-lírico à já consagrada face de artista visual. Desdobra-se em outro. Dá sentido a Soma, título escolhido para coletânea de poemas concebidos por ele desde a década de 1960, publicada hoje, no Museu do Estado de Pernambuco, na Zona Norte da cidade.

“Se o pintor sobressaiu em relação ao poeta ou o poeta em relação ao pintor, nem por isso a atividade artística menos conhecida é, necessariamente, a de menor importância na sua trajetória”, escreve o professor do programa de pós-graduação em letras da UFPE Anco Márcio, que assina o prefácio da obra. Nele, Anco lança mão do tratamento gráfico destinado por Montez aos livros de poesia já publicados - todos artesanais, tipográficos, distribuídos informalmente - para certificar a relação estreita entre as artes visuais e a literatura na obra do abstracionista nascido nos anos 1930, em Timbaúba. Ainda na Zona da Mata Norte de Pernambuco, Montez Magno teria dado à luz, primeiro, sua versão poeta - treinando métricas desde a adolescência, sob influência do pai, o jornalista e poeta Balthazar José de Oliveira. Por isso, talvez, costume dizer que a poesia, embora menos disseminada, é sua arte maior.


SERVIÇO

Lançamento de Soma

Quando: Hoje, às 19h30

Onde: Museu do Estado de Pernambuco (Av. Rui Barbosa, n. 960)

Quanto: Entrada e distribuição gratuitas

Informações: 3184-3174

>> Poemas

Da poesia e dos poetas

Os melhores momentos

nunca são retidos.

Os bons poetas

sofrem de amnésia.

Lamentação do Recife

Lamentarei esta cidade estendida

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vestida de mofo e umidade

pegajosa como um maltrapilho

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Arte poética

Nada há de mais sóbrio e insólito

do que escrever poemas - ainda que sombrios,

nos dias que fogem.

Faz-se mister que os olhos de um poeta

ponham-se a ler os olhos de outros poetas

e que absorvam deles o inconsciente alheio.

Um poema, o que há de ser?

uma bola redonda?

Ou uma tábua lisa onde se engomam versos

ou um papel timbrado onde a alma imprime seus receios?

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