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Morre a crítica de teatro Barbara Heliodora, aos 91 anos

Barbara estava internada desde o dia 23 de março. Ela é considerada uma das maiores críticas do Brasil

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Barbabra Heliodora ficou conhecida como Dama de Ferro do teatro. Crédito: Guga Melgar



A crítica de teatro Barbara Heliodora morreu na manhã desta sexta-feira (10), aos 91 anos. Ela estava internada no Hospital Samaritano, em Botafogo, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do hospital. Na época da internação, em 23 de março, o quadro tava crítica era considerado "delicado". Ela deixa três filhas e quatro netos. Informações sobre enterro e causa da morte ainda não foram divulgadas.

Formada em Letras e Literatura pelo Connecticut College, Heliodora ficou conhecida por se especializar na obra no romancista William Shakespeare. Respeitada na cena de teatro nacional, era considerada por muitos a maior crítica do Brasil. Com mais de 50 anos de carreira, Barbara passou por publicações como Jornal do Brasil e revista Visão, em pleno período de Ditadura Militar. Rigorosa em suas resenhas, Barbara Heliodora acabou conhecida como a "Dama de Ferro do teatro".

[SAIBAMAIS]Ela esteve presente, em vídeo, em uma exposição sobre a obra de William Shakespeare realizada no Espaço Pasárgada (Boa Vista), em novembro de 2014. Na ocasião, foi exibida uma entrevista com Barbara sobre os trabalhos do poeta e romancista. Aposentada desde 1985, só abandonou o trabalho de crítica no jornal O Globo em 2014, sendo substituída por Macksen Luiz.

Ainda em 2014, em homenagem aos 450 anos de nascimento de Shakespeare, Barbara publicou o livro Shakespeare - O que as peças contam. O livro explora a fundo o contexto e as mensagens por trás das peças mais famosas do dramaturgo.

O estilo Barbara Heliodora (do Correio braziliense)

Totalmente a favor do teatro, Barbara Heliodora era testemunha da evolução das artes cênicas no Brasil, sobretudo nos anos 1950 e 1960, quando viu o país abraçar a modernidade com dramaturgias que refletiam os problemas nacionais e montagens esteticamente ousadas. Nesse contexto, ajudou a fundar o Círculo Independente de Críticos Teatrais, ao lado de nomes como Paulo Francis e SábatoMagaldi. A instituição postulou um outro formato para as resenhas jornalísticas, agora mais objetivas e que clamavam por um teatro renovado.

"Antes, era algo assim: ‘Fulana ficou ótima com o figurino cor de rosa’. Fizemos também um intenso trabalho de formação de plateia, com sucessivos cursos de história do teatro e conferências", afirmou ao Correio Braziliense/Diario.

Antes, quando ia ao espetáculo, ela fazia as devidas anotações. Faz tempo que erradicou esse procedimento. Depois, observava tudo com a mente funcionando a mil. Há uma minúscula parte do cérebro que rabiscava tudo para ela, enquanto os olhos se entregavam desde o primeiro instante da narrativa. Revelou que os 15 minutos iniciais são cruciais na apreciação. Se estava perdida, já era. Sinal de que a peça não se comunicou.

As impressões eram levadas ao computador e arrumadas em partes: uma apresentação da peça, uma análise do texto, da encenação (figurino, cenário, luz, trilha), a condução do diretor, a performance dos atores e um desfecho de arremate. Tudo agrupado naquelas poucas dezenas de linhas—limitante da crítica jornalística. Os estudiosos que se debruçam sobre o trabalho dela, dizem que é pura semiótica (ciência que estuda os signos).

Barbara ria dessa bobagem. "Se sou semiótica, foi por mera coincidência. Nunca estudei uma linha sobre isso". Tudo que aprendeu foi se debruçando sobre textos e vendo teatro. Quando voltou dos Estados Unidos, fez uma vivência em O Tablado, da amiga Maria Clara Machado, para entender como se faz o milagre teatral, capaz de suscitar toda sorte de sentimentos, que para a crítica Barbara Heliodora, devem ser ditos com extrema honestidade e sem meias palavras. Gostem ou não.