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Como o Fusca, o carro mais adorado do mundo, virou ícone da cultura pop
O apreço pelo Volkswagen tem grande reflexo na cultura pop, em filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos, músicas, brinquedos

Não importa se o possante exala cheiro de gasolina, tem motor barulhento e é tão espaçoso quanto uma caixa de fósforos. Em todas as partes, inclusive no Recife, donos de fuscas (ou fuques/fucas, como são chamados no Paraná e Rio Grande do Sul) se reúnem periodicamente para exibir os bem conservados – e, às vezes, modificados e tunados– automóveis.
O afeto pelo fusquinha tem grande reflexo na cultura pop, em filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos, músicas, brinquedos. Agora, como toda grande personalidade, ele também é alvo de biografia. O carro do povo (L&PM, 400 páginas, R$ 42,90), de Bernard Rieger, engrossa a lista dos livros sobre o Volkswagen publicados no Brasil. Nele, o historiador europeu investiga a Alemanha pré-fusca, a compara com o fordismo dos Estados Unidos, e analisa a consolidação da marca tanto em território alemão quanto no exterior. Esquadrinha questões culturais, tecnológicas, políticas, econômicas e publicitárias.
ORIGEM NAZISTA
Depois de ler Minha vida e minha obra (1922), do norte-americano Henry Ford, responsável por revolucionar a maneira de fabricar automóveis, Adolf Hitler passou a investir na busca por um meio de transporte motorizado pequeno e barato. O anseio antigo da Alemanha começava a ser desenhado pelo engenheiro automotivo Ferdinand Porsche, criador da famosa marca de esportivos. O protótipo do fusca foi apresentado em tom profético pelo führer, em 1938, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, no Salão do Automóvel de Berlim: “Este carro possibilitará a milhões de consumidores de menor renda o acesso ao automóvel”.
Embora tenha sido alardeado pelo líder do Terceiro Reich, o projeto só saiu do papel depois da queda do nazismo. A origem sombria da marca, portanto, não esbarrou em estigmas. Pelo contrário, fincou raízes na memória coletiva ao ser associada a lembranças afetivas, como as aventuras da juventude, a obtenção da carteira de motorista, as primeiras férias em família. Fenômeno global, o produto alemão foi apropriado por países como México e Estados Unidos como se fossem símbolos nacionais.
ÍCONE MUNDIAL
Nenhum carro alcançou tamanha popularidade em todo o mundo. Foi o primeiro a superar as vendas do Modelo T, produzido pela Ford entre 1908 e 1927. Assim como o veículo idealizado por Henry Ford, o fusca sempre foi conhecido pela robustez, durabilidade, preço baixo e facilidade de manutenção. Foram dois ícones responsáveis por retirar o automóvel da lista de itens considerados de luxo, embora o sucesso do Modelo T tenha se concentrado mais nos Estados Unidos. O fusca, como a Coca-Cola, conquistou todos os continentes.
Quando a última fábrica fechou as portas, em 2003, no México, mais de 21 milhões de unidades havia sido montadas em vários países. No Brasil, o primogênito da Volks chegou na década de 1950 e permaneceu por 24 anos o mais vendido no país. Hoje, fica na terceira posição (3 milhões), atrás do Fiat Uno (3,2 milhões) e do Gol (6,1 milhões). Desde 1998, a marca alemã aposta na versão repaginada, o New Beetle. Mundialmente, o fusca é o quarto mais vendido, com 23,9 milhões de unidades.
TAXI LARANJA
Durante três décadas, Amaro Bernardo da Silva trabalhou como taxista, no Recife, à bordo de um fusquinha laranja, modelo 1976. Em 2011, a Revista Aurora, suplemento do Diario de Pernambucohoje extinto, publicou perfil com o icônico motorista, cuja praça ficava em frente ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby (leia aqui: diariode.pe/bfkf). No ano seguinte, o homem de 59 anos morreu, vítima de esfaqueamento motivado por vingança. O taxímetro já havia passado dos 17 mil quilômetros rodados. Por ser muito velho, o fusquinha perdeu a autorização concedida pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) e Seu Lucas, como era conhecido, havia sido obrigado a vender a praça.