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Como o Fusca, o carro mais adorado do mundo, virou ícone da cultura pop

O apreço pelo Volkswagen tem grande reflexo na cultura pop, em filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos, músicas, brinquedos

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Reprodução/Goodfon.su
Em parte da América Latina, Espanha e Grécia, muita gente já dirigiu um “escaravelho”. Já na Bolívia e Bulgária, o nome oficial é “tartaruga”. Mas se você estiver na Noruega ou Suécia, vai ouvir se referirem à “bolha”. Há, ainda, nomes como “sapo” (Tanzânia e Indonésia), “escova” (República Dominicana), “barata” (Guatemala), “besouro” (Estados Unidos, Moçambique, Alemanha). Os vários apelidos atribuídos mundo afora ao carro mais popular já construído dá sinais do carinho nutrido pelos proprietários em relação aos veículos. 

Não importa se o possante exala cheiro de gasolina, tem motor barulhento e é tão espaçoso quanto uma caixa de fósforos. Em todas as partes, inclusive no Recife, donos de fuscas (ou fuques/fucas, como são chamados no Paraná e Rio Grande do Sul) se reúnem periodicamente para exibir os bem conservados – e, às vezes, modificados e tunados– automóveis.

O afeto pelo fusquinha tem grande reflexo na cultura pop, em filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos, músicas, brinquedos. Agora, como toda grande personalidade, ele também é alvo de biografia. O carro do povo (L&PM, 400 páginas, R$ 42,90), de Bernard Rieger, engrossa a lista dos livros sobre o Volkswagen publicados no Brasil. Nele, o historiador europeu investiga a Alemanha pré-fusca, a compara com o fordismo dos Estados Unidos, e analisa a consolidação da marca tanto em território alemão quanto no exterior. Esquadrinha questões culturais, tecnológicas, políticas, econômicas e publicitárias.



ORIGEM NAZISTA
Depois de ler Minha vida e minha obra (1922), do norte-americano Henry Ford, responsável por revolucionar a maneira de fabricar automóveis, Adolf Hitler passou a investir na busca por um meio de transporte motorizado pequeno e barato. O anseio antigo da Alemanha começava a ser desenhado pelo engenheiro automotivo Ferdinand Porsche, criador da famosa marca de esportivos. O protótipo do fusca foi apresentado em tom profético pelo führer, em 1938, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, no Salão do Automóvel de Berlim: “Este carro possibilitará a milhões de consumidores de menor renda o acesso ao automóvel”.

Embora tenha sido alardeado pelo líder do Terceiro Reich, o projeto só saiu do papel depois da queda do nazismo. A origem sombria da marca, portanto, não esbarrou em estigmas. Pelo contrário, fincou raízes na memória coletiva ao ser associada a lembranças afetivas, como as aventuras da juventude, a obtenção da carteira de motorista, as primeiras férias em família. Fenômeno global, o produto alemão foi apropriado por países como México e Estados Unidos como se fossem símbolos nacionais.



ÍCONE MUNDIAL
Nenhum carro alcançou tamanha popularidade em todo o mundo. Foi o primeiro a superar as vendas do Modelo T, produzido pela Ford entre 1908 e 1927. Assim como o veículo idealizado por Henry Ford, o fusca sempre foi conhecido pela robustez, durabilidade, preço baixo e facilidade de manutenção. Foram dois ícones responsáveis por retirar o automóvel da lista de itens considerados de luxo, embora o sucesso do Modelo T tenha se concentrado mais nos Estados Unidos. O fusca, como a Coca-Cola, conquistou todos os continentes. 

Quando a última fábrica fechou as portas, em 2003, no México, mais de 21 milhões de unidades havia sido montadas em vários países. No Brasil, o primogênito da Volks chegou na década de 1950 e permaneceu por 24 anos o mais vendido no país. Hoje, fica na terceira posição (3 milhões), atrás do Fiat Uno (3,2 milhões) e do Gol (6,1 milhões).  Desde 1998, a marca alemã aposta na versão repaginada, o New Beetle. Mundialmente, o fusca é o quarto mais vendido, com 23,9 milhões de unidades. 



TAXI LARANJA
Durante três décadas, Amaro Bernardo da Silva trabalhou como taxista, no Recife, à bordo de um fusquinha laranja, modelo 1976. Em 2011, a Revista Aurora, suplemento do Diario de Pernambucohoje extinto, publicou perfil com o icônico motorista, cuja praça ficava em frente ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby (leia aqui: diariode.pe/bfkf). No ano seguinte, o homem de 59 anos morreu, vítima de esfaqueamento motivado por vingança. O taxímetro já havia passado dos 17 mil quilômetros rodados. Por ser muito velho, o fusquinha perdeu a autorização concedida pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) e Seu Lucas, como era conhecido, havia sido obrigado a vender a praça.