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''Eu já perdi tudo mesmo'': chegada do período chuvoso desperta pesadelos antigos de moradores do Recife

Prefeitura destaca que está investindo R$ 322,9 milhões em intervenções para minimizar impactos das chuvas este ano

“Na minha sala você pode entrar que você vai ver que não tem nada. Eu já perdi freezer, geladeira, cama, meus móveis. Eu já perdi tudo mesmo”. Com a casa e as esperanças esvaziadas, a moradora de Beberibe, na Zona Norte do Recife, Josinete Maria dos Santos Ferreira, de 71 anos, vê as chuvas levarem suas conquistas anualmente. Com a chegada do período chuvoso, o receio aumenta e os pensamentos de que pode perder o pouco que recuperou surrupiam as noites tranquilas de sono.

Para reduzir os prejuízos causados pelas águas, a Ação Inverno 2025, da Prefeitura do Recife, realiza trabalhos de micro e macrodrenagem, limpeza de canais, contenção de encostas, prevenção e monitoramento em áreas de risco, mutirões e eliminação de pontos críticos de alagamento. 

De acordo com a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emblurb), 55 canais já foram limpos, 10 estão com a ação em andamento e mais 31 estão programados para iniciar em breve, dando continuidade nos serviços para atender os 99 canais que cortam o município até meados de setembro. Até agora, foram removidas mais de 26 mil toneladas de resíduos dos canais beneficiados com a ação de limpeza.


Um episódio que marcou a vida dela foi a morte do marido. Em 2017, ele precisou ser retirado pelo Corpo de Bombeiros para ser levado para a UPA de Nova Descoberta ao sentir um mal estar no período chuvoso. Naquele dia, a viatura do Samu não conseguiu chegar na residência por conta dos alagamentos. Dona Josinete acredita que o esposo morreu ao passar mal com o cheiro da água suja que entrou em casa.



Maria José da Silva, de 63 anos, mora no bairro de Campo Grande, a cerca de 50 metros da Ponte do Arruda, e afirma que muitos moradores jogam lixo no canal e que quando chove, nenhum carro passa pela rua. “Os carros ficam todos parados por aqui e as pessoas não conseguem sair de casa. Aqui não entra água nas nossas casas, mas atrapalha quem sai de carro. Aqui a prefeitura faz o serviço de limpeza sempre”, destaca.

Ano após ano, o inverno mexe em uma ferida aberta e quem vive nas áreas de risco sente o peso de uma espera que nunca termina. Aguardam por obras que demoram a chegar e por soluções que vão além de remediar, como são os casos das barreiras. A tragédia de 2022, que matou mais de 130 pessoas no Grande Recife, expôs a fragilidade das moradias, a falta de planejamento urbano e a desigualdade que se infiltra até no solo encharcado.

Foram sete dias seguidos de chuva intensa, alagamentos em vários bairros, ruas cobertas de lama, corpos sendo retirados dos escombros e escolas funcionando como abrigos improvisados. A servidora pública Liliane Hipolito, de 41 anos, acorda todos os dias de frente para uma barreira em Nova Descoberta, também na Zona Norte. Ela já viu a casa onde vive ser destruída pelas chuvas de 2022.


“A construção do trabalho de anos, a gente perdeu em segundos e depois a gente teve realmente que reconstruir tudo de novo. É muito difícil. Toda vez que anuncia que vai ter chuva, a gente tem que estar em casas de parentes. É aterrorizante o medo, tudo que a gente passou aqui, a gente não quer passar de novo. O risco da barreira é quatro, segundo os próprios engenheiros da prefeitura. É um risco altíssimo e a barreira está a menos de 2 metros da casa. A única coisa que chega para a gente aqui é mensagem da Defesa Civil mandando a gente procurar um abrigo”, pontua Liliane, que mora em um 1º andar acima da casa da mãe e da irmã.

Mesmo antes disso, em 2021, a cidade já havia registrado perdas com enchentes e deslizamentos. Em 2010, 2014 e 2019, outras tragédias marcaram a história da cidade. Mas nenhuma dessas datas apagou a marca deixada em cada família que viu a água subir e a parede cair.

A Emlurb ainda informou que serão destinados R$ 322,9 milhões de recursos da gestão municipal para viabilizar o conjunto de intervenções destinadas a minimizar os impactos das chuvas na cidade neste ano, “com um pacote de obras estruturadas que inclui novas intervenções no Rio Tejipió, construção de reservatórios de água na região da Imbiribeira, contenção de encostas, urbanização de comunidades afetadas pelas chuvas e mitigação de pontos críticos de alagamento”.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco