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Nova pílula anticoncepcional chega ao Brasil com promessa de menos efeitos colaterais

O contraceptivo à base de estetrol (E4), combinado com drospirenona promete diminuir reações como náuseas, dor de cabeça, sensibilidade nas mamas, inchaço, retenção de líquidos e alterações de humor

Com o objetivo de atender mulheres que relatam efeitos colaterais indesejados com o uso de anticoncepcionais tradicionais, foi anunciado, no último dia 28, a chegada ao Brasil de um novo contraceptivo à base de estetrol (E4), combinado com drospirenona. A formulação promete baixa incidência de reações como náuseas, dor de cabeça, sensibilidade nas mamas, inchaço, retenção de líquidos e alterações de humor. 

O composto foi avaliado ao longo de 12 meses em um estudo com 3.417 mulheres europeias, com idades entre 16 e 50 anos. A pesquisa demonstrou que o uso do anticoncepcional com estetrol resultou em menor ocorrência desses efeitos. Publicado em periódicos científicos como The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care (Apter et al.) e Contraception (Chen et al., 2022), o estudo incluiu participantes com perfis diversos, entre elas, mulheres brancas, negras, latinas, magras e gordas. 

Desenvolvido pelo laboratório belga Mithra Pharmaceuticals e produzido no Brasil pela farmacêutica Libbs, o medicamento foi aprovado pela Anvisa em 2023 e está disponível no mercado desde março, sob o nome comercial Nextela. A novidade foi apresentada a ginecologistas, especialistas em saúde feminina e jornalistas durante um evento que ocorreu no estado de São Paulo.  

Como funciona uma pílula contraceptiva  

Para entender a nova pílula, é essencial compreender o funcionamento dos anticoncepcionais orais e como eles atuam no corpo da mulher.  

O funcionamento dos anticoncepcionais orais se baseia no controle hormonal. Eles combinam hormônios sintéticos, geralmente estrogênios e progestágenos, para evitar a ovulação e prevenir a gravidez. O estrogênio, responsável por regular o ciclo menstrual e promover o crescimento do revestimento uterino, é combinado com o progestágeno, que impede a ovulação, engrossa o muco cervical para dificultar a passagem dos espermatozoides e torna o útero menos receptivo à implantação de um óvulo fertilizado.  

Além da contracepção, essas pílulas também podem ser indicadas para tratar condições como síndrome dos ovários policísticos (SOP), endometriose, acne e irregularidades menstruais, sempre sob prescrição médica e de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.  

Nos anticoncepcionais tradicionais, o estrogênio geralmente utilizado é o Etinilestradiol (EE) ou Estradiol (E2), ambos hormônios sintéticos que imitam o estrogênio natural produzido pelo corpo feminino. O progestágeno utilizado pode ser uma variação sintética da progesterona, como o Levonorgestrel ou Desogestrel, dependendo da fórmula.  

Embora eficazes, essas combinações podem causar efeitos colaterais, pois os hormônios passam por um processo metabólico no fígado antes de serem absorvidos pelo organismo, o que pode resultar em sintomas como alterações de humor, ganho de peso, sensibilidade mamária, retenção de líquidos e acne.  

O evento de lançamento aconteceu no Hotel Tivolli Mofarrej, localizado na Zona Oeste da cidade São Paulo

Nova fórmula: Estetrol e Drospirenona  

A nova pílula, lançada pela Libbs no Brasil, combina Estetrol (E4) e Drospirenona (DRSP), trazendo vantagens significativas em relação aos anticoncepcionais tradicionais, segundo informações da empresa.  

O Estetrol (E4) é um estrogênio natural produzido pelo fígado do feto durante a gestação, mas pode ser sintetizado para uso terapêutico a partir de fontes vegetais, como a soja. Sua ação é mais seletiva sobre os receptores de estrogênio e reduz o impacto no fígado e no sistema cardiovascular, minimizando sintomas como retenção de líquidos e alterações metabólicas.  

Jean Michel Foidart, descobridor do estetrol, destacou que a substância é “99,9% pura e completamente bioidêntica, mantendo todos os benefícios do estrogênio natural com uma taxa de eventos adversos muito baixa.”  

A médica Juliana Brandão reforçou essa vantagem, explicando que "o estetrol não ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona, que regula o equilíbrio de líquidos e a pressão arterial. Isso significa que ele tem menor influência sobre a retenção de líquidos e o inchaço.”  

Ela também mencionou que “o Estetrol tem um efeito benéfico sobre a produção de células mamárias, diminuindo a proliferação das mesmas, o que pode reduzir o risco de alterações indesejáveis no tecido mamário, como o aumento da sensibilidade."  

Já a drospirenona (DRSP), um progestagênio sintético, complementa a ação do estetrol ao inibir a ovulação, engrossar o muco cervical, dificultando a passagem dos espermatozoides, e ajudar no controle da acne, da oleosidade da pele e da retenção de líquidos.  

Além disso, o estetrol oferece proteção contra a perda óssea e pode auxiliar no alívio de sintomas da menopausa, como o calor intenso. 

Resultados 
 
Uma pesquisa realizada com 3.417 mulheres, entre 16 e 50 anos, ao longo de 12 meses, forneceu dados relevantes sobre a segurança do anticoncepcional com estetrol (E4) em comparação aos métodos hormonais tradicionais. Os resultados foram publicados nos periódicos The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care (Apter et al.) e Contraception (Chen et al., 2022). 

No estudo, apenas 1,5% das participantes relataram diminuição da libido, apontando para uma baixa incidência de efeitos colaterais relacionados ao desejo sexual. Além disso, foi registrado um impacto significativamente menor do anticoncepcional com estetrol nos fatores de coagulação do sangue: apenas um caso de trombose foi notificado entre as 3.417 mulheres analisadas, sugerindo uma taxa muito baixa desse efeito adverso. 

"O estetrol tem menor impacto também nos fatores de coagulação, na pressão arterial, não altera os níveis de carboidratos e possui uma absorção alta, de 70%, aumentando, assim, a sua eficácia", destacou a doutora Juliana Brandão. 

Ela acrescenta ainda que, de acordo com os estudos, o anticoncepcional contribui para o equilíbrio hídrico do corpo, o que pode refletir na redução de peso. "Cerca de 30% das usuárias de Nextela apresentaram perda de até 2 kg após três meses de uso. Não necessariamente por redução de gordura ou massa, mas por não provocar retenção hídrica", explicou. 

Apesar dos resultados promissores, especialistas alertam que ainda são necessários estudos pós-comercialização para confirmar se o Nextela realmente apresenta menor risco de tromboembolismo venoso (TEV) e outros efeitos adversos a longo prazo.   

O Nextela  

A pílula anticoncepcional Nextela foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2023 e passou a ser comercializada no Brasil em março deste ano. O produto é vendido exclusivamente com prescrição médica, em cartelas com 28 comprimidos, e já pode ser encontrado nas farmácias, com preços a partir de R$ 100. 

Desenvolvido por meio de uma transferência de tecnologia entre o laboratório belga Mithra Pharmaceuticals e a unidade de produção da Libbs Farmacêutica, em Embu das Artes (SP), o Nextela também está disponível em mais de 40 países, incluindo Canadá, Estados Unidos, Austrália, Israel, Japão, Rússia e Taiwan. 

Ginecologistas no Brasil têm avaliado o perfil de suas pacientes para determinar a adequação do medicamento, levando em conta características individuais e necessidades específicas. 

Leia a notícia no Diario de Pernambuco