A Lojas Americanas não recorreu à sentença que a condenou a indenizar por danos morais uma cliente negra que foi obrigada a abrir a mochila após ser injustamente acusada de furto em uma unidade no Recife. Com isso, a estudante Ivone Marques da Silva, de 27 anos, deverá receber R$ 10 mil da empresa.
A Americanas tinha até o fim da terça-feira (29) para se manifestar, mas não apresentou qualquer recurso no Tribunal de Justiça (TJPE). "Eu fiquei feliz. Foi provado que eu não tinha feito aquilo", diz Ivone ao Diario de Pernambuco.
Segundo a estudante, a decisão serve de incentivo para que pessoas denunciem caso enfrentem situação semelhante. "Muitas pessoas passam por isso todos os dias e não fazem nada. Quando divulguei o vídeo no Instagram, houve vários comentários de pessoas dizendo que já passaram pela mesma coisa", ela completa.
Embora tenha considerado baixo o valor da indenização, Ivone diz ter ficado satisfeita com a condenação da Americanas. "Nenhum valor paga o que eu passei. Foi horrível".
A estudante relata ter ficado traumatizada após o episódio. Ela trabalhava no mesmo shopping em que funcionava a unidade em que foi acusada de furto. Segundo afirma, ela passou a evitar passar na frente do estabelecimento.
"Ainda hoje, não gosto de ir com mochila a supermercados. Fico pensando que vai acontecer a mesma coisa", comenta.
Relembre o caso
Em 1º de março de 2024, Ivone Marques foi acusada de furto ao se dirigir ao caixa da Americanas, sendo forçada a abrir a mochila na frente dos demais clientes. Ela alegou ter sido vítima de racismo e constrangimento.
Ela filmou o momento em que abria a mochila, e o vídeo repercutiu nas redes sociais.
"Por isso é sempre recomendável usar o telefone celular como ferramenta de produção probatória, além de requisitar às autoridades as imagens dos circuitos internos em até 12 dias após o fato, para evitar que sejam sobrescritas. Em casos extremos, é possível pedir a apreensão do HDR e submetê-lo à perícia, quando há indícios que o ofensor tenta ocultar provas", diz o advogado Kleber Freire, que representa Ivone.
Mais de um ano após episódio, um inquérito da Polícia Civil sobre o mesmo episódio, que investiga em paralelo os supostos crimes de racismo, calúnia e constrangimento ilegal, ainda está em andamento.
"Infelizmente o Estado de Pernambuco atravessa um grande déficit de recursos humanos na área de Segurança Pública. Existe hoje uma grande ciranda de pessoal nas delegacias, que culmina na descontinuidade dos procedimentos", lamenta o advogado.
Com relação à sentença que condenou a Americanas por danos morais, a empresa emitiu uma nota afirmando atuar para a construção de uma sociedade antirracista. Confira o posicionamento na íntegra:
"A Americanas não comenta processos em andamento na Justiça. A companhia reitera que atua de forma contínua e coletiva, junto a órgãos de classe, para a construção de uma sociedade antirracista".