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Brincadeira perigosa: surf no ônibus desafia autoridades

Nos últimos três anos, quatro adolescentes foram mortos e dois mutilados por conta do atos criminosos.


 
Ao menos duas vezes por semana, vídeos de jovens praticando “surfe” ou pegando “carona” pendurados nas janelas e portas dos ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR) circulam nas redes sociais. A prática tem desafiado as autoridades a acharem uma solução para algo que tem se tornado comum no dia-a-dia do morador da Região Metropolitana do Recife. 

Nos últimos três anos, quatro adolescentes foram mortos e dois mutilados por conta do atos criminosos. Um deles é recente, nessa quinta (18), um jovem de 17 anos estava “surfando” na BR-101 quando policiais da Polícia Rodoviária Federal (PRF) abordaram o ônibus, o rapaz tentou fugir e quebrou os dois tornozelos. 

“Normalmente são jovens, crianças e adolescentes, que querem se colocar em uma situação de risco. Eles já estão lá com o pensamento de utilizar o ônibus como uma vitrine de auto projeção para se mostrar para os amigos”, relata Matheus Freitas, diretor-presidente do Grande Recife Consórcio de Transportes.

Famoso até no exterior, o bigu, como é chamada a prática de pegar carona nos ônibus, e o surf já ganharam os holofotes do jornal norte-americano The New York Times. Na ocasião, o fotógrafo e jornalista Victor Moriyama fez uma reportagem em 2017 sobre o surf nos ônibus. 

Na entrevista, o então líder do grupo “Loucos do Surf”, Marlon, contou que a escola não o atraía. “Ao invés disso, ele disse, quando ele estava sentado com um livro, ele sentia que estava perdendo tempo que poderia ser gasto surfando”, escreveu o jornalista na reportagem. 

Nas redes sociais, é possível encontrar páginas de grupos que marcam encontros para realizar a prática, uma delas soma mais de dez mil seguidores. Segundo o Grande Recife, são através dessas páginas que grupos se reúnem para marcar encontros para praticar morcegamentos e surfes. Nos vídeos, meninos e meninas aparecem surfando na capota dos ônibus em algumas avenidas da Região Metropolitana do Recife, cantando, ouvindo música e dançando enquanto “se divertem”. 

Matheus explica que a prática é feita, normalmente, em locais de grande visibilidade, como por exemplo, na avenida Domingos Ferreira, na Conselheiro Aguiar e na Avenida Norte. “Não somente no Recife, mas também acontece muito em Olinda, Jaboatão, São Lourenço da Mata, e em especial, em Camaragibe”. 

Para ele, os jovens praticam o surf e o morcegamento justamente para isso: se divertir. “Já teve adolescente que perdeu o braço, outros que morreram, outros que provocaram acidentes, então apesar de podermos ter uma visão social de categorizá-los como pessoas de baixa renda, eles procuram muito mais um momento de adrenalina e filmagem para colocar nas redes sociais. É isso que a gente tem visto”, afirmou.

“Pelo que parece eles se colocam em algum tipo de competição, querendo provar que são capazes”, comentou.

A prática que, para alguns pode ser considerada como diversão, pode causar sérios acidentes de trânsito. “Eles não têm a responsabilidade de notar que estão colocando a vida de outras pessoas em risco. Então, é muito sério. É um crime. O Ministério Público tem nos cobrado ações a respeito da identificação dessas práticas criminosas, para que essas pessoas sejam identificadas e sejam tomados os devidos atos para correção”, diz Matheus Freitas.

Soluções

Em maio de 2023, um adolescente de 17 anos morreu após cair de um ônibus na Avenida Agamenon Magalhães, na altura do Derby, na área central do Recife. Segundo testemunhas, ele estava pendurado na janela do ônibus, acompanhado de um grupo de 20 jovens, quando caiu e foi atropelado.


Através do número da polícia, o 190, usuários do transporte público podem fazer denúncias. Além dele, o Grande Recife Consórcio também disponibiliza a Central de Atendimento ao Cliente do Consórcio, das 7h às 19h, no número 0800 081 0158, ou pelo WhatsApp (9.9488.3999), das 5h30 às 21h30, para mensagens de texto, áudio, fotos ou vídeos, exclusivo para reclamações. 

“Muitas vezes eles fazem isso rapidamente, sobem, descem e vão embora, mas é importante a denúncia dos usuários nos canais de comunicação, para que possamos identificar e direcionar a polícia e procurar saber quem são essas pessoas que fazem essas práticas e poder coagi-las. É de uma irresponsabilidade gigantesca. Sabemos da importância do transporte público para ir para o trabalho, escola, faculdade. No final, a gente que tá sendo suprimido do direito de ir e vir através do transporte público por conta da irresponsabilidade de alguns. É um problema mais de civilidade dessas pessoas em um ambiente urbano do que qualquer outra coisa”, afirma Matheus Freitas.

Leia a notícia no Diario de Pernambuco