Vida Urbana

O perigo anda de moto: número de mortes aumenta no Recife

Entre 2017 e 2022, pelo menos 219 motociclistas morreram por conta de acidentes no Recife

Pilotar uma moto hoje em dia permite mais agilidade no trânsito, facilidade em estacionar e economia no bolso. Mas andar sobre duas rodas tornou-se sinônimo de exposição em excesso, ultrapassagem de limites, imprudência e infrações de trânsito.
 
No Recife, este cenário não é diferente. Um levantamento feito pela Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) mostra que 321 motociclistas foram vítimas de sinistros de trânsito em 2022, o que significa um aumento de 3% comparado ao ano anterior. Houve incremento na quantidade de mortos e feridos. 

Apesar do número alarmante, não é difícil de entender o porquê destes dados, pois basta relembrar quantas infrações são cometidas pelos motociclistas em um breve percurso.
 
Entre as principais violações cometidas por eles estão desrespeitar o sinal vermelho e a placa pare, trafegar em velocidade acima do permitido, pilotar sem capacete ou com a viseira irregular, ultrapassar pela contramão, fazer manobras de risco, transportar crianças menores de 7 anos, estacionar em local proibido e pilotar usando chinelo.

Algumas destas infrações são as principais responsáveis pelos sinistros no trânsito do Recife e o relatório emitido pela CTTU destaca que, entre 2021 e 2022, verificou-se um aumento de aproximadamente 22,9% na quantidade de motociclistas feridos.
 
Já entre os anos de 2017 e 2022, foram 6.636 pessoas feridas em sinistros com motos, sendo 5.227 condutores e 1.409 passageiros.

As informações coletadas pela CTTU no ano de 2022 indicam que a cidade segue o mesmo padrão dos centros urbanos de países em desenvolvimento em que as principais vítimas feridas são homens com idade entre 20 e 29 anos.
 
Pelo menos 74,7% dos feridos são homens. O documento ainda expõe que o número de homens feridos no trânsito do Recife é três vezes maior do que o número de mulheres.

Os dados de vítimas fatais em sinistros envolvendo motociclistas segue o mesmo padrão. Em 2022 o número de mortes gerais no trânsito teve um crescimento de 19% em comparação ao ano de 2021.
 
Das vítimas, 39 eram motociclistas. O balanço feito com dados entre os anos de 2017 e 2022, aponta que houve 219 motociclistas mortos em decorrência de acidentes. Eles ficam atrás apenas dos pedestres, com 293 vítimas fatais.

A CTTU também mapeou os locais onde mais são registrados infrações de trânsito no Recife. “Dentre as ocorrências de sinistros de trânsito envolvendo motociclistas feridos entre 2017 - 2022, a maioria dos registros está nos grandes corredores da cidade. Destacam-se a Av. Agamenon Magalhães, Av. Caxangá e Av.Dr. José Rufino. Sobre os pontos críticos observa-se alto volume de registros, nos Bairros do Derby, Benfica e na região central do bairro de Afogados”, consta o relatório.

A série histórica de ocorrências de sinistros de trânsito envolvendo feridos no período da noite e da madrugada entre 2017 e 2022, apresenta elevada concentração de registros em diversos corredores viários da cidade com destaque para a Av. Caxangá, Av. Prof. José Rufino, Av. Agamenon Magalhães e Av. Norte. Destaca-se também a Zona Sul da cidade com alto volume de ocorrências.
 
A imprudência dos motoqueiros também prejudica outras pessoas que passam diariamente pelo trânsito da cidade. Pedestres andam com mais receio por não se sentirem respeitados e motoristas de outros veículos redobram a atenção nas vias. O taxista Luiz Bezerra comentou que vê todos os dias infrações cometidas pelos motociclistas. 

"Tem que ter cuidado redobrado, porque muitas vezes os motoqueiros fazem o próprio corredor e ficam nos pontos cegos dos carros. As infrações mais constantes são avanço de sinal, subir em cima das calçadas e estacionar em locais proibidos. Na minha opinião, o que poderia ser feito para melhorar esse cenário é criar um corredor para as motos, assim como os ônibus possuem. Sei que é difícil, mas diminuiria bastante os acidentes”, contou.

A falta de responsabilidade dos motoqueiros no trânsito também é mal vista por integrantes da mesma classe. Alberto Monteiro pilota moto desde cedo e destacou que sempre vê entregadores por aplicativo infringindo as leis. “Os entregadores precisam cumprir prazos e correm demais com as motos e passam no sinal mesmo ele estando vermelho. Recentemente, um amigo meu que é entregador sofreu um acidente por ultrapassar o sinal. Ele teve fratura exposta e perdeu uma perna”, relatou.

Em entrevista ao Diario de Pernambuco, o prefeito do Recife, João Campos, explicou que a cidade estava avançando com uma política pública para regulamentar os entregadores por aplicativo da capital pernambucana. Mas, segundo ele, houve uma suspensão por conta de uma decisão judicial.

CTTU e Detran-PE promovem ações para tentar reverter o cenário alarmante, que deixa mais vítimas a cada ano

Ações de trânsito para conscientizar os motoqueiros sobre os riscos de dirigir infringindo as leis se tornam cada vez mais necessários à medida que os números nos índices de acidentes aumentam. Atividades como estas são promovidas pela CTTU e pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-PE) de forma incansável ano após ano.

A CTTU realizou entre janeiro de 2022 e setembro de 2023, aproximadamente 1.250 operações de fiscalização na cidade. As operações são associadas às campanhas de comunicação. 

A autarquia também modernizou os semáforos para dar maior eficiência operacional e garantir interação segura entre os diversos usuários das vias. Entre 2022 e 2023 foram implementados 195 novos controladores semafóricos. A CTTU também deu continuidade à implementação de novos radares de velocidade.

O Detran-PE, por sua vez, disponibilizou um curso gratuito de segurança para motociclistas em agosto deste ano. Foram abordadas situações de risco, postura para evitar sinistros, pilotagem em condições adversas e posicionamento da motocicleta na via. Já na parte prática, estava incluído o ajuste de equipamentos, inspeção preventiva, troca de pneus, circulação, parada e estacionamento.

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