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Dinheiro gasto em restauração de patrimônios pichados é suficiente para fazer creches, UPA e escadarias

Mais de R$ 240 mil são destinados exclusivamente para revitalizar monumentos pichados no Recife

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Foto:  Ruan Pablo/ESP. DP
A Ponte Paulo Guerra, que liga os bairros do Pina e Cabanga foi revitalizada recentemente, mas os pichadores nem esperaram a tinta secar para deixar suas marcas

Quem anda pelas ruas do Recife já não se surpreende mais com os monumentos da cidade repletos de pichação, mas nem imagina quantos milhões são gastos para recuperar estes patrimônios públicos. No final das contas, o dinheiro sai do bolso de quem paga imposto e poderia ser investido na educação, saúde e infraestrutura da cidade. 

De acordo com informações da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), os atos de depredação do patrimônio público, incluindo pichações, fizeram a prefeitura gastar R$ 2.416.493,86 em manutenção. Deste valor, R$ 247.694,14 foram exclusivamente para revitalizar pontes e prédios públicos pichados. 

Os valores gastos com a manutenção dos monumentos são o suficiente para para:

  • Construir uma Upinha;
  • Requalificar quatro unidades de saúde da família; 
  • Construir uma nova creche;
  • Fazer uma escola no atual padrão de qualidade; 
  • Requalificar 24 escadarias com corrimão;
  • Implantar 1.700 pontos de iluminação em LED no Recife
 
“A prefeitura faz diversos investimentos na área de manutenção e a gente desperdiça bastante recurso voltado à manutenção de diversos bens, seja na parte de ponte de iluminação pública. Então a gente enxerga um recurso investido de forma indevida, um valor desperdiçado, onde a gente poderia estar fazendo melhorias na infraestrutura da cidade ou voltando à implantação de diversos bens para a comunidade”, explica a diretora de Manutenção Urbana da Emlurb, Gabriela Buarque.
 
Os pontos turísticos da cidade são vistos como motivo de vergonha pelos recifenses e os turistas precisam se esforçar ainda mais para garantir uma boa foto com estátuas e outros monumentos que não estão pichados. As pichações no Caranguejo e no busto de Joaquim Nabuco, localizados na Rua da Aurora, retratam a falta de respeito com a cultura local.

A Ponte Paulo Guerra, que liga os bairros do Pina e Cabanga foi revitalizada recentemente, mas os pichadores nem esperaram a tinta secar para deixar suas marcas. Os prédios altos do bairro da Boa Vista também entram na lista de “favoritos” dos pichadores, que demonstram o poder do grupo através das pichações nos lugares mais inesperados. 

Pichação ou grafite?
 
Os danos aos monumentos causados pela pichação são confundidos com a arte de grafitar. Para não voltar as críticas aos artistas grafiteiros, é importante ressaltar a diferença entre o grafite e a pichação.
 
O primeiro pode ser entendido como uma expressão artística contemporânea, é mais bem trabalhado, respeitado e estimulado pelo Poder Público. Além disso, os grafiteiros costumam ter os serviços contratados para desenhar em locais públicos e privados, a fim de trazer mais harmonia para o ambiente.

Já a pichação é entendida como a prática de escrever ou rabiscar em prédios, fachadas e monumentos. Na maioria das vezes, a pichação é feita em locais proibidos e pode ser entendida como um insulto aos patrimônios, além de ser visualmente agressiva. 
 
A ação é considerada crime contra ordenamento urbano, patrimônio cultural e meio ambiente, de acordo com o artigo 65 da lei 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). O pichador pode cumprir detenção de 3 meses a 1 ano, além do pagamento de multa. No entanto, o autor do crime só poderá ser punido com prisão se for flagrado causando danos nos patrimônios, o que torna a prisão rara, já que este tipo de crime ocorre à noite e em locais com pouco movimento.

Somente no ano passado, foram feitos mais de 150 Boletins de Ocorrência sobre danos aos patrimônios públicos. A Prefeitura do Recife tem intensificado a presença de viaturas da Guarda Civil em locais que costumam ser pichados, além de inserir câmeras de segurança perto dos patrimônios públicos.
 
No entanto, as medidas não são suficientes para intimidar os pichadores, que deixam a prefeitura “enxugando gelo”.

Para denunciar ações de danos aos patrimônios públicos, basta ligar para o número da central de atendimento da Emlurb, 156 ou para o número 197, da Polícia Civil.