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Solidariedade e superação, conheça a história da baiana Rita Santana

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A baiana, Rita Santana, 53 anos, fundadora do projeto social Estrela da Manhã, carrega consigo uma história de vida repleta de força, superação e muita fé. A iniciativa social surgiu em 1992 e tem como principal propósito ajudar o próximo. Quando Rita tinha apenas cinco anos sentiu a dor de perder a mãe, que cometeu suicídio. Depois ela foi morar na casa de parentes, onde sofreu abuso sexual, agressão e decidiu ir para as ruas, até encontrar pessoas que a estenderam a mão, ensinando o poder e a grandeza da solidariedade, sendo possível sonhar e iniciar o seu projeto para levar luz a quem mais precisa. A psicóloga Yolanda Leimig ao assistir uma live do canal no YouTube do Tadashi Kadomoto, que sempre acompanha, sobre a trajetória de Rita, se sentiu muito empolgada e interessada em contar a história da baiana repleta de garra e caridade as pessoas. 

A ativista social lembra dos momentos que a marcaram ainda na infância, quando sua mãe estava sozinho no quarto e jogou solvente no colchão e acendendo, causando um fogo de grande proporção que atingiu o próprio corpo. A mãe de Rita após sete dias internada, faleceu. No total eram quatro irmãos, três meninos e ela a única garota. Três foram para as casas de familiares e um ficou na casa do pai. Rita foi morar com a tia e mais dois primos. Na casa, ela dormia no corredor da casa num sofá de plástico e em pouco tempo de moradia passou a sofrer abuso sexual e agressão física pelo primo, que a machucava  para ela não relatar a prática da violência sexual. A tia da garota também a batia para ela fazer as tarefas domésticas e para não falar sobre os abusos sexuais cometidos por seu filho. “Todos os dias, ele me levava para o quarto dele e fazia o que ele podia fazer comigo, furava minha cabeça com objetos pontiagudos para eu não falar para a minha tia e nem para ninguém. Mas eu sangrava muito e minha tia via aquilo e eu apanhava dela para não dizer a outras pessoas”, contou Rita Santana. 

A alimentação da sobrinha era controlada pela tia, que só a deixava consumir um pão no café da manhã, almoçar somente depois que todas as pessoas da casa tivessem feito a refeição e um pão, como jantar, mesmo casa tendo uma variedade de alimentos. Uma noite, Rita pegou uma tangerina escondido e sua prima sentiu o cheiro da fruta e fez uma ameaça dizendo que no outro dia bateria nela. “Nesse dia, eu chorei muito, pedindo a Deus que não deixasse ela bater em mim, que eu nunca mais pegaria nada de ninguém e nem faria nada errado. Eu só queria aquela a tangerina e no outro dia, é foi como se ela tivesse esquecido e não me bateu. Então, eu entendi, que se eu falasse, com Deus, ele me ouvia e eu criei um hábito. O meu amigo, o meu pai, a minha mãe é Deus. E tudo o que eu não conseguia falar para ninguém, eu falava para ele”, relembrou. 

A prima de Rita alertou a mãe sobre os abusos sexuais que garota vinha sofrendo pelo primo e que futuramente poderia resultar numa gravidez e a tia da garota a mandou morar com o seu pai, quando ela estava próximo de completar 12 anos. O pai de Rita desenvolveu alcoolismo em decorrência da morte da esposa. A garota começou a fazer serviço doméstico em casas da região, mas seu pai pegava o dinheiro para gastar com bebida alcoólica. O pai dela se dispõe a “trocar” a filha por bebidas, mandando a ela ir morar com o dono da barraca. Nesse momento, ela decidiu ir morar na rua, permanecendo dos 12 aos 16 anos em situação de rua. 

Sem ter uma casa para viver, Rita enfrentou muitas dificuldades nas ruas, como violência e muita fome. Durante o dia a dia para se alimentar era um desafio. Ela pedia ajuda as pessoas e foi numa dessas tentativas, em uma rodoviária, que ela encontrou uma senhora chamada Ester, acompanhada do marido e da filha, que pagou um lanche, a levou para morar em sua casa e ajudar nas atividades domésticas. Um dia Rita se machucou lavando uma escada da residência e fraturou a perna, sendo mandada embora pelo marido de Ester. Sem lugar para ficar, a solução encontrada por ela veio através de um curso de croché. A dona do curso, Suele, a levou para casa e a amparou. “Eram umas 22h e Suele me colocou para dormir e no outro dia, ela levou uma bandeja com pão e suco de beterraba, laranja e cenoura. Ela falou que minha mãe, em São Paulo, se comunicou na Federação Esperita e pediu que ela me ajudasse. Suele veio e me mostrou o que era caridade, o amor e depois ela precisou ir para São Paulo e eu fiquei trabalhando na casa de uma família”, afirmou Rita. 

Com o trabalho de doméstica, Rita destinou o seu primeiro salário para começar a construir o seu sonho de fazer o bem e ajudar as pessoas em vulnerabilidade social. “Eu comprei tudo de brinquedo e quando eu voltei para o trabalho, meu patrão ficou sem entender. Eu expliquei que um dia eu precisei pegar uma tangerina e que eu prometi para Deus, que um dia eu queria ter um monte de comida, de brinquedo para doar e o meu primeiro salário eu fiz isso”, descreve. 

Projeto Estrela da Manhã
O projeto Estrale da Manhã foi fundado em 1992 e tem como público-alvo crianças e jovens, além atender pessoas em vulnerabilidade social. Entre as principais atividades desenvolvidas pela iniciativa estão, os projetos de futebol, karatê, ballet, informática, inglês, atendimento psicológico e  odontológico. E cursos profissionalizantes de educação financeira, segurança do trabalho, designer de sobrancelha, manicure, artesanato, entre outros, para adultos. Para o ano de 2023, a ação social visa investir mais na área da educação, focando no reforço escolar presente na entidade. 

O projeto localizado na rua Caminho 88, nº 16, no bairro de Vida Nova, na cidade de Lauro de Freitas, Bahia, entrega diariamente em média 78 marmitas com almoço para moradores de rua e alcoólatras. Em todas terças e sextas-feiras, é distribuída sopa em comunidades. Atualmente, 350 famílias estão cadastradas no projeto e em sua trajetória desde sua criação, mais de seis mil pessoas já foram beneficiadas com o trabalho da iniciativa social. “O nosso objetivo é não permitir que nenhuma criança passe pelo o que eu passei. É levar conhecimento a todas as crianças e jovens que eu conseguir alcançar. Mostrar que o mundo pode ser diferente e todas são iguais, que têm direitos de serem felizes. Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas. O que a gente precisa é espalhar esse perfume de amor e solidariedade, amar ao próximo, como assim mesmo é o principal mandamento. Então, a gente deve estender a mão ao nosso próximo, destacou a fundadora do projeto. Conheça mais sobre o projeto através do Instragram, o @gpestreladamanha.