Com dezenas de mortos e desaparecidos, Jardim Monteverde é tomado por famílias enlutadas

(Com informações de Rômulo Chico)
"Perdi 11 pessoas da minha família". É com a voz embargada que Luiz Estevão inicia seu relato sobre a maior tragédia dos últimos anos registrada em Pernambuco. O grande volume de chuvas que assola o estado desde a última quarta-feira (25), vem arrastando barreiras, casas e famílias inteiras.
No bairro de Jardim Monteverde, no Ibura, o luto generalizado tomou conta de quem mora no local. Considerada o ponto mais afetado pelas chuvas, a comunidade que fica na divisa entre os municípios do Recife e de Jaboatão dos Guararapes se reúne para velar seus mortos.
A dor dele se soma a de diversas famílias pernambucanas neste domingo (29). De acordo com o último balanço divulgado pelo governo de Pernambuco às 18h, 84 pessoas perderam a vida em desdobramentos das fortes chuvas que atingem o estado desde a última quarta-feira (25). Desse total, 79 morreram neste final de semana, a maior parte desses no Ibura, bairro periférico que é dividido entre os municípios do Recife e de Jaboatão dos Guararapes.
É com o olhar de quem assiste uma tragédia anunciada e repetida que ela questiona a atuação do poder público. "Quantas mortes não já aconteceram? Era para ter feito muro de arrimo e a prefeitura ter tomado conta", afirmou.
No deslizamento deste final de semana, Marília comenta aliviada que não perdeu parentes. "Minha sogra perdeu o imóvel e tudo que tinha investido em uma lojinha, não conseguiu retirar nada. É doloroso, a pessoa não tem mais o que falar, o choro prende na garganta. Estamos vivendo em um cenário de guerra", observou.
O sentimento de revolta pela demora nas buscas também é presente no local. "Só tem duas pessoas trabalhando, vim do interior, passando fome, necessidade, dormindo pelas calçadas. Quero justiça", constatou Luiz.
Segundo Suzane, parte da família foi vítima de um segundo deslizamento. "No primeiro, minha mãe e meu padrasto saíram e foram para a casa da vizinha da frente, foi quando aconteceu o segundo deslizamento". Já a casa do irmão e da cunhada teria sido levada no primeiro momento. Agora, assim como para outras dezenas de famílias no estado, a busca é por um encerramento digno. "Só quero um velório decente para eles", finalizou.