Em tempos de pandemia, Enem é desafio ainda maior para estudantes e professores

Ansiedade, expectativas, insegurança, incertezas… Estas são palavras já presentes no cotidiano de quem pretende concorrer a uma vaga em universidades e faculdades. Com a pandemia do novo coronavírus, que mudou drasticamente a dinâmica em diversos setores da sociedade, incluindo o educacional, algumas incertezas podem ter ganhado mais força nos últimos meses. Mesmo assim, 5,8 milhões de estudantes se inscreveram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e se prepararam para fazer as provas do certame.
Em um contexto incomum, muitos estudantes tiveram que aprender a conviver com as limitações impostas pela pandemia. Yasmin Mariana, 19, aluna da Rede Estadual, viu em 2020 um ano complicado para focar nos estudos. “Perdi alguém pra Covid-19, meu padrasto perdeu o emprego e minha mãe engravidou. E ainda tem o fato de ter três crianças em casa. Então foi tudo uma correria, um cansaço enorme o tempo todo”, diz. Durante o processo de preparação para as provas, a estudante conta que não conseguiu acompanhar boa parte das aulas, realizadas remotamente. “Perdi muitas [aulas] quando tudo fechou. Eu só tenho celular para estudar, e fica difícil pra mim. Então fiz o que pude para ver as aulas”, afirma.
A falta de contato com a rotina das aulas presenciais, por exemplo, foi um obstáculo a mais na preparação da estudante Marina Pedrosa, 17, para as provas. “Acredito que consegui me adaptar o máximo possível ao modelo remoto, mas senti muita falta da interação com meus amigos e professores pessoalmente, o que às vezes me deixava desmotivada”, confessa.
Para a professora de Linguagens do Colégio Núcleo e Doutora em Letras pela UFPE, Rita Kramer, os desafios trazidos pela pandemia foram um obstáculo a mais na hora de preparar os alunos. “Saber como o conhecimento está chegando ao estudante já é um desafio quando estamos perto dele, e online isso se acentua. Mas com a realização de um enorme número de atividades, de diagnoses de participação e do estímulo à interação, conseguimos trazer os estudantes para o engajamento que desejávamos”, conta.
“Luta contra distrações”
O estudante Phillipe Joseph, 18, classifica os meses de pandemia como “um processo de luta contra distrações”. Mesmo tendo que lidar com um período bastante incomum, ele conta que conseguiu manter o foco nos estudos e pretende fazer as provas com tranquilidade. “A partir das experiências com os simulados, eu entendi o que eu devo fazer na prova e o que não devo fazer. Eu encontrei uma ordem que se encaixou muito bem comigo para a realização da prova em ambos os dias”, revela.
De olho em uma vaga para o curso de Medicina, Fernando Pessoa, 17, afirma que teve que trabalhar duro para manter o foco nas aulas e atividades, mas ressalta que os exercícios que realizou ajudaram a treinar a concentração. “Na hora das provas, eu particularmente não tenho problemas com isso devido ao treino, o colégio proporcionou muitos simulados e através dos resultados que obtive estou me sentindo confiante para o dia da prova”, conta.
A estudante Maria Eduarda Ferreira, 17, teve dificuldades para se concentrar em casa, e sabe que vai ter que se dedicar ainda mais na hora das provas. “Em casa, tinha a necessidade de ouvir música para me concentrar nos estudos e nos simulados. Mas como não posso ter esse privilégio no Enem, vou tentar buscar meu foco de outra maneira”, afirma.
Um drible na insegurança
Em busca de escapar das incertezas em um período tão decisivo, alguns estudantes encontraram maneiras de se sentirem mais seguros com os conteúdos. Depois de meses tentando manter a rotina de estudos, Pedro Augusto, 16, candidato a uma vaga no curso de Direito, teve que montar uma estratégia para não se prejudicar no exame, mesmo com as incertezas quanto ao calendário de aulas da rede pública. “Pretendo manter o foco me acalmando, porque será um momento bem mais complicado do que já é”, revela.
Para Rita Kramer, o autocontrole é fundamental para que os estudantes obtenham um bom resultado no exame. “Num momento como esse, tão decisivo da vida, é normal ficar ansioso, mas alimentar pensamentos assim pode atrapalhar a construção que foi feita o ano todo. Por isso, é preciso ter muita calma e atenção para ler a prova com cautela”, afirma. “Cada um deve conhecer bem seus limites e buscar lidar com eles para ter o seu melhor desempenho. Não há uma fórmula única”.
O professor de Redação do Colégio Núcleo, Anderson Ferreira, destaca que a participação da família, principalmente no contexto atual, é muito importante para os alunos. “As instituições precisam estar em comunhão com as famílias, em parceria com os estudantes e seus familiares para que todo mundo acompanhe, conduza e apoie muito de perto”. O professor destaca, também, que a leitura atenta das instruções é fundamental para que o candidato obtenha sucesso no Enem. “É importante entrar no clima do edital, entrar no clima da prova nos próximos dias”, finaliza.
Um Enem, duas modalidades
Este ano, pela primeira vez desde que foi criado, em 1998, o Enem vai ser realizado em duas categorias: impressa e digital. Em ambos os casos, os estudantes têm dois finais de semana para responder às questões de Linguagens e Códigos, Ciências Humanas; Matemática e Ciências da Natureza e elaborar uma redação.
As provas da modalidade presencial do Enem 2020 serão realizadas nos próximos dias 17 e 24 de janeiro. Já as provas remotas estão marcadas para os dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro. Desde o último dia 5, os inscritos na modalidade presencial podem ter acesso ao número de inscrição e ao local de prova através do site https://enem.inep.gov.br/nodia.