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Pernambucana destaque na Revista Forbes ressalta importância da educação
A empreendedora pernambucana Simony César, 27 anos, recebeu feliz a notícia de ter seu nome publicado na Revista Forbes como uma das jovens promissoras under 30, ou seja, com menos de 30 anos. A informação chegou no apagar das luzes do ano passado. Mas no bairro onde viveu, em Dois Unidos, na periferia do Recife, Simony também soube, ao longo do ano, de mulheres mais jovens que ela parindo seus primeiros filhos. Simony, filha de uma ex-cobradora e dona de uma infância pobre, tem uma carreira e reconhecimento profissional internacional. Mas viu amigos de bairro terem a vida interrompida, de forma banal, durante um deslizamento de barreira, na véspera do último Natal. É sobre isso que Simony deseja falar.
Há uma semana, ela postou no Instagram um texto reflexivo chamado por ela de “possível improvável”. Nele, discorre sobre a educação como ferramenta indispensável para a mobilidade social, sobre a necessidade de programas sociais junto aos mais pobres e o falso discurso da meritocracia. “ Sou filha de uma ex-cobradora de ônibus que engravidou aos 18 anos e só não segurou a onda sozinha porque minha avó, mãe já de quatro filhos, decidiu me criar. Sem estudo e emprego, quando eu tinha dois anos, minha mãe foi tentar a vida em São Paulo e me deixou sob os cuidados de vovó Alda, que me educou, cuidou de mim e me ensinou a ler e escrever em casa. Meu privilégio: educação”, diz Simony, no início do texto.
Simony conta ter aprendido cedo que “furar a bolha” somente seria possível se ela estudasse. “Sabe todos esses programas sociais que vocês, classe média, já xingaram? Eu sobrevivi por conta deles. Trabalho desde os 12 anos e não acho isso louvável, mas também não sinto que minha infância foi roubada. Criança se ilude fácil. Mas parece que iniciar o trabalho aos 12 anos será regra para quem quiser se aposentar integralmente”, continuou.
Simony é a primeira pessoa da família do pai dela a entrar numa universidade pública. “A primeira a ter publicação científica, a primeira a empreender sem um real no bolso, a primeira a viajar por todo o Brasil e para fora do país por ter trabalho reconhecido. A primeira de gerações. Percebem o quanto isso é injusto? Vocês querem falar sobre meritocracia? Se mudem para uma comunidade, numa família com três filhos e aprendam a viver com um salário mínimo. Quem fizer o primeiro milhão, cedo meu espaço na Forbes.” A postagem rendeu milhares de likes e comentários de apoio.
Mas por que o nome de Simony foi parar na revista estadunidense de negócios e economia? Ela desenvolveu a tecnologia NINA para empoderar vítimas e testemunhas na denúncia de casos de assédio na mobilidade urbana.
Simony explica que a NINA tem dois braços de atuação. Faz diagnóstico da cidade do ponto de vista da violência de gênero e mobilidade urbana e usa a tecnologia para integrar a aplicativos de mobilidade já existentes, centralizando as denúncias. De posse dos dados, o poder público faz ações para reduzir os riscos vividos por mulheres. Isso implica ações de planejamento urbano também.
“A grande crítica da NINA é que a cidade é projetada por homens para homens. Jogamos luz nos dados e mostramos que a mulher negra e periférica é mais vulnerável. Sabendo disso, o governo pode fazer ações que ajudam todo mundo”, explicou. Um exemplo de política pública para reduzir assédio seria colocar mais iluminação em uma rua e não investir apenas na distribuição de policiais militares.
No ano passado, a tecnologia foi incorporada ao aplicativo de celular Meu ônibus, da Prefeitura de Fortaleza, o mesmo que permite ao usuário saber o tempo previsto para a chegada ao ponto de parada do ônibus. Quando acessado, surge o ícone NINA denunciar assédio. Quem quiser conhecer melhor o trabalho, pode acessar o site ninamob.com. O nome de Simony na lista da Forbes é mesmo um detalhe em sua história.