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Documentário sobre venezuelanos em Pernambuco é lançado no São Luiz

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O brasileiro Rodrigo Figueiredo, 41 anos, chegou à Venezuela em 2006. Sem planejamento de ficar no país, ele acabou formando laços e depois uma família por lá. Na época, nenhum dos motivos que o levariam a querer voltar ao Brasil existia. Em 2017, diante da crise econômica e política venezuelana, Rodrigo se viu forçado a vender a casa por 2 mil dólares e atravessar a fronteira com a mulher e as filhas, em um carro, rumo à cidade natal dele, Porto Alegre. A história dessa família é uma das que compõem o documentário Vindas e Vidas, lançado em sessão única, na noite desta segunda-feira (20), no Cinema São Luiz.

O filme relata a história de quatro famílias migrantes venezuelanas vivendo em Pernambuco. Três delas chegaram ao estado por meio do Programa de Interiorização Voluntária (Pana). O foco do documentário é explicar o que é ser migrante e refugiado e quais os conflitos e desafios do processo de acolhimento em outra terra. A partir do depoimento das famílias e autoridades, o documentário pretende romper com estereótipos e preconceitos. “É um registro e documentação de um momento novo no estado e um esclarecimento maior sobre o tema para tirar impressões falsas. O filme é também um convite à sociedade, à sensibilidade de cada pessoa”, disse o reitor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), padre Pedro Rubens de Oliveira.

A produção envolveu a Unicap, o Ministério Público Federal (MPF) na 5ª Região e a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 2. “A migração é um tema atual em vários países, não só no Brasil. O documentário narra casos de sucesso, pessoas que foram inseridas no mercado de trabalho. Mas a gente quer alertar também a população para uma nova leva de pessoas vindo por demanda espontânea, que estão em maior vulnerabilidade”, explicou o procurador-chefe da Procuradoria Regional da República da 5ª Região, Marcelo Alves.

As gravações aconteceram no segundo semestre de 2019. Depois da exibição única no São Luiz, os produtores realizarão sessões específicas atreladas a debates. “Recebemos 101 venezuelanos. Desses, 70% estão com suas casas, seus empregos. A gente espera que o documentário possa levar aos governos a perceber essa realidade de migração e em parceria com a sociedade civil discuta políticas públicas para essa situação”, afirmou a secretária regional da Cáritas Nordeste 2, Neilda Pereira.

As famílias que tiveram as histórias contadas no documentário estiveram presentes no São Luiz. “Vivíamos na Ilha de Margarita, as nossas condições econômicas estavam apertadas. Somos artistas e essa é a primeira área onde as pessoas deixam de comprar quando há crise. Quando saímos de lá, eu estava grávida. Agora, estamos com o nosso ateliê montado em Olinda, reorganizando a vida aos poucos”, contou Noelis Quijada, 40 anos, esposa de Rodrigo. “Queremos voltar um dia a Venezuela, mas se a situação de lá mudasse”, explicou Rodrigo. A direção do documentário Vindas e Vidas é de Ana Cláudia Dolores, Cláudia Holder, Jaqueline Maia e Lícia Magna.