Já se passaram 103 anos desde o dia em que a família de Domício Alves Cordeiro, 71 anos, chegou à Ilha de Fernando de Noronha. Tamanho tempo de ocupação lhe rendeu o título de nativo mais velho atualmente daquele pedaço de paraíso pernambucano. Domício acaba de conquistar outro título importante. É um dos seis guardiões de Noronha, eleitos por votação popular este ano. Cabe a eles proteger, do ponto de vista histórico e simbólico, o tesouro natural onde vivem há tanto tempo. Domício foi professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e participou ativamente da instalação do Parque Nacional Marinho de Noronha.
Na manhã desta terça-feira (12), quatro deles participaram da inauguração do Centro de Engajamento Noronha Plástico Zero, uma parceria entre a administração da Ilha, iniciativa privada e sociedade civil. O espaço é dedicado a atividades de conscientização ambiental para turistas e moradores da Ilha e é um dos braços do projeto Noronha Plástico Zero, criado através de decreto distrital, em abril. Pouco a pouco, a ideia é acabar com o plástico na Ilha, um dos maiores poluidores da região, perdendo apenas para o vidro. Se tudo correr conforme o esperado, em dez anos o plástico deve estar banido de Noronha.
Pelo decreto, fica proibida a entrada, uso e comercialização de itens descartáveis plásticos, como garrafas de bebida abaixo de 500 ml, canudos, copos, talheres e sacolas de supermercados, além de isopor e demais objetos compostos por materiais como polietilenos, polipropilenos ou similares. O decreto deve ser cumprido por bares, restaurantes, quiosques, ambulantes, hotéis, embarcações e pousadas, além dos 6 mil moradores e mais de 100 mil visitantes que passam por Noronha todos os anos.
Pouco a pouco, a ideia vem dando certo, garante Guilherme Rocha, administrador de Noronha. Segundo ele, no primeiro mês de vigência do decreto, foram coletados 350 quilos de plástico. No segundo, foram apenas cinco quilos. "O centro foi idealizado para trazer os moradores e turistas para dentro do projeto, tornando-os agentes dessa mudança de comportamento e multiplicadores dessa mensagem."
Morador da Ilha há dez anos, Lucas Souza diz que a quantidade de lixo em Noronha aumentou porque aumentou também a quantidade de gente circulando no arquipélago nos últimos cinco anos. "Não é só o plástico. Dobrou, por exemplo, o número de carros na Ilha. Muitas vezes, promovi limpeza nas praias com a participação de crianças e teve gente que criticou, falando que a obrigação era da empresa de limpeza", lembrou.
Segundo o administrador da Ilha, um terço da taxa de preservação ambiental cobrada em Noronha é gasto, por ano, com a coleta e destinação do lixo. Em um ano, a taxa recolhida chega a R$ 36 milhões. Hoje, a fiscalização é feita no aeroporto e pode render multa de um salário mínimo.
A iniciativa contou com uma parceria entre a administração da Ilha, o grupo Heineken, a Menos 1 lixo, e a Iönica. A Heineken investiu R$ 1,5 milhão no projeto, que prevê ações em quatro eixos: repensar, regenerar, reutilizar e ressignifiar.