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MEIO AMBIENTE

Noronha, a primeira ilha plástico zero do país

Publicado em: 12/11/2019 19:23 | Atualizado em: 12/11/2019 19:26

 (Foto: Marcelo Cavalcante/Divulgação.)
Foto: Marcelo Cavalcante/Divulgação.

Já se passaram 103 anos desde o dia em que a família de Domício Alves Cordeiro, 71 anos, chegou à Ilha de Fernando de Noronha. Tamanho tempo de ocupação lhe rendeu o título de nativo mais velho atualmente daquele pedaço de paraíso pernambucano. Domício acaba de conquistar outro título importante. É um dos seis guardiões de Noronha, eleitos por votação popular este ano. Cabe a eles proteger, do ponto de vista histórico e simbólico, o tesouro natural onde vivem há tanto tempo. Domício foi professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e participou ativamente da instalação do Parque Nacional Marinho de Noronha.

Na manhã desta terça-feira (12), quatro deles participaram da inauguração do Centro de Engajamento Noronha Plástico Zero, uma parceria entre a administração da Ilha, iniciativa privada e sociedade civil. O espaço é dedicado a atividades de conscientização ambiental para turistas e moradores da Ilha e é um dos braços do projeto Noronha Plástico Zero, criado através de decreto distrital, em abril. Pouco a pouco, a ideia é acabar com o plástico na Ilha, um dos maiores poluidores da região, perdendo apenas para o vidro. Se tudo correr conforme o esperado, em dez anos o plástico deve estar banido de Noronha.

Pelo decreto, fica proibida a entrada, uso e comercialização de itens descartáveis plásticos, como garrafas de bebida abaixo de 500 ml, canudos, copos, talheres e sacolas de supermercados, além de isopor e demais objetos compostos por materiais como polietilenos, polipropilenos ou similares. O decreto deve ser cumprido por bares, restaurantes, quiosques, ambulantes, hotéis, embarcações e pousadas, além dos 6 mil moradores e mais de 100 mil visitantes que passam por Noronha todos os anos.

Pouco a pouco, a ideia vem dando certo, garante Guilherme Rocha, administrador de Noronha. Segundo ele, no primeiro mês de vigência do decreto, foram coletados 350 quilos de plástico. No segundo, foram apenas cinco quilos. "O centro foi idealizado para trazer os moradores e turistas para dentro do projeto, tornando-os agentes dessa mudança de comportamento e multiplicadores dessa mensagem."

Morador da Ilha há dez anos, Lucas Souza diz que a quantidade de lixo em Noronha aumentou porque aumentou também a quantidade de gente circulando no arquipélago nos últimos cinco anos. "Não é só o plástico. Dobrou, por exemplo, o número de carros na Ilha. Muitas vezes, promovi limpeza nas praias com a participação de crianças e teve gente que criticou, falando que a obrigação era da empresa de limpeza", lembrou.

Segundo o administrador da Ilha, um terço da taxa de preservação ambiental cobrada em Noronha é gasto, por ano, com a coleta e destinação do lixo. Em um ano, a taxa recolhida chega a R$ 36 milhões. Hoje, a fiscalização é feita no aeroporto e pode render multa de um salário mínimo.

A iniciativa contou com uma parceria entre a administração da Ilha, o grupo Heineken, a Menos 1 lixo, e a Iönica. A Heineken investiu R$ 1,5 milhão no projeto, que prevê ações em quatro eixos: repensar, regenerar, reutilizar e ressignifiar.
O centro de engajamento está dentro da perspectiva do repensar. O eixo regenerar prevê a formação de agentes de transformação , onde moradores ficarão responsáveis por cursos e atividades de conscientização dentro e fora do centro.

O reutilizar será coberto pela distribuição de seis mil kits noronha plástico zero entre os moradores. O kit é feito em sacola de lona reciclável e contém um copo e canudo reutilizáveis. A perspectiva  do ressignificar prevê a destinação correta também do vidro, outro poluente de destaque em Noronha. Na Ilha, apenas 30% do vidro é transformado em areia a ser usada na construção civil. A ideia é reciclar 100% do vidro a partir de investimento em maquinário feita pela Heineken.

"Para nós, demonstrar de forma prática um modelo replicável de educação com ação, que contribuiu para a preservação da Ilha, reforça o nosso compromisso de crescer junto com as comunidades nas quais estamos inseridas", pontuou Ornella Vinardo, gerente de sustentabilidade do grupo Heineken.
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