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Ato inter-religioso cobra mais tolerância e compromisso com a natureza

Para Alfredo, os prognósticos sobre o clima no mundo são “extremamente preocupantes”, mas oferecem uma “janela de oportunidades”, para que todos possam se unir de fato na defesa da terra. “Há um retrocesso político muito grande. Homens autoritários, que negam a existência de mudanças climáticas, se afirmam no poder em diferentes países. E a única força que nos resta é a fé, das diferentes religiões, que se irmanam na defesa da natureza”, defendeu.
Karenna Gore deu exemplos práticos das mudanças climáticas: “Tempestades cada vez mais fortes, aumento do nível do mar, extinção de espécies animais. Isso tudo está interconectado. E nós sabemos quais são as causas disso, como o uso de combustíveis fósseis”. Para a ativista, é preciso acordar da ilusão de que o problema está distante. “A crise climática é uma questão moral”, afirmou.
O pastor Paulo César Pereira foi mais incisivo em seu ponto de vista. “Somos capazes de socorrer vítimas de catástrofes, mas somos incapazes de levantar o dedo contra as empresas que promovem essas situações. É preciso se fazer um trabalho de conscientização de nossas lideranças, para que sejam capazes de defender a casa do criador, que é a terra que vivemos”, disse.
Representando o povo indígena, Jaqueline Xururu, da comunidade Xukuru, também seguiu uma linha crítica. “É comprovado pela ciência que as maiores áreas de preservação ambiental estão dentro de terras indígenas. Ninguém cuida tão bem da terra quanto nós. E mesmo assim, temos nosso sangue derramado para conseguir direito a terra”, lamentou.
“Cada índio que tomba, cada árvore derrubada, para nós, é uma dor. E os impactos ambientais previstos pelos cientistas para os próximos dez, vinte anos, já sentimos na pele hoje. A gente não entende a terra como espaço de especulação financeira, e sim como corpo e espírito. A terra é nossa mãe”, acrescentou.
A ialorixá mãe Beth de Oxum, do Terreiro Ilê Axé Oxum Karê, destacou o quanto que o respeito ao meio ambiente é fundamental para o candomblé. “O sagrado se materializa na natureza. É da natureza que a gente se alimenta, se reconhece, obtém o axé. E por respeito a isso que a terra, a água, não podem virar produtos. Não existe vida sem isso”, comentou.
Em nome da Igreja Católica, o padre Fábio Silva, coordenador de ecumenismo, parafraseou os ensinamentos do Papa Francisco. “Ele convida todas as religiões para nós, juntos, em nossa pluralidade, possamos vencer o problema do clima. Tudo está conectado e, se a economia tem por objetivo o lucro, que tenha também como foco a dignidade à pessoa humana e respeito ecológico”, explicou.
Um desenvolvimento mais consciente também foi defendido pelo rabino Nilton Bonder. “Há uma frase que, na política e na religião, a certeza é inversamente proporcional ao conhecimento. Não pode ser assim. As certezas têm que caminhar junto ao conhecimento, e não com a ignorância. E as tradições estão aqui, para ajudar a criar um olhar mais verdadeiro neste mundo”, pontuou
Depois dos diálogos na sinagoga, o grupo foi para o espaço Sinspire, participar de um debate sobre o assunto. Todos concordaram que o diálogo inter-religioso deve ser permanente e de várias formas. O evento ecumênico realizado nesta sexta deu outro fruto: o Fórum da Diversidade Religiosa, previsto para o dia 12 de novembro, no mesmo espaço.