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O trecho de orla mais esquecido de Olinda passa por limpeza

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Praia de Del Chifre é uma das mais sujas de Olinda. Foto: Peu Ricardo/Diario

O lixo costuma aportar na Praia de Del Chifre, ao longo dos bairros dos Milagres e de Santa Tereza, em Olinda, na forma de animais mortos e móveis usados. A quantidade de dejetos impressiona. Não a quem mora lá. Habituaram-se a conviver diariamente com a sujeira e com o enfrentamento dela. A área não dispõe de limpeza urbana diária, como acontece nas áreas mais nobres de Olinda. Trata-se de um lugar muito pobre, onde alguns moradores sobrevivem de reciclagem.

O comerciante Fábio dos Santos, 37 anos, mora na região há mais de 20 anos. Para ele, a gestão pública esqueceu da comunidade loteada aos trancos e barrancos na beira da praia. "Quando tá muito sujo, eu mesmo pego o carro de mão para limpar e carregar o lixo. Quando aparece bicho morto, eu mesmo enterro. Só não os cavalos, porque são muito pesados", conta. Da última vez que apareceu um cavalo na areia, ele disse ter convocado ajuda da prefeitura cinco vezes. Segundo o comerciante, de nada adiantou.


Marcela Marques, 30, é dona de casa. Mora no local e todos os dias vai à praia. "Vejo muita cabeça de bicho na areia. É muito nojento. Às vezes, vou tomar um banho de mar e saio com tampa de garrafa agarrada no cabelo", comentou. Marcela disse que mora no bairro há um ano, mas nunca viu limpeza urbana. "A gente aqui é esquecido."

Valdira de Freitas, 57, costuma recolher o plástico encontrado na areia. Trabalha com reciclagem, mas não concorda com o lixo jogado ao mar. "O certo era a pessoa descartar corretamente para a gente catar", disse a mulher. Valdira tem razão. Os profissionais de reciclagem não precisam catar em meio ao imprestável algo que tenha valor.Esses objetos podem e devem ser descartados levando em conta a dignidade de quem vai receber.


Na manhã desta sexta-feira (19), a Prefeitura de Olinda promoveu um mutirão de limpeza em Del Chifre. Contou com o apoio do Exército e da Marinha. Ao todo, 300 profissionais participaram da atividade, que incluiu remoção de lixo e desobstrução dos entulhos nas imediações. O material recolhido está programado para ser repassado para a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis (COOCENCIPE). Duas tendas foram  montadas na Ilha do Maruim para a separação das peças recicláveis.

Após a ação, o prefeito Professor Lupércio disse que ainda não há programação montada para a limpeza acontecer diariamente, como desejam os moradores desse trecho de orla. "Estamos estudando a possibilidade de repetir uma ação parecida a cada quinze dias", disse. Questionado sobre o longo tempo de espera para a limpeza ser executada novamente, o prefeito disse que vai discutir um cronograma com a Secretaria de Infra-Estrutura para ver a possibilidade de disponibilizar reeducandos para fazerem a limpeza do trecho diariamente. Segundo Lupércio, 300 deles atuam no município em variados serviços. Resta à orla mais pobre de Olinda esperar. De frente para o mar.