A comunidade do Pocotó cresceu. Agora, em vez das 40, são 47 casas construídas sobre a laje do Túnel Augusto Lucena, situado na Avenida Dom João VI, ao lado do Viaduto Tancredo Neves, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Mas não é só isso. Além da construção de novas residências, tudo indica que algumas das mais antigas foram ampliadas através dos chamados “puxadinhos”, enquanto outras passaram por significativas transformações, inclusive com a substituição da madeira pela alvenaria.
Ao que parece, a determinação da demolição das moradias, por parte da juíza Mariza da Silva Borges, da 3ª Vara da Fazenda Municipal, que completará um ano em setembro, e atendeu pleito da Prefeitura do Recife, não provocou mudança na rotina do local. Adelmo José de Farias, residente no local há seis anos, confirma que “o poder público informou que a derrubada ia ser geral, mas até o momento está tudo do mesmo jeito.”
Os moradores demonstram certa preocupação com a possibilidade da demolição das habitações, mas garantem que as negociações com a Prefeitura não avançam, apesar das rápidas reuniões que vêm ocorrendo desde o segundo semestre de 2017. A última foi realizada no dia 4 de junho.
Luciana Maria da Silva Barbosa se diz residente do local há mais de 10 anos. “O prefeito quer retirar a população daqui, pagando um auxílio-moradia irrisório, no valor de R$ 200. O pior é que não será para todos, como já ficou muito claro em algumas ocasiões. Na verdade, não sabemos qual é o critério adotado, pois escolheram apenas algumas pessoas para receberem a doação. Mas em bairro nenhum vamos conseguir um aluguel com esse dinheiro.”
Para Adelmo Farias, outro fator de preocupação é que nem todos os moradores sabem ler. “A Prefeitura dificulta ainda mais a negociação quando entrega uma folha de papel a um morador e solicita que ele assine, sem ter conhecimento se o mesmo é alfabetizado. O que aconteceu aqui foi que algumas pessoas receberem um papel, parecendo uma cópia, para assinar, e tempos depois surgiu a informação de que, ao colocar o nome, estavam aceitando a remoção. Agora a ordem é não assinar nada”, afirmou o morador.
Luciana Barbosa assegurou que todos os residentes vão continuar dizendo para o poder público que não têm para onde ir. “Cada vez que eles vêm por aqui, até com a polícia, como se a gente fosse marginal, conversam rápido e vão embora. No início, falaram que a gente teria um prazo de 10 dias para sair daqui. Agora já se vai quase um ano. Se nós moradores tivéssemos condições, não estaríamos aqui, arriscando nossas vidas e as dos outros. Somos conscientes disso, mas nada podemos fazer. Não gostaríamos de continuar aqui, mas o poder público não acena com a possibilidade de nos transferir para outro local, nem que provisoriamente, até construírem um conjunto habitacional para nós”, lamentou Luciana.
Cadastro
Em nota, a Prefeitura do Recife informou que, em cumprimento de decisão judicial, equipes sociais da Secretaria de Infraestrutura e Habitação estão trabalhando para cadastrar e incluir no auxílio-moradia as famílias que construíram barracos e ocupam irregularmente as laterais e a parte superior do túnel.
Loading ...