Vida Urbana

Câmara de arbitragem chega ao estado

Modelo trazido pela Camarb agiliza andamento de processos envolvendo conflitos entre empresas

Equipe da Camarb está pronta para arbitrar conflitos de companhias privadas e do setor público. Foto: Thalyta Tavares/Esp DP

Mais de 110 milhões de processos tramitam no Judiciário brasileiro, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em Pernambuco, há cerca de dois milhões, dos quais 35% estão parados. Uma alternativa para agilizar os trâmites, principalmente em casos de litígios empresariais, são as Câmaras de Conciliação e Arbitragem. O modelo, que está transformando as disputas judiciais entre grandes companhias, acaba de chegar a Pernambuco. O escritório do Comitê Executivo da Câmara de Mediação e Arbitragem Empresarial do Brasil (Camarb), no Recife, será aberto no próximo dia 18 de junho, no Empresarial JCPM Trade Center, em Boa Viagem, e terá atuação em todo o Nordeste. 

Segundo as maiores câmaras brasileiras de arbitragem, instaladas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, as principais discussões estão ligadas à construção civil e à infraestrutura. Na Camarb, 40% das demandas administradas são relacionadas aos setores de energia e construção. “Os litígios envolvem assuntos do dia a dia das empresas, principalmente questões societárias e conflitos decorrentes de contratos complexos e, mais recentemente, contratos públicos”, explica a coordenadora do Comitê Executivo da Camarb, no Recife, a advogada Soraya Nunes. 

A Camarb é uma associação com fins não-econômicos que conta com conselho deliberativo, diretoria e secretaria. A entidade mantém processos em andamento em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador e Recife. As custas da câmara e os honorários dos profissionais que atuam nos casos variam de acordo com o valor da causa. “Isso permite que a câmara receba disputas, por exemplo, de R$ 200 mil a R$ 1 bilhão”, esclarece Soraya. Ela cita que a taxa de administração em um procedimento de arbitragem se inicia em R$ 4,5 mil, a ser dividida entre as partes. A Camarb já administrou 14 casos envolvendo municípios, estados, autarquias e agências reguladoras.   

A arbitragem é um método de resolução de conflitos alternativo ao Judiciário e tem como característica a celeridade e a garantia de sigilo dos procedimentos. Soraya esclarece que árbitros são escolhidos pelas partes e resolvem a disputa. “A decisão é final, ou seja, não cabe recurso à Justiça para rediscussão do mérito”, ressalta. No Brasil, as câmaras atuam desde 1998, quando a primeira foi fundada, inicialmente vinculada à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. 

Além de assistência jurídica às empresas, a Camarb realiza todo ano, sempre no segundo semestre, competições de arbitragem nacional e regional com estudantes e profissionais com até cinco anos de formados. “Recebemos equipes de todo o Brasil. No último evento, tivemos mais de 1,5 mil alunos. As etapas regionais acontecem no Recife, que sedia as competições Regional Nordeste de Arbitragem e Norte-Nordeste de Mediação”, informou. No ano passado, nove equipes participaram da regional. 

Entre 2015 e 2017, as disputas societárias representaram 41 procedimentos arbitrais perante a Camarb. Soraya destaca que a mediação começa a ser usada no setor público. O primeiro caso recebido pela câmara neste ano envolve uma parte estatal. A história desse tipo de resolução jurídica no país teve início com a aprovação da Lei Brasileira de Arbitragem - Lei Federal n.º 9.307 - em 1996. Em 2005, já com atuação consolidada em Minas Gerais e visando atender às demandas de seus usuários, a Câmara inaugurou seu escritório em São Paulo. Em 2013, abriu sua estrutura no Rio de Janeiro. 

“Ao longo desses anos, a Camarb administrou uma série de procedimentos, sendo reconhecida e se posicionando entre as cinco principais câmaras de arbitragem do país”, ressaltou a advogada. A Camarb foi classificada como excelente pela agência internacional de rating Leaders League no ano passado, figurando no top 5 na categoria de melhores centros de arbitragem do Brasil. 

Disputas somaram R$ 24 bilhões em um ano

 
Dados da pesquisa Arbitragem em números e valores, da advogada e professora Selma Lemes, mostram que as disputas envolveram valores recordes em 2016. Foram cerca de R$ 24 bilhões nas seis principais câmaras do país, mais que o dobro registrado em 2015, quando os valores bateram os R$ 10,7 bilhões. Segundo o levantamento, em 2016, ingressaram em tribunais arbitrais 249 casos. Os dados de 2017 ainda não foram divulgados. 

Selma ressalta que o aumento nos valores pode estar associado diretamente a dois princípios: o ingresso nas câmaras arbitrais de conflitos relacionados às obras da Copa do Mundo de 2014 e também às grandes usinas, além da inclusão da administração pública nos procedimentos. A Lei da Arbitragem foi ampliada em 2015 com a Lei 13.129/2015. Entre as principais mudanças está a utilização da arbitração pela administração pública direta e indireta. 

A advogada acredita que o aumento da busca pela arbitragem está possivelmente ligado à crise financeira enfrentada pelo país. Ela diz que a economia nos custos da transação, comparada ao procedimento judiciário, tem motivado o setor empresarial. “Ressaltamos que os advogados também estão mais bem preparados para assistir seus clientes em arbitragem, incentivando-os a solucionar os conflitos por meio de dispute boards (Comitês de Resolução de Disputas), mediação e arbitragem, uma vez que, já na hora de redigir os contratos, esse tipo de questão é avaliada como opção com o cliente”, comentou. 

Até o fim de 2016, tramitavam 55 casos envolvendo a administração pública nas principais câmaras de arbitragem. Um desses processos, no valor de R$ 1 bilhão, trata de um contrato de arrendamento para a exploração em terminais do Porto de Santos, em São Paulo. 

SAIBA MAIS

Conciliação, mediação e arbitragem são alternativas extrajudiciais para a solução de conflitos. A decisão de optar por arbitragem é tanto econômica quanto jurídica 

CONCILIAÇÃO: O conciliador ou os conciliadores exercem a tarefa de aproximar as partes, sugerindo e propondo soluções para um entendimento. É um processo voluntário e pode ser aplicado em qualquer demanda de menor complexidade. Logo que o acordo se concretiza, já é homologado pelo Poder Judiciário. 

MEDIAÇÃO: Procedimento semelhante a conciliação, mas neste caso o mediador ou os mediadores não podem oferecer soluções. Aproximam e facilitam a comunicação entre as partes para que negociem diretamente a solução, de uma forma mais ampla que no início da negociação. Caso não se chegue a um consenso, o processo arbitrário é iniciado. 

ARBITRAGEM: É bastante parecida com um processo judicial e também está sujeita aos princípios do contraditório, igualdade das partes, imparcialidade do juiz/árbitro e livre convencimento, só que ao invés de ser administrada pelo Estado, a questão é resolvida pelas câmaras 

Experiência da Camarb: 

Operações comerciais: contratos complexos ou coligados, contratos de fornecimento, contratos de cessão de direitos, contratos de manutenção Negócios e operações imobiliárias: operações imobiliárias (contratos de aquisição, sale and leaseback, build to suit, arrendamento e outros), contratos de locação comercial e construção e incorporações 

Disputa societárias: acordos acionistas, dissolução de sociedades, discussões sobre o valor de parcelas de aquisição de ações, join ventures e parcerias comerciais Construção de plantas industriais, construções de hidroelétricas e PCHs, e obras e Concessões de rodovias (Contratos tradicionais e Parcerias Público- Privadas)  

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