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Festival em Cuieiras celebra identidade afrodescendente
Evento acontece neste sábado e domingo e conta com atrações culturais e oficinas
Cuieiras é um povoado isolado. A maioria da população vive da pesca no Rio Timbó. O transporte público se resume a dois ônibus. Um para os estudantes. Outro para os moradores. Ambos com horários contados. No sábado, só há ônibus até o final da manhã. Além disso, o lugar conta apenas com uma escola municipal, um posto de saúde, duas igrejas (uma católica e outra evangélica) e duas ruas: a de Cima e a de Baixo. "Passei oito anos da minha vida andando a pé para ir à escola. Quase uma hora para ir e uma para voltar. O ônibus somente chegou há dois anos", conta Jucélio Calixto de Oliveira, 39. Para ele, que assistiu a expressão cultural dos mais antigos, os jovens do povoado não querem saber dessa tradição. "Preferem o brega rasgado", diz.
Na casa de Judite Maria da Paixão, 87, o calor sob a telha Brasilit é de ferver. Ela é uma das moradoras mais antigas do lugar e hoje está de cama depois de perder uma das pernas. Trabalhou carregando pedras para fazer cal desde os 10 anos para ajudar no sustento da família. Diz temer a violência dos tempos atuais. "Os novos não querem lazer. É violência demais. Não é como no meu tempo de criança", lembra.
Cuieiras, conta Firo, teve uma intensa produção de cal por conta de uma jazida de pedreira calcária. A exploração se deu primeiro pela mão de obra escrava e depois pela semi-escrava. O lugar chegou a ter duas empresas de produção de cal. A indústria durou até a década de 1930. O negócio atraia gente até da Região Metropolitana do Recife, mas com seu fim e a chegada da fábrica Poty, em Paulista, foi registrado o primeiro êxodo de Cuieiras. O segundo êxodo, conta Firo, aconteceu com o fechamento da Poty, no começo da década de 1980. "Muita gente partiu para uma fábrica nova na Paraíba. O terceiro êxodo se dá no início dos anos 2000, com a violência urbana. Muitas casas foram abandonadas por conta de assaltos", historia.
Firo relata que até a década de 1950, a presença de expressões afro-descendentes era marcante. A cada final de semana, diz, havia até seis sambadas no povoado, além de cortejo de maracatu e mamulengo. A chegada de um templo protestante ocasionou um certo esvaziamento da prática. Além disso, os êxodos também aumentaram a ausência das expressões culturais. "Na década de 1990, já não se via mais sambadas. A única cultura que resiste há mais de cem anos é a Catirinas de Cuieiras."
De acordo com o historiador, a população afrodescendente do lugar sofreu perseguição grande por parte da polícia. Uma delas, conta, foi marcante e aconteceu em abril de 1890. "A polícia chegou ao povoado, arrastou famílias para a rua, batendo nelas. Havia perseguição por conta da prática cultural, mas os registros da época não falam o motivo da violência. Por isso, escolhemos abril para trabalhar como mês de resistência e afirmação do povoado", justificou.
Como chegar:
O caminho é pela BR-101 Norte. Logo após Cruz de Rebouças. virar à direita na PE-14 (Estrada de Nova Cruz). Em seguida, após dois quilômetros, virar à direita, na Estrada de Cuieiras. Nela será percorrido cerca de quatro quilômetros em estrada de terra até chegar ao povoado. A partir do início da Estrada de Nova Cruz, não há transporte público
PROGRAMAÇÃO E OFICINAS
Programação Cultural
Sábado, 07 de Abril
9h-12h e 14h - 16h - Oficinas
14h - 16h: Mostra de Filmes
Local: Escola Ana Caldas.
16h30 - 17h30: Teatro de Boneco
Atração: Mestre Antero
17h30 - Apresentação musical
Atração: Coco Caieira
18h - Teatro de rua
Atração: Catirina entre dois Amores, da Trupe Circuluz Cia. de Artes
18h45 - Apresentação musical
Atração: Martinho Mestre Cirandeiro
19h30 - Cortejo pelo arruado do povoado e apresentação no palco
Atração: Maracatu Estrela Brilhante de Igarassu
21h - Apresentação musical
Atração: Batuque
21h45 - Apresentação musical
Atração: Coco Juremado e Dona Lia do Coco
22h30 - Performance poética
Atração: Cupim Boi Cabeça
22h45 - Apresentação musical
Atração: Família Bezerra
9h - 23h30: Poesia incidental
Local: Em todos os locais de realização da manifestação
18h30 - 00h - Projeção de fotografias (Povoado de Cuieiras)
Local: Casa Cuieiras
Domingo, 08 de Abril
09h30 às 11h30: Mostra de Filmes
9h-12h e 14h -16h - Oficinas
17h - Cortejo de encerramento
Atrações
- Cupim Boi Cabeça
- Catirinas (Brincantes mascarados do Carnaval de Cuieiras)
Programação das oficinas
Oficina 1: Dança Popular
Na ocasião serão trabalhados os passos básicos de danças populares de Pernambuco, com destaque para o Coco e o Maracatu de Baque Virado.
Público alvo: moradores de Cuieiras maiores de 10 anos (prioridade: alunos da Escola Ana Caldas).
Horários: sábado, dia 7 (9h - 12h e 14h - 16h).
Local: Escola Ana Caldas. Facilitadora: Yasmim Rocha
Oficina 2: Leituras e Memórias
Nesta oficina os participantes serão instigados a assumirem ora o lugar de poetas ou cantadores, ora a se apresentarem como fontes de histórias ou como produtores de literatura oral e escrita. Dessa forma, abrir espaço para a fluência de narrativas, valorizando a expressão dos narradores, poetas, cantadores, memorialistas da comunidade.
Público alvo: moradores de Cuieiras com idade a partir de 16 anos.
Horários: domingo, dia 8 (14h30 - 16h30)
Local: Escola Ana Caldas. Facilitadora: Carminha Bandeira, com apoio de Rogério Bezerra
Oficina 3: Contação de Histórias
Na oportunidade serão trabalhados o exercício da contemplação, o imaginário e o interesse pela literatura, além de buscar contribuir para a afirmação étnica afrodescendente.
Público alvo: crianças, moradoras de Cuieiras, com idade inferior a 8 anos (prioridade: alunos da Escola Ana Caldas).
Horários: sábado, dia 7 (14h - 16h)
Local: Escola Ana Caldas. Facilitadoras: Adriana Melo e Cenilda Siqueira
Oficina 4: A Caixa Mágica
Neste encontro será trabalhada a técnica da construção da “Caixa Mágica”, técnica de captação de imagens.
Público alvo: moradores de Cuieiras com idade de 7 a 12 anos (prioridade: alunos da Escola Ana Caldas).
Horário: domingo, dia 8 (10h30 - 11h30).
Local: Escola Ana Caldas. Facilitador: Daniel Pereira
Oficina 5: Projeto Cafuné
Durante o encontro serão trabalhadas práticas pedagógicas de educação infantil que possam vir a contribuir para o fortalecimento do processo de afirmação da identidade e da autonomia dos grupos afrodescendentes, além de contribuir para a elevação da autoestima desse grupo, bem como fortalecer o respeito à diversidade étnica no ambiente escolar.
Público alvo: professores da educação infantil (prioridade: professoras da Escola Ana Caldas e da educação infantil da rede municipal de ensino de Igarassu).
Horários: sábado, dia 7 (9h - 12h).
Local: Escola Ana Caldas. Facilitadoras: Adriana Melo e Cenilda Siqueira
Oficina 6: Mostra de Filmes (Cineclube Literando)
Nestes encontros serão realizadas sessões de exibição de filmes, visando potencializar o exercício da reflexão sobre o audiovisual e abrir espaços para o aprofundamento da reflexão sobre o conceito de leitura fílmica, estimulando a formação do público-plateia. Visa, ainda, contribuir para a sensibilização do olhar e estimular a reflexão e o interesse pela linguagem do cinema.
Público alvo: moradores de Cuieiras com idade entre 8 e 16 anos (prioridade: alunos da Escola Ana Caldas).
Horários: sábado, dia 7 (14h - 16h) e domingo, dia 8 (9h30 - 11h30).
Local: Escola Ana Caldas. Facilitadores: Rogério Bezerra e Daniel Pereira
Oficina 7: Catirinas
Nesta oficina será gerado um ambiente de livre confecção de máscaras de Catirina, a partir de materiais diversos, comumente utilizado em Cuieiras para esse fim, como papelão, borracha, tecido, tinta, dentre outros. Dessa forma, espera-se contribuir para a preservação e o fomento do brincante Catirina, ocorrência mais que secular no Carnaval de Cuieiras.
Público alvo: crianças e jovens com idade entre 8 e 14 anos (prioridade: alunos da Escola Ana Caldas).
Horários: domingo, dia 8 (14h - 16h30).
Local: Escola Ana Caldas. Facilitador: Rodrigo Cruz
Leia a notícia no Diario de Pernambuco
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