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Mulheres se 'armam' com spray de pimenta
Isoladamente ou em grupos, elas compram o lacrimogênio como instrumento de defesa "rápida e não letal", mas reconhecem que se trata apenas de um paliativo
Já para a bibliotecária Juliana Albuquerque, 29, foram os estupros do último mês que a incentivaram a entrar, junto com um grupo de mulheres, numa compra coletiva de sprays, além de começar aulas de artes marciais. “Esse sentimento de impunidade faz parecer que se pode fazer tudo e ficar por isso mesmo. Esses dias, no Derby, uma mulher foi agredida porque rejeitou uma cantada. É assustador”, reclama a moradora de Olinda, que reflete também sobre a repercussão dos casos. “Esses relatos deixaram o problema muito mais perto da gente, mais evidentes, a gente tem como gritar e vão ouvir”, aponta, comparando a realidade das mulheres e meninas que vivem nas periferias.
Para Juliana, é necessário reforço no policiamento, mas não só isso. “Diante disso a gente pensa o quanto é importante discutir gênero nas escolas. Se não for através da educação, daqui a 15 anos uma filha minha vai estar relatando a mesma situação. É preciso discutir na escola, com educadores preparados para esse debate”, opina. Considerado não letal, o spray de pimenta ainda não é regularizado e, por tanto, não há restrições ao seu uso no Brasil.
"A verdade é que todos os lugares são inseguros para as mulheres"
Como a senhora vê esse aumento da procura de mulheres por esses sprays?
Entendo que são estratégias individuais diante de um estado que não está dando a cobertura necessária. Há 10 anos alguns grupos que trabalhavam com defesa pessoal eram populares e agora estão retomando. Isso porque o número de casos de estupro e violência contra a mulher tem crescido, então crescem também as estratégias para garantir a própria segurança.
Elas resolvem ou são paliativas?
Completamente paliativas. Pode resolver a questão daquela mulher, naquele momento, mas não resolve o problema da mulher em geral.
O spray é uma boa ferramenta?
A gente sabe que os estupros não acontecem só na rua, mas também nas casas, na igreja, no trabalho, dentro da universidade e são cometidos por pessoas conhecidas. A mulher tem que estar segura nesses espaços também, em todos eles.
Parte da sociedade e, muitas vezes, a própria polícia estabelece dicas, comportamentos que as mulheres devem evitar (como horários, roupas ou comportamentos) para prevenir casos de violência. Como a senhora enxerga isso?
Parece que as mulheres não têm o direito de ir e vir. Esses discursos só culpabilizam novamente a mulher. Nós queremos poder beber, usar a roupa que a gente quiser, ir para um bar sozinha, nos deslocarmos com tranquilidade. E cada vez que você manda uma mulher evitar isso ou aquilo, culpabiliza ela. Nossa luta nas delegacias das mulheres é exatamente essa. Porque quando elas chegavam e chegam as primeiras perguntas ainda são 'Estava onde? Bebeu? Estava com que roupa?”. Mas a verdade é que todos os lugares são inseguros para as mulheres.
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