{{channel}}
Fotografia resgata história do surfe no Grande Recife
Fotógrafo acompanhou trajetória do esporte nas praias urbanas do Recife. Imagens contam ainda história da cidade

Um pedaço do mar pode ser visto da varanda de Regi Galvão, no segundo andar de um edifício a quatro quarteirões da Praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. A raridade numa costa repleta de prédios altos é comemorada pelo fotógrafo, testemunha da mudança na área ao longo de 50 anos. Sua relação com o mar foi estreitada pelo surfe, com o qual passou a ter contato a partir de revistas trazidas pelo pai no fim da década de 1960, transformando para sempre a vida da - até então - criança. Hoje, o fotógrafo tem um registro de mais de 40 mil imagens contando a história do esporte, gradativamente erradicado de algumas praias urbanas de Pernambuco.
Tudo começou com uma prancha de madeira, feita pelo pai de Regi em uma viagem ao Ceará. Depois disso, a família voltou ao Recife e a prática nunca mais parou. Primeiro em Piedade, depois em frente ao extinto Hotel Boa Viagem, por fim, no Acaiaca, ponto de encontro e formação de uma tribo ao longo de anos. “No começo, eram só umas 10 pessoas, mas depois foi crescendo e, com o tempo, novas gerações surgiram - todas criadas em Boa Viagem, Piedade e Olinda”, lembra. Na década de 1970, o surfista intensificou a fotografia. “Começou com a falta. Não tinha ninguém para fotografar e sempre tive intimidade com foto”, afirma.
A década de 1980 foi o ápice: com a praia como quintal de casa, o esporte virou uma forma de ganhar dinheiro. O fotógrafo e os amigos faziam eventos, exibições de filmes e chegaram a produzir uma revista sobre o tema no Brasil, a Surfe Nordeste. “Na época, havia um decreto que nada podia ter o nome americanizado e quando a gente chegou na junta comercial pra registrar o nome ‘surf’ a menina deu um escândalo. Eu falei ‘surfe’, com a letra e, existe até no dicionário”, lembra. A revista teve três edições abordando o esporte.
Com a chegada dos anos 1990, o boom do surfe foi interrompido por uma tragédia na Praia de Piedade. Era 28 de junho de 1992 quando a primeira morte relacionada a ataques de tubarão foi registrada. Pouco tempo depois, o esporte seria proibido. “As pessoas não queriam acreditar. Meu filho emprestou uma prancha para um vizinho e o bombeiro levou. Você precisava pagar uma taxa, equivalente a uns R$ 100, para pegar de volta”, conta. Mesmo com a caça às pranchas, adultos e adolescentes ainda se arriscavam na região. Hoje, com 60 ataques e 24 mortes, o tubarão afastou o esporte, e o alto-mar é território proibido.
Agora, os registros de Regi continuam, mas longe do Recife. A revista Surfe Nordeste, extinta junto à prática nas praias da cidade, voltou repaginada e retratando competições em toda a região. Para o fotógrafo, o pequeno traço de mar visto da varanda foi ressignificado de forma indesejada, mas aceito para a segurança de todos. “Hoje, no máximo, eu vou dar uma caminhada, quando a maré está seca, mas é uma coisa surreal, porque você caminha de Piedade até Boa Viagem e não vê ninguém dentro do mar. Se você vir uma pessoa, tem que avisar do perigo”, explica.
[SAIBAMAIS]