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Pele de tilápia para tratar queimados
Nova etapa de pesquisa produzida por especialistas de Pernambuco, Ceará, Goiás e São Paulo vai testar método em 500 pessoas
“Na natureza nada se cria, tudo se transforma”. A frase de Antoine Lavoisier, pai da química moderna, ganha exemplo prático em uma pesquisa de origem pernambucana que pode facilitar o tratamento de queimados. A pele da tilápia, uma das principais espécies de peixe de água doce do país, é geralmente destinada ao lixo. Mas agora, pesquisadores de Pernambuco, Ceará, São Paulo e Goiás estudam usar o material como curativo biológico temporário na cicatrização e recomposição da pele humana. A novidade já foi experimentada com sucesso em roedores. A nova etapa da pesquisa, prevista para julho, vai testar 500 pessoas.
Idealizada pelo cirurgião plástico Marcelo Borges, 55, coordenador de treinamentos em saúde da Faculdade de Medicina de Olinda (FMO), a pesquisa iniciada em 2015 é feita em parceria com órgãos do Nordeste e Sudeste. A pele da tilápia foi escolhida por ser resistente e delicada e ter outras características parecidas com a pele humana, como alta qualidade do colágeno. A pele da tilápia será usada prioritariamente em queimaduras de segundo grau e enxertos.
Borges explica que a equipe de cientistas submeteu 40 ratos a queimaduras. Dividiram três grupos no tratamento com pomada, soro fisiológico e pele de tilápia. “Ficamos entusiasmados ao ver o melhor resultado desse último grupo”, explicou o médico, que teve a ideia de iniciar o estudo a partir do uso da pele da tilápia na fabricação de artesanato, que requer resistência.
Após ser retirada de peixes em um açude a 250km de Fortaleza, a pele é banhada em antisséptico e descontaminante. Após o tratamento, é enviada a São Paulo e passa por radioesterilização complementar com Cobalto 60. De cada peixe se retiram 400 cm² de pele e o material tem validade de dois anos.
O cirurgião conta que os produtores de tilápia em cativeiro comercializam 98% dos peixes in natura. “Apenas 2% são preparados para filé. Nós usamos a pele desprezada dos fileteiros. No futuro, essa solução pode aumentar também a renda dos pescadores”, disse.
Borges ressalta que a pesquisa se originou em Pernambuco, mas só se transformou em realidade através de parcerias com outros cientistas. O Instituto de Apoio ao Queimado, de Goiás, viabilizou o financiamento junto à Companhia Energética do Ceará (Coelce) para o estudo, que conta com o Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará e o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da Universidade de São Paulo.
Para acompanhar o trabalho no Ceará, a FMO escolherá um dos 120 alunos com as melhores notas em todas as disciplinas, da primeira turma de medicina da instituição em 2015. O resultado da seleção sairá no fim do semestre.
A estudante de medicina Karina Amorim, 31, pensa em participar visando a residência médica. “Vou me preparar muito e tentar neste semestre. Vai engrandecer o meu currículo, com pontos inclusive para a prova de residência no futuro e para publicar artigos científicos.
Após a etapa pré-clínica apresentada como consulta à Agência Nacional de Vigilância Sanitária em Brasília, no início de dezembro de 2015, o passo seguinte será encaminhar o projeto da fase clínica (em humanos) à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
Os números
400 cm² de pele são retirados de cada peixe
2% das tilápias produzidas em cativeiro podem ser usadas na pesquisa, pois são comercializadas em filés e têm a pele descartada
40 ratos foram testados na etaá anteriopr da pesquisa
500 pessoas serão
testadas na próxima fase
3 passos
A equipe de cientistas submeteu ratos a processos de queimadura
Os especialistas dividiram três grupos no tratamento com pomada, soro fisiológico e a pele da tilápia
A cicatrização ocorreu mais rapidamente no grupo tratado com a pele de tilápia
O caminho
Peixes são retirados do Açude Castanhão, em Jaguaribara, e levados à UFC
A pele é lavada para retirada de tecido muscular
O material recebe solução de antisséptico e descontaminador
O couro recebe irradiação de cobalto 60, que mata organismos vivos, e é acondicionado a 4 graus