Famílias vão ao Ihene à procura de explicações sobre cordões umbilicais perdidos
Ninguém do Ihene se disponibilizou a gravar entrevista. Clientes foram informados que o instituto vai atender à determinação da Apevisa

A sede do Instituto de Hematologia do Nordeste (Ihene), no Recife, teve uma manhã movimentada nesta quinta-feira, com a presença de famílias que contrataram a clínica e foram surpreendidos pela notícia de que as células de 1.843 cordões umbilicais armazenados no local serão incinerados em um prazo de 10 dias. A medida foi estipulada pela Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) após a constatação de armazenamento irregular sob risco de morte do paciente.
A jornalista Andréa Franklin armazenou o sangue da filha paraque o materia fosse utilizado em caso de necessidade de um transpante de células-tronco. O representante comercial Paulo Vieira, que atualmente mora em São Paulo, foi ao Ihene para renovar o contrato que tem há 10 anos com a empresa e também ficou surpreso. O banco armazena sangue dos cordões umbilicais dos dois filhos dele e, apesar de nunca ter recebido o relatório periódico prometido, disse que confiava na clínica, onde investiu R$ 6 mil. Ninguém do Ihene se disponibilizou a gravar entrevista. As famílias foram informadas que o instituto vai atender à determinação da agência. Várias delas já procuraram a Delegacia do Consumidor.
Publicada no Diario Oficial desta quarta-feira, uma portaria determina que 1.843 de células progenitoras hematopoéticas (CPH) do cordão umbilical e placentário sejam inutilizadas após a constatação de armazenamento irregular sob risco de morte do paciente. A entrevista coletiva será concedida na sede administrativa do instituto, na Rua Montevidéu, Parque Amorim, no Recife.
O equipamento, que obrigatoriamente tem que armazenar o material a 150º Celsius negativos, de maio a outurto de 2015 teve uma temperatua acima desse valor e, de 10 a 23 de outubro, atingiu temperaturas positivas de até 30º Celsius. O risco foi denunciado à agência por uma ex-funcionária do instituto, que disse ter sido demitida após alertar a chefia sobre o problema. "Nós começamos a investigar o caso em novembro do ano passado e constatamos que a irregularidade ocorreu no período de maio a outubro de 2015", contou o diretor da Apevisa, Jaime Brito. Segundo ele, como precaução, desde novembro o laboratório ficou impossibilitado de recolher novos cordões e de utilizar o material, medida que permanerá em vigor até a retirada, inutilização e incineração do material, acompanhados pela agência. Questionado sobre a possibilidade do registro de óbitos causados pela utilização das células danificadas, Jaime Brito disse acreditar que a agência agiu a tempo de evitar targédias mas, diante das falhas de controle do local no registro de saída das células, a Apevisa irá se aprofundar nessa investigação.
Além da interdição, que tem a finalidade de afastar os risco à saude, o Ihene deverá sofrer outras penalidades. Correm nas promotorias de justiça de Defesa do Consumidor e de Saúde, processos sobre o caso. "Os trabalhos, a cargo das promotoras Liliane Fonseca e Ivana Botelho certamente terão repercussões", acredita Brito. Procurado pelo Diario, o Ihene disse que ainda não foi comunicado oficialmente e que irá se pronunciar em outro momento. "Eles têm um prazo de 10 dias para recurso, mas já reconheceram a falha técnica. A programação do tanque de nitrogênio não teria permitido uma vazão adequada do gás que mantivesse a temperatura ideal do equipameto. Segundo eles, o problema foi solucionado no dia 12 de janeiro, não voltando a ocorrer", acrescentou Brito.
Às famílias afetadas restam prejuízos incalculáveis. Perderam a possibilidade da realização de transplantes de medula em caso de doenças graves como o câncer; arriscaram a vida de quem se preocuparam em resguardar de males futuros e perderam um investimento alto. "Você faz isso esperando nunca usar. É uma espécie de poupança que você na verdade ganha se não precisar utilizar. Mas, realmente é um absurdo. Muito grave. Estou chocada", disse uma mãe que em 2008 pagou em torno de R$ 3.000 para o armazenamento das céluas do filho e, desde então, cumpre com uma anuidade de cerca de R$ 600 para manter o material em perfeitas condições.[SAIBAMAIS]
Com informações da TV Clube