Cineclube leva cultura, informação e debate à Colônia Penal Feminina Bom Pastor

Ainda que muitas vezes retratada de maneira romanceada, a realidade de vidas humanas no sistema prisional é tema recorrente nas telas do cinema. Mas poucos são os projetos que usam as telonas como instrumento de reintegração social. É com essa proposta que nasceu o Cineclube Alumia - O Luzir do Cárcere, que vai realizar projeções mensais seguidas de debates, de janeiro a outubro deste ano, para as reeducandas da Colônia Penal Feminina do Bom Pastor, na Zona Oeste do Recife.

A primeira sessão acontece na próxima quarta-feira (27), às 14h, com exibição do filme brasileiro “Amor, Plástico e Barulho, dirigido por Renata Pinheiro. A mesa de debate de quarta-feira contará com a participação da própria diretora do longa, da idealizadora do projeto Juliana Gleymir e do produtor do projeto Igor Travassos.
Os filmes escolhidos pela produção levou em consideração alguns fatores, como a presença das mulheres como protagonistas de suas histórias, seja como personagem do longa, seja como diretora do filme. O valor estético-narrativo, mas de fácil compreensão, também foram levados em conta no projeto. Serão 50 mulheres em cada sessão.

“Se o cárcere ainda é um paradigma punitivo penal, que pelo menos seja dotado de condições mais humanas e dignas pras mulheres que passarão qualquer tempo nesse espaço. O que me motiva com o projeto é justamente poder contribuir pra essa mudança de modelo carcerário, ressignificar esse espaço, transformando-o em um lugar de formação dos sujeitos, de condições mais humanas de desenvolvimento dos mesmos”, afirma Juliana Gleymir. O projeto está sendo realizado com recursos do Funcultura, em parceria com a Secretaria de Ressocialização (Seres) e a Secretaria da Mulher.

“A escolha do Bom Pastor está atrelada a uma perspectiva de gênero sobre as políticas públicas e a legislação penal que são construídas para os homens e mantém sua infraestrutura, além de oportunidades profissionalizantes e educacionais, desfavoráveis em relação às mulheres. No cinema, elas também vivenciam um sistema desfavorável: estão em menor quantidade que os homens dentro do set, recebem menores salários e poucos são os filmes dirigidos, roteirizados e protagonizados por mulheres”, justificou o produtor cultural Igor Travassos.

A programação conta com filmes de todos os gêneros e formatos, incluindo os da recente produção pernambucana, como “Avenida Brasília Formosa”, de Gabriel Mascaro, e “Dia Estrelado”, curta-metragem em animação de Nara Normande, e outros recentes da produção nacional, como é o caso de “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert, estrelado por Regina Cazé.

Na programação, ainda estão “KBELA”, curta-metragem de Yasmin Thayná que traz o empoderamento da mulher negra, e “A hora da estrela”, filme de 1985 dirigido por Suzana Amaral e protagonizado por Marcélia Cartaxo. “Divertidamente”, animação da Pixar, é um dos títulos incluídos na lista dos filmes internacionais.

“Quando o público se sente representado na tela e as pessoas percebem que aquela realidade pode ser as que ela estão inseridas, o cinema pode ser uma ferramenta de empatia, pode tornar as relações mais humanas, pode quebrar normatividades e mudar realidades. E é isso que queremos fazer”, pontua Travassos. No debate que acontecerá no mês de setembro, o grupo de extensão da Faculdade de Direito do Recife, o Além das Grades, fará uma sessão especial que discutirá sobre o sistema carcerário.

Saiba mais:

Alguns filmes nacionais que retratam a realidade do sistema carcerário brasileiro

- Prisioneiro da grade de ferro, de Paulo Sacramento
- Tropa de Elite 2, de José Padilha

- "Colônia de Férias", de Joelton Ivson e Roberto França (curta filmado no bom Pastor)
- Memórias de um Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos

- O rap do pequeno príncipe contr as almas sebosas, de Marcelo Luna, Paulo Caldas

- Estômago, de Marcos Jorge
- Pátio, de Aly Muritiba