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A arte de viver do trabalho nas alturas

Profissionais que aceitam desafios e percorrem o topo de estruturas urbanas para ganhar a vida e apreciar a paisagem e a sensação de liberdade

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Joel da Silva Arruda é operador de grua. Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press

Eles são donos das melhores vistas de toda a cidade. Profissionais que aceitam desafios nas alturas diariamente percorrem o topo de estruturas urbanas para ganhar a vida, mas também para apreciar a paisagem e a sensação de liberdade. Enquanto muita gente reage à altura com tontura, taquicardia, e até sente a vista escurecer, esses homens-aranhas modernos sentem prazer nas subidas e deixam os olhos bem abertos.

Saulo Santos da Silva, 32, por exemplo, é alpinista industrial. Ele utiliza as técnicas de rapel e escaladas que aprendeu nos treinamentos do exército para limpar vidros e realizar manutenções nos prédios mais altos do Recife. “O edifício mais alto em que trabalhei tinha 42 andares e 126 metros. Era em Boa Viagem, onde a vista é fantástica, mas particularmente eu prefiro trabalhar olhando para Olinda, onde eu moro”, contou. “No começo de um trabalho ainda sinto um frio na barriga, mas no segundo dia já estou acostumado e isso passa. O prazer é tanto que eu topo qualquer rapel em dia de folga!”

Segundo o parceiro de trabalho de Saulo, Juarez de Oliveira, 26, a função de limpador de vidros sempre traz emoções além da altura. “As pessoas assinam um comunicado para garantir que sabem que vamos fazer o trabalho mas muitos ficam em casa sem roupa ou em momentos de muita intimidade. Tem pessoas que continuam fazendo o que estão, mesmo com a gente lá. Aí, nós é que ficamos constrangidos e temos que parar o trabalho”, contou.



Na empresa em que Saulo e Juarez trabalham, a Traver, são cerca de trinta alpinistas. Mercado não falta. Os prédios não param de subir. E a trinta metros acima do topo deles, há sempre um operador de grua, como Joel da Silva Arruda, 45, o Costela. “Nunca tive medo de altura. Eu gosto muito das vistas, principalmente da praia de Boa Viagem. Já comecei alto, trabalhando em fachadas, que ganha até mais. Mas tive alergia a produtos químicos e passei a mexer com a grua. Primeiro sinalizando e, depois de um curso do Senai, passei a opera-la”, explicou.

Escalando um pouco mais baixo, o montador de palco, Alexandro Silva de Aguiar, 30, sobe 17m com naturalidade, escalando e encaixando as estruturas metálicas. “Nunca presenciei um acidente de alguém que trabalha como eu. Por outro lado, lá embaixo as pessoas vivem sofrendo pequenas lesões. Eu acho viver nas alturas é mais seguro”, avaliou. “Já montei o palco para a presidente Dilma em Suape, para Roberto Carlos na Arena Pernambuco. Outra vantagem é que posso conseguir ingressos grátis desses eventos.”

A altura enfrentada por Alexandro é relativamente baixa, mas o trabalho em altura, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é qualquer função exercida dois metros acima do chão. “Todos precisam passar por um treinamento teórico e prático de acordo com a Norma Regulamentadora 35. Além disso, precisam de um exame médico admissional especial”, explicou o auditor fiscal do trabalho Rafael Marques.



No caso de uma queda


Montador de Palco
17m
Chega ao chão em 1,8s
Queda equivalente a ser atropelado por um carro a 66km/h.
Tem menos de 30% de chance de sobreviver


Alpinista Industrial
126m
Chega ao chão em 5s
Queda equivalente a ser atropelado por um carro a 180km/h.
Tem 0% de chance de sobreviver


Operador de Grua
150m
Chega ao chão em 5,5s
Queda equivalente a ser atropelado por um carro a 195km/h.
Tem 0% de chance de sobreviver


As chances de sobreviver a uma queda:


As chances de sobreviver a uma queda dependem de muito muitos fatores. A altura é, claro, o fator mais importante. Cair de um prédio de 70m, por exemplo, é quase uma sentença de morte. Mesmo se a queda for na água,  a chance de sobrevivência é de apenas 2%. Algumas dicas, contudo, podem ajudar a aumentar a probabilidade em favor do trabalhador.

Relaxe o corpo:  Com os músculos relaxados há mais flexibilidade, o que diminui o impacto na coluna e nos órgãos internos.

Amorteça a queda:  Cair em outros locais pode dividir a queda em partes e transformar uma grande queda em várias de menos impacto.

Dobre os joelhos: Diminui em mais de trinta vezes o impacto da queda, mas os joelhoes só podem ser dobrados até a metade do possível.

Caia primeiro com os pés: As pernas absorvem o maior impacto da queda, o que aumenta a chance de sobreviver.

Jogue o corpo para o lado: Depois de tocar o chão, tente cair para o lado  em vez de cair para trás, pois será mais difícil de proteger a cabeça.


Fontes: Federal Aviation Administration; Detran/PR; Hugh DeHaven.