Um retrato das torres do Recife

O olhar mais privilegiado pertence aos pássaros. São eles os verdadeiros donos das paisagens vistas do alto, dos ângulos pouco observados pelos seres humanos, mais presos ao chão pela própria natureza. As igrejas seculares concentradas nos bairros de São José e Santo Antônio, no Centro do Recife, são a prova disso. Subir ao ponto mais alto de uma torre sineira ou mesmo de determinados prédios da capital e até de viadutos é sempre uma experiência visual para quem deseja desbravar a arquitetura religiosa do Recife de cima. As cores e formas de outras tantas torres sineiras, cúpulas e seus detalhes surgem imponentes.

O fotógrafo Bruno Recifense, por exemplo, experimentou imortalizar em uma única imagem a rica arquitetura das igrejas católicas dos dois bairros. O resultado, obtido de um clique feito com recurso de aproximação do alto de um prédio da Rua da Aurora, na Boa Vista, chamou a atenção dos internautas. A imagem, postada em 9 de junho, teve 99 compartilhamentos na página do Facebook do fotógrafo. “Fiz o possível para tirar do cenário as duas torres do Cais de Santa Rita, pois não tinham relação com a foto que desejava fazer. Não porque sou contra a construção. Até acho que elas ajudam a comprovar que estamos no Recife em outras fotos que fiz e as pessoas duvidaram que fosse da capital”, explicou.

Do alto da torre sineira da Igreja do Carmo, no bairro de Santo Antônio, o Diario também experimentou fazer uma imagem das torres das igrejas do alto. Desse ponto é possível descortinar a imponência da Basílica do Carmo, da Penha, além das igrejas São Pedro dos Clérigos, São José, Santo Antônio e Matriz da Boa Vista.

O frei Dácio Santos, da Basílica do Carmo, permitiu o acesso da equipe, mas conta que ele próprio pouco vai até o ponto mais alto do templo por ter medo de altura. “As torres nos dão um referencial, facilitam a identificação das igrejas. Lá de cima é belíssimo”, elogia o frei, logo avisando que não é permitida a entrada de visitantes na torre sineira. Outras imagens foram captadas do alto do Edifício Ouro Branco, no bairro de Santo Antônio.

O arquiteto Jorge Tinoco, do Centro de Estudos Avançados da Conservação Integrada, explica que a altura das igrejas católicas tem relação com a função de chamamento exercida pelos sinos. “Elas eram construídas mais altas para os sinos replicarem mais longe e convidarem as pessoas para as missas”. Tinoco tem mais outra explicação para a imponência dos templos. “A tradição mandava contar sete degraus do rés do chão até o altar como forma de remeter aos sete dias da criação. Tratava-se de uma elevação a Deus. Algumas, no entanto, como a São José do Ribamar, no bairro de São José, foram construídas em áreas alagadiças, em aterros, e por isso são mais elevadas por conta da invasão das águas”.

Uma homenagem à grandiosidade divina. Para o professor e arquiteto José Luiz Mota Menezes, essa é a explicação para a altura dos templos católicos. “A altura das igrejas do Recife se compara com o perfil de outras igrejas do mundo, como a Catedral de Notre-Dame de Paris, uma das mais antigas catedrais francesas em estilo gótico”, explicou.

Saiba mais

Igreja da Penha

Data da construção: século XIX
Altura: 44 metros
 
Igreja Matriz de Santo Antônio

Data da construção: séculos XVIII e XIX
Altura: 36,71 m

Igreja de São Pedro dos Clérigos

Data da construção: século XVIII
Altura: 33,87 m.

Basílica da Penha

Data da construção: final do século XIX (novembro de 1870)
O Iphan não dispõe da altura

Basílica do Carmo

Data da construção: Igreja (séculos XVII e XVIII). Convento (século XVII).
O Iphan não dispõe da altura

Fonte: Iphan