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Mais três vítimas e quatro réus devem depor esta tarde no Fórum Rodolfo Aureliano

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Meninos foram agredidos com cassetetes pelos Policiais Militares. Foto: Júlio Jacobina/DP/D.A Press

Após os depoimentos de cinco adolescentes que sobreviveram à ação policial que culminou na morte de duas pessoas em março de 2006, o juiz Ernesto Bezerra Cavalcanti deu um intervalo de uma hora no processo de julgamento, no Forum Rodolfo Aureliano. Todas as vítimas declararam o mesmo: estavam juntas quando foram abordadas por policiais militares, foram espancadas e obrigadas por PMs armados a entrarem no Rio Capibaribe em baixo da Ponte Joaquim Cardoso e nadarem até o outro lado da margem. Eles também negaram estar realizando arrastões.

O primeiro a falar foi Obernan Santana, na época com 16 anos de idade. Ele disse que foi colocado na mala de uma caminhonete Blazer junto com outros sete adolescentes e ter visto quando um deles, Diogo Rosendo Ferreira, de 15 anos, estava se afogando, acrescentando que tentou salvá-lo sem sucesso. Obernan falou ainda que nenhum deles estaria envolvido em crimes.
[SAIBAMAIS]
Segundo a depor, Douglas Lima, que inha 16 anos na ocasião, acrescentou que quando o grupo ainda estava na viatura ouviu o rádio informar que outros policiais já haviam identificado e apreendido os jovens que estariam realizando os arrastões e que eles deveriam ser liberados. No entanto, segundo ele, apesar disto, os adolescentes foram espancados e obrigados a nadar no rio. Douglas disse ainda que só após todos começarem a nadar, os PMs deixaram o local e que eles foram ajudados, já do outro lado da margem, por uma senhora que morava nas proximidades.


Os outros a falar foram: Marcos Vinícius de Souza, na época com 14 anos; Alexandro Pereira de Carvalho, com 16 anos e o irmão dele, Emerson Pereira de Carvalho,que tinha 15 anos. Outros três adolescentes serão ouvidos à tarde. Em seguida, prestarão depoimetos os quatro réus: Aldenes Carneiro da Silva (sargento), José Marcondi Evangelista (soldado), Ulisses Francisco da Silva (soldado) e Irandi Antônio da Silva (soldado).

O tenente da Polícia Militar Sebastião Antônio Félix não será julgado nesta quarta-feira, junto aos outros quatro policiais militares acusados de obrigar um grupo de adolescentes a pular no rio, no carnaval de 2006, matando dois deles por afogamento. Os advogados do réu, Luis Carlos Alves da Silva e Fábio Almeida Vasconcelos, renunciaram ao caso e o novo advogado, constituído hoje, Émerson Leônidas, alegou falta de condições de fazer a defesa por desconhecimento do processo. Como o Ministério Púlico não se mostrou contrário, o julgamento dele foi remarcado para o dia 14 de julho.

O oficial, que não foi excluído da corporação e compareceu fardado, falou à imprensa. Segundo ele, os adolescentes estariam realizando arrastões e agredindo pessoas. O tenente acrescentou que os PMs tiraram os suspeitos do Recife Antigo, mas como não poderiam deixá-los em Afogados, que seria fora da jurisdicação do 16º Batalhão, os teriam deixado em Joana Bezerra. Felix negou ter mandado espancar os adolescentes ou mandá-los entrar no rio. "Estava comandando mais de cem policiais. Não posso me responsabilizar pelas atitudes de outras pessoas", disse, permanecendo no local para acompanhar o julgamento. No entanto, o promotor do caso, André Rabelo, afirmou que o tenente comandou operação até a Ponte Joaquim Cardoso, onde os adolescentes foram mortos e espancados.

Para o promotor André Rabelo, as provas são consistentes:"Os corpos dos dois que morreram, os corpos das vítimas sobreviventes provam as agressões, os depoimentos dos próprios acusados, quando uns atribuem os crimes aos outros, os depoimetos das próprias vitimas, tudo são provas conscientes. São os depoimentos de todas as testemunhas: de quem particippu, de quem foi vítima, de quem presenciou. Não há uma previsão legal, mas é claro que todos os cinco praticaram o mesmo ato, cada um teve uma atitude diferente e vão responder na medida da sua culpabilidade", explicou.

O pai de Nizeal, Israel Ferreira da Silva, sargento reformado da PM, também acompanha o julgamento. "Eles enquanto policiais não poderiam ter feito o que fizeram. Se os meninos estivessem fazendo algo errado, o certo seria levá-los para a delegacia", acrescentou. As mães de Zinael José Souza da Silva, 17, e Diogo Rosendo Ferreira, 15, chegaram ao fórum vestindo camisas com as fotos dos filhos.Temendo represálias, elas pedem para não terem os rostos fotografados. Os familiares estão confiantes na condenação.