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Instrumento musical raro se desgasta abandonado em hospital na Tamarineira

Órgão de alto valor histórico, serafina está abandonada no antigo Hospital Ulysses Pernambucano, na Tamarineira, sem previsão de restauro

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O órgão de fole sucumbe ao esquecimento e à ação das polias nas dependências do antigo Hospital Ulysses Pernambucano, na Tamarineira.


Um instrumento musical raro e de grande valor histórico sucumbe ao esquecimento e à ação das polias nas dependências do antigo Hospital Ulysses Pernambucano, na Tamarineira, no Recife. Trata-se de uma serafina, um tipo de harmônio, também conhecido como órgão de fole. Não há notícias do uso dele na unidade de saúde há pelo menos duas décadas.

O instrumento deteriora-se no primeiro andar do prédio, onde ficavam os aposentos das freiras da Santa Casa de Misericórdia. As religiosas dirigiram por muitos anos o hospital dedicado ao tratamento de pessoas com doenças mentais. Junto à serafina também estão acomodados um guarda-roupas e uma cômoda antigos que pertenceram às freiras.

O Diario identificou o nome verdadeiro do instrumento com a ajuda de especialistas em restauração. No hospital, os funcionários acreditavam que tratava-se de um órgão. Nunca tinham ouvido falar na serafina. A pouca informação que circulava sobre o harmônio no hospital também é imprecisa. “Cheguei aqui há 20 anos para trabalhar como psicóloga e ele já existia. Acredito que era usado pelas freiras na capela do hospital”, disse a diretora, Bemvinda Magalhães.

[SAIBAMAIS] Leandro Avelino, especialista em restauração de pianos, avaliou minuciosamente o equipamento. “Era um instrumento portátil, fácil de ser transportado nas igrejas, diferentemente dos grandes órgãos de tubo”, contou. Pensado para uso doméstico, tornou-se típico de igrejas.
Triste, Leandro percebeu a ausência total do som, além da presença agressiva da polia. O inseto tomou praticamente toda a madeira de carvalho do instrumento, movido por pedais. O apoio das partituras também foi encontrado quebrado dentro do harmônio.

“Acredito que ele já foi restaurado de forma precária alguma vez, pois o teclado está todo numerado, uma forma de evitar a troca na recolocação das peças”, acrescentou Leandro. Outro sinal da preciosidade do instrumento são as teclas, feitas em marfim, material que não é mais utilizado. “Não consigo calcular o valor financeiro dele, mas o valor sentimental é incalculável. É um instrumento em extinção. Imagino que ele tem pelo menos 100 anos de existência”, completou.

Todos os Anexos O restaurador Noé Ramos, recifense de 72 anos que mora no Rio de Janeiro, é especialista em recuperação de serafinas. Ele também avaliou o instrumento a partir de uma foto. “Aprendi a trabalhar com uma serafina desse tipo. É raríssima e gostaria de reformar, pois tem um valor histórico importantíssimo”, comentou. Uma inscrição no antigo móvel aponta que a serafina foi feita em Paris, na fábrica Alexandre Pàre et Fils, fundada em 1829.