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Conselho Nacional de Justiça decidirá se psicólogos poderão utilizar Constelação Familiar; entenda

A prática pode ser proibida pelo Conselho Nacional de Justiça nesta terça-feira (12)

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Foto: Freepik
O Conselho Federal de Psicologia conclui que a prática é incompatível com o exercício da psicologia

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decide nesta terça-feira (12), se psicólogos de todo o Brasil poderão continuar utilizando a Constelação Familiar em suas consultas. Esta é uma prática considerada terapêutica que tem como objetivo resolver conflitos familiares que atravessam gerações e pode ser feita em grupo ou individualmente. No entanto, a Constelação Familiar não é considerada uma abordagem da psicologia e não é aprovada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP).

Em março deste ano, o conselho se posicionou sobre a prática através da Nota Técnica 01/2023. No documento, o conselho conclui que a prática é incompatível com o exercício da psicologia, sob a alegação de inconsistência científica e epistemológica das Constelações Familiares.

Além disso, o CFP também encaminhou um ofício ao Conselho Nacional de Justiça e outros órgãos de governo, recomendando que as Constelações Familiares sejam banidas do Poder Judiciário pelos mesmos motivos. Entre os principais argumentos do conselho estão:
  • A Constelação Familiar não reconhece modelos de famílias afetivas e não biológicas;
  • A prática fortalece o patriarcado e a dominação de homens sobre mulheres e sobre os filhos;
  • A Constelação Familiar promove uma naturalização de lugares fixos dos componentes familiares, deixando de considerar fenômenos psíquicos e sociais e relações de poder, o que não permitiria transformações sociais.
  • Naturaliza a desigualdade de gênero em relações conjugais e familiares e serve de base para a exclusão de múltiplas configurações familiares;
Diante deste cenário, psicólogos que utilizam a Constelação Familiar em suas sessões decidiram se unir para formar o movimento #SoudaConstelação e elaboraram uma Nota Técnica de Impugnação, com mais de 66 páginas, refutando os argumentos do conselho. 

“As Constelações Familiares têm evidências científicas já produzidas, com mais de 8.100 estudos publicados em diversos meios acadêmicos e científicos, já são objeto de revisões sistemáticas que confirmam a validação terapêutica da técnica, com rigor científico. Algumas dessas pesquisas se basearam, inclusive, em estudos randomizados, confirmando o caráter científico das constelações, quanto a seus resultados que promovem a cura de doenças, a solução pacífica de conflitos e o bem estar geral e emocional dos pacientes que se submeteram a ela”, destaca a psicóloga Maria Izabel Rodrigues, que trabalha há 20 anos com a prática.

De acordo com a nota técnica feita pelos psicólogos que utilizam a Constelação Familiar, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), há registros de que, desde 2018, houve atendimentos com Constelações envolvendo mais de 25.000 pacientes. 

Sobre a Constelação Familiar

As Constelações Familiares são uma técnica rápida por meio da qual busca-se a raiz hereditária e causas para os conflitos, dores e sofrimentos humanos. Essa técnica, baseada numa filosofia desenvolvida pelo alemão Bert Hellinger, vem sendo utilizada em áreas muito distintas do conhecimento, como a Medicina, a Pedagogia e no âmbito das organizações.

É utilizada também no âmbito do Poder Judiciário para mediar conflitos, como meio alternativo para a busca da justiça, além de consultórios e outros tipos de atendimentos em todo o Brasil e no mundo.

A partir dos efeitos ou experiências negativas relatados pelas pessoas a constelação leva o indivíduo até a causa, permitindo que a pessoa  ressignifique a experiência, a partir da história que constitui a vida de cada um.

A Constelação Familiar não é uma abordagem da psicologia e é “baseada num campo multidisciplinar e que toca pontos da psicologia mas com ela não se confunde”, segundo a psicóloga Maria Izabel Rodrigues.

Como funciona?

A psicóloga Maria Izabel Rodrigues explica que “o paciente leva o problema que está vivenciando até um profissional facilitador de constelações familiares que pode se utilizar de vários métodos para a aplicação da prática das constelações familiares”.

Originalmente, tal qual desenvolvida por Bert Hellinger, o facilitador leva o cliente a uma roda de pessoas que participam da prática e pede para que o cliente escolha um representante para ele mesmo e para as pessoas envolvidas na questão que o cliente está trazendo. Esses representantes ficam no centro do círculo e passam a relatar o que estão sentindo, no lugar da pessoa representada, sob orientações do profissional que facilita a constelação.

Conforme os relatos dos representantes, as histórias e a causa que estão gerando o problema são identificadas. Nesse momento, feito o diagnóstico da causa de origem, o profissional que facilita a constelação, por meio das chamadas frases de solução, leva o cliente a ressignificar o problema, atuando sobre a causa.

Há outras metodologias para os representantes, como uso de bonecos, âncoras ou elementos que permitam que o cliente posicione em seu campo de visão as imagens internas que projeta na vida e que gera os problemas e sintomas.