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Filiação de Bolsonaro rompe alianças do PL com aliados nos estados

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Atualmente, a previsão do presidente Jair Messias Bolsonaro, ainda sem partido para as próximas eleições, e seus apoiadores, é que o mandatário se filie ao PL no próximo dia 30 de novembro. Anteriormente adiada, a filiação teria sido adiada devido a discordâncias do chefe do Executivo em relação a alianças que a sigla tinha em alguns estados. 

Buscando garantir a entrada do presidente no partido, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, decidiu romper acordos já firmados com o governador de São Paulo, o tucano João Doria, e com o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, vice-presidente do União Brasil (sigla nascida da fusão entre PSL e DEM). 

ACM Neto e João Doria

Ao governador (e presidenciável disputando as prévias) João Doria (PSDB), Valdemar Costa Neto, aliado dos tucanos na Assembleia Legislativa de SP, prometeu apoiar a campanha de Rodrigo Garcia (PSDB), atualmente seu vice, ao governo do Estado. 

Contudo, Doria e Bolsonaro tornaram-se inimigos políticos e uma das exigências do presidente para sua filiação ao PL foi que a sigla não desse nenhum tipo de apoio ao candidato do PSDB no pleito de 2022. 

O desejo do presidente é viabilizar o nome de seu então ministro do Turismo, Tarcísio de Freitas, como candidato ao governo de São Paulo. Até o momento, Tarcísio resiste à ideia e, paralelamente, Valdemar afirma que apoiará o projeto de Bolsonaro em São Paulo. 

"Foi discutido, sim, com Valdemar Costa Neto e com o próprio Tarcísio. Essa é uma possibilidade", disse Bolsonaro à Rádio Sociedade da Bahia. "Não temos nomes para todo o Brasil, mas buscaremos a melhor maneira possível de coligar nomes que interessem para os respectivos estados", concluiu o presidente, que também deseja ver o nome de seu ex-ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, inserido na chapa de São Paulo como candidato ao Senado.

ACM Neto, além de vice-presidente do União Brasil, também é, no momento, pré-candidato ao governo da Bahia, tendo como principal oponente petista Jaques Wagner. ACM contava com o apoio do PL, tendo se encontrado com Valdemar Costa Neto meses atrás para fechar a aliança. No entanto, após a conversa com Bolsonaro, o presidente do PL decidiu apoiar João Roma, atual ministro da Cidadania, que já aliado de Neto, mas ambos romperam a relação que tinham quando o Republicano decidiu entrar para o Governo Federal como ministro. 

O Republicanos, contudo, ainda não está certo quanto ao lançamento do nome de João Roma, uma vez que ainda cogita uma aliança com ACM Neto, o que inviabilizaria a candidatura do atual ministro a outro cargo, como o de senador, por exemplo. 

Agora, o ministro da Cidadania conversa com Valdemar Costa Neto e cogita mudar para o PL. Outros ministros, como Onyx Lorenzoni (Trabalho) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), também devem se filiar à sigla para concorrer ao Senado no Rio Grande do Norte (Marinho) e ao  governo do Rio Grande do Sul (Onyx).

Além de já ter chamado Bolsonaro de “radioativo”, ACM Neto vinha fazendo um aceno a Valdemar, articulando o apoio do Uniçao Brasil à reeleição do governador Cláudio Castro (PL) no Rio de Janeiro. Contudo, diante da quebra de acordos, Neto agora ameaça proibir que membros de seu novo partido declarem apoio a Bolsonaro, se o presidente de fato atrapalhar seus acordos políticos.

Veto a alianças com a esquerda 
 
Nesta quinta-feira (25), em entrevista concedida à Rádio Sociedade da Bahia,  Bolsonaro afirmou que todos os acertos foram fechados com Valdemar, e que não admitiria nenhuma aliança entre o PL e partidos de esquerda nos estados. "Foi acertado aqui [com Valdemar], não haverá qualquer coligação com partido de esquerda nos estados, isso está definitivamente acertado", disse o presidente.

O PL tinha, além das alianças com Doria e ACM, acordos com algumas legendas de esquerda, inclusive com o PT, em alguns estados da região Nordeste, como no Piauí, por exemplo, onde o desconforto com as exigências é tão grande que o deputado federal Fabio Abreu (PL-PI) afirmou, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo que “com certeza" deixaria a sigla caso não tenha autonomia para apoiar o grupo político do governador Wellington Dias (PT-PI), que pretende indicar seu secretário de Fazenda, Rafael Fonteles (PT), para lhe suceder. 

Vale ressaltar que a filiação do presidente ao PL chegou a ser marcada para o dia 22 de novembro, quando o mandatário afirmou que sua ida ao partido estava “99%” fechada, e o motivo do adiamento foi justamente o impasse nos palanques estaduais, com ênfase a São Paulo e aos estados nordestinos onde há alianças com grupos de esquerda. 

Na última semana, Valdemar se articulou com diretórios estaduais do partido e conseguiu liberdade total para conduzir as negociações com Bolsonaro, revendo posteriormente, se necessário, acordos já firmados, abrindo, assim, caminho para voltar a negociar com o presidente. 

Pernambuco

A situação política em Pernambuco era difícil no que diz respeito à busca de Bolsonaro por um partido desde a época em que ele ainda considerava o PP como uma possibilidade, visto que a legenda faz parte da Frente Popular, grupo político do PSB no estado, de onde os membros da sigla não desejavam desembarcar, nem a tolerar ataques a políticas do prefeito do Recife, João Campos (PSB), em nome da defesa de atos de Bolsonaro, o que gerou problemas para a vereadora Michele Collins. 

Com o martelo batido para a filiação de Bolsonaro ao PL, o “pepino” mudou de mãos e foi o grupo político do atual prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL), que passou a ter problemas no que diz respeito à condução de alianças no estado. 

Membro do movimento de oposição “Levanta Pernambuco” que engloba, além do PL, siglas como o PSDB, Cidadania e PSC, Anderson chegou a viajar a Brasília, onde ele e seu irmão, o deputado federal André Ferreira (PSC), se reuniram com Valdemar Costa Neto para debater o problema. 

Como resultado, Anderson, que também é presidente estadual do partido, obteve um comunicado oficial da sigla, assinado por Valdemar, garantindo sua autonomia no processo de composição de chapas proporcionais e majoritárias em Pernambuco. 

O Diario de Pernambuco entrou em contato com o prefeito e também com sua assessoria de imprensa em busca de uma entrevista, com o objetivo de questionar se houve alguma mudança provocada pelos acordos firmados entre Bolsonaro e Valdemar nesta semana, mas até o momento não recebemos resposta. Procuramos, ainda, a equipe de comunicação de ACM Neto em busca de mais informações sobre o imbróglio causado pela filiação do presidente da República ao PL, mas também não tivemos retorno até o momento da publicação desta reportagem.